O polêmico arcebispo emérito de Lusaca (Zâmbia), Emmanuel Milingo, 76, excomungado na terça-feira pelo Vaticano ao lado dos quatro sacerdotes casados que foram ordenados bispos há alguns dias, rejeitou a medida e disse que “a devolve ao Vaticano” para que seja “reconsiderada”.
“Eu fui consagrado bispo pelo papa João Paulo 2º e consagrei bispos cuja nomeação era válida e lícita”, afirmou Milingo, dizendo que seu propósito é “reformar a Igreja Católica e o sacerdócio com matrimonio”, dizendo que o celibato já causou “muitos danos” à instituição.
As declarações foram as primeiras dadas por Milingo após o anúncio de excomunhão feito ontem pelo Vaticano. Um dos sacerdotes casados que foram ordenados, Peter Brennan, de Nova York, afirmou que há no mundo todo mais de 125 mil sacerdotes casados.
Segundo ele, ao mesmo tempo em que tais sacerdotes são rejeitados pela igreja, há uma escassez de padres que poderia deixar a igreja sem sacerdotes em um prazo de 20 anos.
“O matrimônio é um sacramento e uma vocação mais forte que o celibato”, acrescentou.
Milingo defende a mesma idéia por meio da organização que fundou em julho último, chamada “Married Priests Now!” (Padres Casados Já). Seu caso reavivou a polêmica em torno do celibato exigido pela igreja católica para o sacerdócio.
Segundo fontes religiosas, há ao menos 100 mil sacerdotes casados no mundo –20 mil nos Estados Unidos, 10 mil na Itália e 6.000 na Espanha.
Exorcismo
Milingo ganhou fama em todo o mundo devido aos rituais de exorcismo que protagonizava na TV, que atraíram milhares de fiéis às suas missas. Ele também gravou discos e cantou em emissoras de TV em todo o mundo.
Seu nome voltou às manchetes de jornal em maio de 2001, quando ele se casou com a médica coreana María Sung em um hotel de Nova York.
O matrimônio, realizado pelo reverendo Moon, fundador da seita de mesmo nome, causou escândalo no Vaticano, que ameaçou punir com a excomunhão o padre “rebelde”.
Excomunhão
Na decisão divulgada na terça-feira, o Vaticano afirma que o artigo 1.382 estabelece que “o bispo que confere a alguém a consagração episcopal sem mandato pontifício, assim como o que recebe dele a consagração, incorrem em excomunhão latae sententiae reservada à Sede Apostólica”.
O comunicado ressaltou “a paciência” mostrada pelo papa com o “idoso pastor da igreja” e ressaltou que “infelizmente” os passos que deu o levaram a uma “progressiva” ruptura com a igreja, “primeiro com o casamento e depois com a ordenação de quatro bispos em 24 de setembro em Washington”.
Diante desta situação, o Vaticano considerou que Milingo e os quatro ordenados incorreram na excomunhão automática.
Além disso, a Santa Sé afirmou que a igreja não reconhece estas ordenações, nem as que possam derivar das mesmas, e afirmou que o estado canônico dos quatro bispos é o mesmo no qual se encontravam antes da ordenação.
Fonte: Folha Online