Anulada a visita do Papa Bento XVI à Universidade La Sapienza de Roma, programada para a próxima quinta-feira, dia 17, por ocasião da inauguração do ano acadêmico, e que motivou uma onda de protestos de professores e estudantes, informou hoje o Vaticano em nota oficial.

“Devido ao caso bem conhecido em relação à visita do Santo Padre à Universidade La Sapienza, que, a convite do Reitor Magnífico, seria realizada em 17 de janeiro, considerou-se oportuno adiar o evento. O Santo Padre enviará, de todos os modos, o discurso previsto”, afirmou o Escritório da Imprensa da Santa Sé.

Um grupo de 67 professores tinha pedido a anulação da visita por considerar o Papa um “obscurantista” e por “ter dito, em 1990, que o processo da Igreja contra Galileu tinha sido razoável e justo”. Grupos de estudantes tinham convocado manifestações de protestos para a próxima quinta-feira.

O Papa se limitará a enviar o texto do discurso que havia programado pronunciar em uma das universidades mais antigas do Velho Continente. Trata-se da primeira vez que, durante seu pontificado, iniciado em 2005, Bento XVI se vê obrigado a desistir de participar em um ato público pelos protestos e polêmicas que suscita.

Estudantes realizam paralisação contra discurso do papa

Estudantes italianos realizaram uma paralisação na terça-feira a fim de protestar contra os planos do papa Bento 16 de discursar na universidade mais famosa de Roma nesta semana.

A manifestação mais recente soma-se a várias que dividiram o país. O Vaticano afirmou que o pontífice faria um pronunciamento na universidade La Sapienza na quinta-feira, apesar dos protestos, classificados por pessoas da Igreja e de fora dela como uma tentativa de censura.

A polêmica começou com a assinatura de uma carta por 67 professores que descreveram o papa como um teólogo retrógrado responsável por colocar a religião antes da ciência. Segundo os professores, Bento 16 não deveria ter autorização de discursar.

A carta destacou um pronunciamento feito 20 anos atrás por Joseph Ratzinger (hoje papa Bento 16) e no qual o religioso justificaria o julgamento por heresia lançado pela Igreja no século 17 contra Galileu porque o pesquisador defendia que a Terra girava em torno do Sol. Os aliados do pontífice negam isso.

“Eu acho que a visita do papa não é algo positivo porque a ciência dispensa a religião. A universidade é um lugar aberto a todas as formas de pensamento. Mas a religião não é”, afirmou Andrea Sterbini, professor de ciência da computação e um dos signatários da carta.

Ainda assim, o debate colocou alguns aliados inesperados ao lado do papa. Dario Fo, vencedor do Prêmio Nobel e um crítico contumaz da Igreja, defendeu o direito do papa de discursar. “Sou contra qualquer forma de censura porque o direito à livre expressão é sagrado”, afirmou o escritor ao jornal La Repubblica.

Os protestos ampliaram-se para incluir italianos —alguns dos quais integrantes do atual governo— que reclamam do peso excessivo da Igreja Católica dentro da sociedade italiana.

“Ninguém deseja calar o papa ou tentar negar-lhe o direito de expressão”, afirmou Emma Bonino, ministra italiana de Assuntos da União Européia e membro do partido secular Rosa em Punho. “Acho preocupante o quadro com que nos deparamos hoje: o único que tem espaço para falar, a qualquer hora, é o papa.”

Alguns estudantes, que lançaram uma semana “anticlerical” antes do discurso do papa, dizem que o sistema de educação superior precisa ser secular. Os estudantes ocuparam a reitoria para terem o direito de realizarem manifestações dentro da universidade quando da visita do papa.

“O papa fez de La Sapienza uma refém. Libertem os pensadores”, afirmava uma faixa exibida pelos estudantes.

Os aliados de Bento 16 observaram que os manifestantes eram minoritários. Autoridades de La Spienza, fundada por um papa 705 anos atrás, destacaram o fato de haver 5.000 professores na instituição de ensino — dos quais apenas 67 assinaram a carta. “Eu realmente não entendo o porquê desse protesto. O papa é uma pessoa como outra qualquer que virá para conversar com a gente”, disse o estudante de física Federico Magni à Reuters.

Fonte: EFE e Reuters

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