Oito muçulmanos empunhando facões e facas afiadas invadiram duas igrejas de vilas no sul da Etiópia no início deste mês e feriram pessoas que estavam em uma reunião de adoração, matando um cristão na hora.
Segundo testemunhas, Tulu Mosisa, da igreja Kale Hiwot, morreu depois que um facão quase o decapitou. Outros dois membros das igrejas batistas Kale Hiwot e Birhane Wongel, na remota vila de Nensebo Chebi, perderam uma das mãos nos ataques de 2 de março, e um menino de cinco anos continua hospitalizado depois de ter tido o braço rachado até o osso.
No total, 23 cristãos de duas congregações foram feridos antes de a milícia local expulsar os agressores, que executaram o que uma pessoa contou parecer “um plano muito bem elaborado”, em ataques simultâneos durante o período de culto dominical.
Nensebo Chebi é uma vila remota localizada a 400 quilômetros ao sul da capital Addis Ababa, na Zona Bale, no estado de Oromiya; local predominantemente muçulmano. A vila fica a uma caminhada de oito horas da cidade mais próxima.
Sem nenhum aviso, os agressores atacaram duas igrejas que distam meia hora de caminhada uma da outra. Bloquearam todas as portas e janelas e começaram a golpear os cristãos com facões e facas.
Sobreviventes contaram que as vítimas apresentaram feridas nas mãos, pescoços, testas, pernas, braços, ombros e costas.
Os sobreviventes disseram que cada vez que os agressores atingiam uma pessoa gritavam “Allah Akbar!”, duas palavras em árabe que significam “louvado seja Alá” e iniciaram a chamada para a oração dos muçulmanos.
O pranto do filho
“Estávamos orando quando de repente eu ouvi ‘Allah Akbar’, disse um homem cujo filho foi seriamente ferido durante o ataque. Ele ficou alarmado ao ouvir o pranto do filho.
“Minha esposa achou que nosso filho estivesse morrendo, então jogou o outro em meus braços e saiu correndo”, ele disse. “Ela estava chorando, é algo terrível de ver acontecer com seu próprio filho”, relatou.
O menino continua internado em um hospital com o braço imobilizado.
Policial atingido “por engano”
Quando um dos agressores muçulmanos atingiu a cabeça de Tulu Mosisa, da igreja Kale Hiwot, com seu facão, “quase o decapitou”, disse uma testemunha. “A lâmina do facão estava muito afiada e brilhante; e não tínhamos nada com o que nos proteger”.
De acordo com um dos cristãos feridos que falou com o administrador do distrito, três dias depois do ataque, ainda no leito do hospital em Awasa, a 120 quilômetros de distância, “quando perguntamos por que faziam aquilo, eles respondiam com um golpe de facão”.
“Tentei cobrir meu rosto, mas o facão cortou minha mão”, ele continuou, “não sei o que aconteceu depois. Estávamos todos gritando e tentando escapar”.
Nem milícia conseguiu conter os agressores
Por fim, membros da milícia (voluntários armados pelo governo para lidarem com pequenos incidentes nas vilas onde moram) chegaram ao local e começaram a dar tiros para o alto.
“Ainda assim, isso não os fez parar”, disse um dos feridos. Quando a milícia finalmente apontou as armas para um dos agressores, eles fugiram..
Entre os feridos está um policial cristão, que conseguira agarrar um dos agressores por trás – mas foi atingido por um tiro.
“O policial estava prestes a dominar o homem, mas foi atingido por um tiro na costela”, disse uma testemunha. Mais tarde, o membro da milícia alegou que tinha como alvo o agressor e que atingira o policial por engano.
A testemunha disse que não acredita na história do oficial da milícia já que ele permaneceu parado enquanto o agressor pegava seu facão e atacava o policial atingido-o nos braços e nas pernas.
“Ele mesmo era muçulmano e se identificava com o agressor”, concluiu a testemunha, cristã. “Foi um outro oficial da milícia que deteve o agressor.
Os oito feridos mais graves foram transferidos para um hospital em Awasa, enquanto o policial foi para o Hospital Federal da Polícia, em Assis Ababa.
Depois de os outros feridos terem sido tratados em uma clínica em Werka, cidade mais próxima (oito horas de caminhada), foram mandados de volta para casa.
As autoridades da polícia federal não identificaram nenhum dos agressores, apesar de terem dito aos líderes das igrejas que mais de 21 suspeitos de ligação com os ataques foram presos.
Além disso, três membros da administração do distrito que supostamente cooperaram com os agressores estão em custódia da polícia.
Perda de muçulmanos para a igreja ortodoxa
De acordo com uma das pessoas que visitou a região na semana passada, os membros das duas igrejas de Nensebo são constituídos em sua maioria de protestantes convertidos da igreja ortodoxa, “com um número cada vez maior de convertidos do islã”.
Mas um membro da igreja conta que “não havia nenhuma pista de que os muçulmanos estivessem se preparando para atacar”.
Os muçulmanos constituem 45% da população da Etiópia, onde uma versão tradicionalmente tolerante do islamismo é praticada.
Porém, de acordo com o Relatório Internacional sobre Liberdade Religiosa de 2007, do Departamento de Estado Norte-Americano, o Conselho Superior para Assuntos Islâmicos da Etiópia vem manifestando preocupação com a “crescente influência wahhabi” sobre os muçulmanos etíopes por parte das “entidades sustentadas por sauditas e organizações não-governamentais”.
Nensebo Chebi está situada em meio à população predominantemente muçulmana da tribo, próxima à mesquita Dire Sheikh Hussein, venerada pelos muçulmanos etíopes tradicionais.
Uma descrição dos ataques em Nensebo foi publicada em amárico (idioma oficial da Etiópia) no encarte de atualidades do semanário “Addis Neger”, uma publicação política independente.
Fonte: Portas Abertas