De um lado estão os movimentos conservadores que o apoiam; do outro, os liberais que pedem mudanças: Bento 16 inicia nesta quinta uma visita a um país onde a Igreja Católica está dividida e perde fiéis.
Queixas sobre a posição do Vaticano em relação a temas como sexualidade, divórcio e celibato deverão acompanhar a visita do papa Bento 16 ao seu país natal, que se inicia nesta quinta-feira (22/09) em Berlim.
Embora não se espere que Bento 16 faça qualquer concessão aos que clamam pela modernização da Igreja Católica, a Santa Sé está bem consciente do crescente esvaziamento por que passa a igreja na Alemanha, na Áustria e na Suíça alemã. Só em 2010, mais de 180 mil alemães cancelaram sua filiação à Igreja Católica, quase 50% mais que no ano anterior.
A frustração frente ao comprometimento da Igreja com valores tradicionais veio à tona na Alemanha após o Concílio Vaticano 2° (1962-65), com o surgimento de movimentos de reforma como o Wir sind Kirche (Nós somos Igreja).
Tal frustração se inflamou mais uma vez no início dos anos 2000, quando o Vaticano ordenou que a Igreja da Alemanha suspendesse sua participação em centros de aconselhamento de aborto. E ganhou força novamente em 2010, com a série de denúncias de abuso sexual contra religiosos católicos.
[b]Liberais e conservadores
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Segundo o Wir sind Kirche, grande parte dos católicos alemães estaria de acordo com suas reivindicações, que vão da aceitação do divórcio, de sacerdotes do sexo feminino e de padres casados à comunhão com membros de outras religiões e com católicos divorciados que se casaram novamente.
No entanto, as expectativas dos fiéis em relação à Igreja e ao Papa são muito divergentes. A tensão entre liberais e conservadores dentro da Igreja Católica alemã existe há décadas.
Entre os dois grupos, existem poucos pontos em comum na discussão de anos sobre uma maior participação dos leigos na vida paroquial e na tomada de decisões importantes. Em assuntos considerados difíceis, como a permissão de sacerdotes mulheres ou o fim do celibato, não se espera que haja nenhum consenso.
Enquanto o movimento Wir sind Kirche defende uma posição mais liberal, Nils Sönksen, porta-voz da rede conservadora de jovens católicos Generation Benedikt (Geração Bento), que surgiu em 2005 após a visita do Papa à Jornada Mundial da Juventude em Colônia, afirma estar convencido de que “justamente a questão de sacerdotes mulheres esteja definitivamente decidida pelo dogma da infalibilidade, sem nenhuma possibilidade de ser mudada por um sucessor do Papa”.
[b]Católicos e protestantes
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Em relação à questão ecumênica com os protestantes, por sua vez, o Papa já enviou um sinal claro. Por desejo próprio, Bento 16 terá um encontro com representantes de alto escalão da Igreja Evangélica e irá participar de uma celebração ecumênica – sem comunhão ou eucaristia, naturalmente, já que isso é proibido pelo dogma da Igreja Católica.
No entanto, Hannelore Bartscherer, presidente do Comitê dos Católicos de Colônia, afirma que as bases de muitos lugares já não respeitam, há muito, as proibições ordenadas pelo Vaticano. “Nas paróquias, sejam elas católicas ou protestantes, já existe a obviedade da celebração conjunta dos cultos, mesmo da comunhão e da eucaristia. Esta é a realidade. E essa realidade é vivida pelas pessoas, que também a consideram correta.”
Batscherer vê boas chances para uma aproximação entre católicos e protestantes no país. “Podemos fazer com que tais coisas avancem. E, se o papa Bento 16 encoraja esse aspecto, isso é o suficiente para que continuemos nesse caminho.”
[b]Fonte: DW World[/b]