Pastor e deputado federal Silas Câmara, eleito presidente da bancada evangélica em 2019
Pastor e deputado federal Silas Câmara, eleito presidente da bancada evangélica em 2019

O deputado federal Silas Câmara (Republicanos-AM), presidente da Frente Parlamentar Evangélica, afirmou que o grupo é contra discutir a abertura de cassinos no Brasil e qualquer tipo de liberação da jogatina, e ponto final.

“O nome já diz: jogos atraem azar para a nação, além de ser em abominação aos olhos do Senhor nosso Deus”, afirma o deputado Silas Câmara (Republicanos-AM) à Folha de S. Paulo.

Muitos dos integrantes do bloco, a começar por seu próprio líder, fazem parte do grupo congressista conhecido como centrão —justamente o que tenta convencer Jair Bolsonaro a apoiar projetos de lei que discutem a regulamentação dos jogos no país. 

O presidente, que já tinha adotado posição ambígua no passado, disse a interlocutores que sondaria os humores da bancada evangélica, sua forte aliada, para o tema. 

A ideia entusiasma sua equipe econômica, mas ele ainda titubeia. Na campanha eleitoral, não descartou o debate: “Há a possibilidade, eu digo uma possibilidade, de jogar para cada estado decidir. Em princípio sou contra, mas vamos ver qual a melhor saída”.

A frente evangélica respondeu com uma nota em que reforça sua disposição a não deixar passar nenhum projeto de lei pró-jogo. Hoje, segundo seu presidente, a coalizão evangélica tem 22% da Casa: 112 expoentes (número que varia de acordo com suplentes que entram e saem quando deputados se ausentam e voltam).

“Todas as bandeiras da frente são pró-vida, família, princípios cristãos, e contra vício, drogas, aborto, suicídio, automutilação. Tudo o que te falei tem a ver com jogos de azar”, diz Silas, que também é pastor da Assembleia de Deus.

“Eles primeiro tiram o que a pessoa tem de luxo na mesa. Ela comia arroz, feijão, bife e depois uma sobremesa, uma fruta. Aí o cara começa jogando e, daqui a pouco, tira a pera, a uva. Logo tira comida. Depois abandona a família, tá endividado, na sarjeta. Como perdeu tudo, mete uma bala na cabeça e se suicida.” Também cita a corrupção que circula num meio que, afirma, é superpovoado por dinheiro sujo, droga, bandidagem. 

Sem mencionar qual, menciona um estudo que apontaria: para cada dólar que a economia de Las Vegas ganha, gasta US$ 3 com a “desgraça da periferia, porque no centro tudo é muito bonito, mas na periferia só tem desvalidos, coitados, envolvidos com tudo o que não presta”. Diz Silas: “Jogos de azar geram mais desgraça que resultado. Não é verdade que gera mais divisas”.

Já o prefeito do Rio, Marcelo Crivella, colega no Republicanos e bispo licenciado da Igreja Universal, faz lobby pela aprovação de projetos para voltar com os jogos no Brasil, banidos há 73 anos. Assim, poderia implantar um cassino na cidade.

Isso atrairia milhões de turistas e bilhões de reais ao país, disse à reportagem em entrevista de dois meses atrás. “Agora, você pergunta: mas você é evangélico… Sou prefeito da cidade. Quem acha que é pecado não joga.”

Sua própria igreja já atacou a causa. Em 2017, o jornal da Universal publicou a reportagem “Uma Aposta Furada”, com histórias de quem se deixou cair em tentação e perdeu tudo na jogatina.

Historicamente, evangélicos orientam fiéis a não jogar com dois argumentos mestres, afirma o pastor Valdinei Ferreira, da 1ª Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo.

“1) A disciplina protestante no uso do dinheiro. A ideia do dízimo se faz acompanhar da gestão do dinheiro e se opõe à ideia do ganho fácil pela aposta em jogo. Dinheiro se acumula pelo gasto racional e pela poupança. 2) No imaginário evangélico, o ambiente do jogo é associado a bebida, danças, madrugadas passadas fora de casa. Isso se contrapõe às virtudes tradicionais do protestantismo que incentivam o cultivo da família e do trabalho.”

A popularização de apostas feitas em lotéricas e pela internet embaralhou as cartas, segundo Ferreira.

O mundo cristão não é unânime no assunto. Entre católicos também há rachas, mas muitos destacam esta passagem do catecismo pregado pela Igreja: “Os jogos de azar (jogo de cartas, etc.) e as apostas não são, em si mesmos, contrários à justiça”.

Mas não há libera-geral. Eles se tornam “moralmente inaceitáveis quando privam a pessoa do que lhe é necessário para suas necessidades e as de outrem”, o que periga acontecer se “a paixão do jogo” virar “uma grave servidão”.

Fonte: Folha de S. Paulo

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