Atriz Sheron Menezzes interpretou a personagem evangélica Sol na novela
Atriz Sheron Menezzes interpretou a personagem evangélica Sol na novela "Vai na Fé" (Foto: Montagem/FolhaGospel)

A TV Globo está mudando o posicionamento histórico e sinalizando aos evangélicos. Com as recentes decisões de bloquear histórias e sequências consideradas contrárias às crenças religiosas, a emissora tenta atrair o público, mas até agora não encontrou o apoio dos protestantes. Embora os principais líderes vejam interesse na proximidade, as atitudes são vistas com cautela.

Um dos primeiros passos da gestão da Globo em favor do estreitamento das relações com os evangélicos brasileiros veio com o anúncio da novela Vai na Fé, na qual apareceria a primeira evangélica da história do canal. A trama popularizou-se e não foi ignorada pela parcela evangélica da população, embora tenha recebido críticas.

Para os líderes evangélicos, as críticas foram porque a novela mostrava outra religião, desta vez de origem africana. Além disso, um relacionamento lésbico no meio da trama causou alvoroço com cenas precisando ser retiradas e o final editado, o que chamou a atenção do público. Mesmo assim, a direção da novela afirma que o saldo final foi positivo.

Depois vieram outros sinais. A direção da emissora, por meio de Amauri Soares, diretor de entretenimento, alertou seus autores que não aprovaria nenhum resumo de produções espíritas nos próximos anos, bloqueando a possibilidade de um remake de A Viagem, um dos maiores sucessos do canal.

A decisão de substituir o padre, figura icônica de Renascer (1993), por um pastor evangélico, mesmo sendo de Bruno Luperi, responsável pelo remake, também entrou no sinal de paz que a Globo quer promover entre os evangélicos.

Intolerância religiosa

Líderes de religiões de matriz africana fizeram uma denúncia ao MPF (Ministério Público Federal) para que o órgão governamental investigue se a TV Globo comete intolerância religiosa em novelas da emissora. Segundo eles, isso ocorreria especialmente por ordem do diretor da TV e dos Estúdios Globo, Amauri Soares.

As identidades dos denunciantes solicitaram sigilo, mas a principal motivação do pedido de investigação se originou de uma reportagem que sugeria que a emissora tivesse abandonando roteiros com temática espírita, direcionando os investimentos para tramas com cunho evangélico.

De acordo com os denunciantes, os autores das novelas da Globo foram instruídos por Amauri Soares a explorar enredos evangélicos, uma vez que esta parcela da população estaria crescendo e se tornando o principal grupo religioso do país. Tal decisão, segundo ele, traria de volta à audiência que se perdeu ao longo dos últimos anos.

Essas informações motivaram o pedido de investigação no Ministério Público Federal. O fato ocorreu em 27 de setembro.

Globo de olho no “Brasil evangélico”

O aceno faz sentido. Embora o censo de 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) não tenha fornecido dados sobre religião, estudos sugerem que o país tem entre 60 e 70 milhões de evangélicos, muito mais do que 43 milhões em 2010. Isso ainda classifica o protestantismo como a segunda religião do país, atrás do catolicismo.

Mas há quem acredite que haverá uma reviravolta. Para os pastores, até 2050 o Brasil será um país evangélico, o que significa que mais de 50% da população fará parte desta fé. Porém, segundo a FGV (Fundação Getúlio Vargas), dados recentes mostram que a partir de 2020 o crescimento evangélico está estagnado e em alguns casos em declínio.

O site NaTelinha, do portal UOL, ouviu de alguns líderes cristãos influentes e considerados estrelas do cenário gospel brasileiro que o movimento é importante, mas é cedo para tratar a Globo como uma aliada do cristianismo. Segundo eles, a produção deve passar pelo crivo da fé cristã e, nas palavras deles, “deixar de mostrar o que há de pior no ser humano” para que realmente haja proximidade.

Para eles, este é um desenvolvimento importante, muito diferente do que aconteceu nos anos 90. Naquela época, a emissora era considerada inimiga da religião e fazia extensas reportagens denunciando o charlatanismo. Em 2000, o canal passou a aceitar cantoras gospel como Ana Paula Valadão e Aline Barros, que foi a primeira a ter trilha sonora religiosa em novelas com Duas Caras (2007).

Contudo, os personagens evangélicos sempre foram considerados caricaturas e alvos de críticas. Como Creuza de América (2005) e o próprio núcleo evangélico de Duas Caras. No mesmo período, o canal marcou mais uma vez com a criação do festival Promessas, que acabou não tendo continuidade quando, no início do governo de Jair Bolsonaro, cantores gospel começaram a acusar a TV Globo de ser “comunista” e violar os preceitos cristãos.

Internamente, a direção da Globo quer atrair um público evangélico e não quer ser vista como “anticristã”. Porém, não há indícios de que a programação abrirá mão de seus valores em defesa de direitos ou censura para histórias ou cenas mais quentes.

Fonte: Na Telinha – UOL, O Noticiado e F5

Comentários