O presidente da Frente Parlamentar Evangélica, deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), buscou nesta quarta-feira (23) se afastar do ministro Milton Ribeiro (Educação), envolvido em acusações que podem configurar tráfico de influência, e afirmou que as explicações dadas pelo titular da Educação até o momento não foram suficientes.
Sóstenes também buscou blindar o presidente Jair Bolsonaro (PL). Disse que a menção ao chefe do Executivo no áudio seria apenas uma “prática da política”, de fazer referência a autoridades mais gabaritadas em diálogos para mostrar influência.
O presidente da Frente Parlamentar Evangélica concedeu entrevista coletiva nesta quarta, na qual buscou deixar bem claro que, embora Milton Ribeiro seja presbiteriano, o ministro não foi nomeado por indicação da bancada.
“A Frente Parlamentar Evangélica nunca nomeou nenhum ministro. Dos cinco ministros que atualmente são evangélicos no governo Bolsonaro, não houve em nenhum desses nomes a indicação da Frente Parlamentar Evangélica e sim honrosamente foram escolhidos pelo presidente Jair Bolsonaro”, afirmou.
Sóstenes Cavalcante disse que as provas existentes até o momento não permitem um julgamento mais preciso. Chegou a falar que são apenas “trechos de conversas” e que todos têm direito à defesa e que a presunção de inocência é premissa que deve valer para todos. No entanto, cobrou uma explicação mais forte de Milton Ribeiro, uma vez que os áudios vazados são “sérios”.
“Entendemos que os áudios são sérios que precisam ser altamente esclarecidos, em especial pelo ministro Milton Ribeiro que tem da ampla maioria dos parlamentares da Frente Parlamentar Evangélica a fé e idoneidade de seu trabalho até o presente momento. Mas entendemos que a nota apresentada até o presente momento não é suficiente para que tudo fique devidamente esclarecido”, afirmou.
“A Frente Parlamentar Evangélica jamais se furtará de seu combate à corrupção, luta pela ética e por nossos valores morais. Isso unifica todos os parlamentares da frente e não são episódios isolados ou trechos de falas que vão nos divorciar dos nossos principais objetivos”, completou.
Além de explicações, Sóstenes cobrou que o ministro adote total diligência para aprofundar as divulgações dos fatos, acionando a Controladoria Geral da União e punindo eventuais responsáveis.
O parlamentar disse que conversou com o Ribeiro em duas ocasiões. Em uma delas, encontrou-se por acaso em um restaurante em Brasília, quando teria pedido os esclarecimentos públicos. No entanto, o próprio Sóstenes tergiversou quando questionado por que não perguntou a posição do ministro durante o encontro.
O líder da Frente Parlamentar Evangélica também foi questionado sobre a menção ao presidente Bolsonaro nos áudios e então buscou blindar o chefe do Executivo. Disse que é uma “prática política” fazer referência a autoridades.
“Entendo que a menção do presidente Bolsonaro é uma prática da política fazer referência a autoridades superiores inclusive para referendar. Entendo que o presidente Bolsonaro, se julgar necessário, vai falar em momento oportuno, mas quem deve satisfação e tem algo para esclarece é o ministro Milton Ribeiro”, afirmou.
O ministro Milton Ribeiro vem sendo pressionado, após o surgimento de indícios de um esquema informal de obtenção de verbas envolvendo dois pastores sem cargo público.
O jornal Folha de S. Paulo revelou na segunda-feira (21) áudio em que Milton Ribeiro afirma que o governo prioriza prefeituras cujos pedidos de liberação de verba foram negociados pelos pastores Gilmar e Arilton.
Na gravação, o ministro diz ainda que isso atende a uma solicitação de Bolsonaro e menciona pedidos de apoio que seriam supostamente direcionados para construção de igrejas. A atuação dos pastores junto ao MEC foi revelada anteriormente pelo jornal O Estado de S. Paulo.
O prefeito Gilberto Braga (PSDB), do município maranhense de Luis Domingues, afirmou que um dos pastores que negociam transferências de recursos federais para prefeituras pediu 1 kg de ouro para conseguir liberar verbas de obras de educação para a cidade.
O ministro negou, em nota divulgada na tarde de terça, ter determinado alocação de recursos para favorecer qualquer município.
Malafaia: “tem que provar que é honesto”
O pastor Silas Malafaia, uma das lideranças evangélicas mais próximas do presidente Jair Bolsonaro, disse para a Folha de S. Paulo, que o ministro da Educação, Milton Ribeiro, foi vago na nota em que negou favorecimento aos dois pastores acusados de fazer lobby e de intermediar a distribuição de recursos do Ministério da Educação (MEC).
Segundo Malafaia, “o ministro é pastor, e tem que provar que é honesto”. Para isso, “ele não pode ser genérico nas afirmações. Ele tem que mostrar, com documentos, o que esses dois caras pediram no ministério, se era lícito, o que foi liberado e onde o dinheiro foi parar”.
Malafaia afirma que a população brasileira já tem “preconceito quando se fala de dinheiro e de pastor”. Por isso, a responsabilidade de Milton Ribeiro, que é pastor presbiteriano, seria redobrada. “Ele tem que agir com transparência total. Na política, não basta ser honesto, o que eu acredito que ele é. Tem que provar”, repete.
PGR pede ao STF para investigar
O procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu na noite desta quarta-feira ao STF (Supremo Tribunal Federal) a abertura de inquérito para investigar a conduta do ministro da Educação, Milton Ribeiro). A relatora da ação na Corte será a ministra Cármen Lúcia.
A decisão de Aras de encaminhar o pedido ao Supremo aconteceu após diversas representações chegarem à PGR pedindo apuração de suspeitas de tráfico de influência e favorecimento a pastores evangélicos na liberação de dinheiro para prefeituras.
Aras, que costuma participar da sessão do STF, conversou com os ministros sobre o tema ontem. Caso o STF autorize a abertura de inquérito, a Corte supervisionará os trabalhos. Caberá à PGR direcionar a linha de investigação e à Polícia Federal investigar.
Fonte: UOL e Folha de S.Paulo