Políticos alemães condenaram nesta terça-feira a decisão de uma companhia de ópera de Berlim de cancelar apresentações da ópera “Idomeneo”, de Mozart, por temer que elas possam provocar a ira de muçulmanos e criar riscos à segurança.

A Deutsche Oper anunciou na segunda-feira que vai substituir quatro apresentações de “Idomeneo” programadas para novembro por “O Casamento de Figaro” e “La Traviata”.

A companhia berlinense disse que tomou a decisão depois de autoridades de segurança de Berlim terem avisado que, se as apresentações originalmente previstas se concretizassem, seria criado um “risco incalculável de segurança”.

A polícia da capital alemã disse ignorar uma ameaça concreta.

Na produção, dirigida por Hans Neuenfels, o rei Idomeneo é mostrado cambaleando sobre o palco, ao lado das cabeças decepadas de Buda, Jesus, Poseidon e do profeta Maomé, colocadas sobre cadeiras.

“Para evitar pôr em risco o público e seus funcionários, a Deutsche Oper de Berlim decidiu deixar de apresentar ‘Idomeneo’ em novembro”, disse a casa de ópera.

Duas semanas atrás, o papa Bento 16 provocou ultraje no mundo muçulmano ao citar, num discurso proferido na Alemanha, trechos de um texto medieval que vincula a difusão da fé islâmica à violência.

No ano passado, a publicação de charges do profeta Maomé num jornal dinamarquês suscitou protestos muçulmanos violentos em várias partes do mundo.

Políticos alemães criticaram duramente a iniciativa da casa de ópera. O vice-presidente do Parlamento alemão, Wolfgang Thierse, disse que a decisão traz à tona uma nova ameaça à expressão artística na Alemanha.

“Esse é um sinal muito perigoso de temores de violência motivadas pelo Islã na Alemanha”, disse ele à Reuters.

“Será que as coisas chegaram ao ponto de que somos obrigados a limitar a expressão artística? O que virá a seguir?”, acrescentou.

Peter Ramsauer, líder da União Social-Cristã bávara (CSU) no Parlamento, disse que a decisão da companhia de ópera revela “o medo extremo da violência” e a qualificou como ato de “pura covardia”.

O ministro do Interior, Wolfgang Schaeuble, qualificou a decisão como “maluca” e “inaceitável”.

O cancelamento da ópera precede uma reunião muito comentada que terá lugar na quarta-feira entre Schaeuble e representantes da comunidade muçulmana da Alemanha, para discutir maneiras de melhorar o diálogo e a integração.

Cerca de 3,2 milhões de muçulmanos vivem na Alemanha, em sua maioria turcos que chegaram ao país após a 2a. Guerra Mundial e ajudaram a alimentar o boom econômico do país no pós-guerra.

O medo da radicalização islâmica vem crescendo recentemente, agravado por um atentado a bomba fracassado contra dois trens alemães em julho. Dois estudantes libaneses foram presos pela tentativa, e as autoridades de segurança alemãs acreditam que eles provavelmente tiveram ajuda de uma rede islâmica radical.

Fonte: Reuters

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