Pastor Ariovaldo Ramos

Em entrevista à Folha de São Paulo, o pastor Ariovaldo Ramos, líder da Comunidade Cristã Reformada, declarou sua intenção de formar uma bancada evangélica formada por religiosos que seguem a cartilha progressista da esquerda política.

Rotulado de comunista pelos seus desafetos, Ariovaldo Ramos, 62 anos, diz que se tem um rótulo que ele aceita de bom grado é o de progressista.

Hoje, ele é uma das grandes vozes à esquerda no meio evangélico e líder da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito —que, segundo ele, está em 20 estados e agrega mais de 10 mil membros.

Não é gratuito o uso da preposição “de” no nome do movimento. “É para diferenciar da frente evangélica”, diz. Refere-se à bancada de congressistas que ele define como “lamentável, para ser bondoso, porque fez todas as escolhas possíveis contra pobre, minorias, mulher, trabalhador”.

Dela vêm pastores como o deputado Marco Feliciano (Podemos-SP) e o senador Magno Malta (PR-ES), potencial vice de Jair Bolsonaro (PSL-RJ). Gente que “diz que fala em nome dos evangélicos” mas, para Ariovaldo, passa longe da unanimidade entre os 70 milhões de brasileiros que confessam essa fé, 32% da população.

Crítico da banda evangélica cada vez mais posicionada à direita, a ideia de Ariovaldo Ramos é conseguir eleger representantes que estejam ligados às pautas progressistas. Na visão dele, os parlamentares evangélicos fazem “todas as escolhas possíveis contra pobre, minorias, mulheres e trabalhador”.

A representação evangélica em Brasília, em sua opinião, está mais interessada em “impor o moralismo fundamentalista sobre a nação, fazer uma ruptura com o Estado laico”, do que pregar os ensinamentos de Jesus.

Seu bloco tem integrantes acampados em Curitiba por Lula. Por chamar de golpe o impeachment de Dilma Rousseff e o encarceramento de Lula, o pastor amealhou inimizades em seu meio.

Um dos canais que usa para se manifestar é a Mídia Ninja. Para o projeto alinhado à esquerda escreveu a coluna “Pobre Elite Branca”, crítica a um artigo de 2013 de Ives Gandra da Silva Martins.

Nele o jurista diz: “Hoje, tenho eu a impressão de que no Brasil o ‘cidadão comum e branco’ é agressivamente discriminado […] pela legislação infraconstitucional, a favor de outros cidadãos, desde que eles sejam índios, afrodescendentes, sem terra, homossexuais ou se autodeclarem pertencentes a minorias submetidas a possíveis preconceitos”.

Rebateu o pastor: “O que este advogado não entende, ou melhor, não quer entender, é que, graças à injustiça que há no Brasil, ele e a classe que ele representa é que vivem com a dignidade e qualidade que todo cidadão deveria viver”.

Se a direita emplacou seus evangélicos em Brasília, e tem planos de ampliar ainda mais seu feudo parlamentar, está na hora do seu lado fazer o mesmo, diz Ariovaldo.

“O papel da igreja é ser a consciência do Estado, não almejar poder”. Ao mesmo tempo… “Queremos uma bancada do bem, porque a do mal, já estamos cansados dela.” Ele afirma que o voto será uma sugestão, e não uma imposição. “Não acreditamos no voto de cajado, ‘irmão vota em irmão’.”

Ariovaldo se tornou cristão em 1968, quando a ditadura instaurou o AI-5. Ele era então um guri de 12 anos e, na adolescência, o máximo de guerrilha que fez foi “passar folhetinhos que chegavam escondidos, notícias de ações revolucionárias”, entre coleguinhas da escola.

Já feito pastor, virou expoente da Teologia da Missão Integral, que pareava com a católica Teologia da Libertação em termos de posicionamento ideológico à esquerda (mas a evangélica, diz Ariovaldo, não enveredou “pela via revolucionária de viés marxista”).

Apesar de ser de esquerda, seu alinhamento a causas da esquerda não é incondicional. Ariovaldo acha que a comunidade LGBTQ “deve ser respeitada em suas escolhas, mas não tem direito de influenciar a teologia” —que é “muito clara ao dizer que há dois gêneros”, masculino e feminino.

Fonte: Folha de São Paulo

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