O ex-bispo Fernando Lugo, pré-candidato à Presidência do Paraguai em 2008, negou que tenha a ver com dois famosos seqüestros e outras acusações formuladas contra ele pelo presidente Nicanor Duarte.

O Governo, “em seu desespero perante a iminente vitória do povo paraguaio nas próximas eleições, recorre agora à mentira e à calúnia”, ressaltou Lugo, indicado por todas as pesquisas como favorito para o pleito de 20 de abril do ano que vem.

Acompanhado dos presidentes de partidos de oposição, o ex-bispo leu hoje uma declaração intitulada “Respondendo a uma infâmia” e depois deu uma entrevista coletiva para rebater as acusações lançadas contra ele.

Na semana passada, a imprensa paraguaia publicou um suposto relatório do Ministério do Interior, desmentido na sexta-feira, envolvendo Lugo “em histórias de seqüestros, mulheres, filhos, má gestão de fundos da diocese de San Pedro, e até apoio a produtores de maconha”.

Além disso, Duarte ligou o ex-bispo de San Pedro, uma das áreas mas pobres do país, com o trágico caso de Cecilia Cubas, filha do ex-chefe de Estado, Raúl Cubas, seqüestrada e assassinada em 2005, e no seqüestro da mulher de um empresário, Edith Bordón de Bernardi.

O ex-bispo lembrou que em 2006 depôs à Justiça no caso e “não houve motivo algum de acusação” por ligação com os militantes do esquerdista Partido Pátria Livre (PPL), condenados pela morte de Cecilia Cubas.

Na declaração lida, Lugo afirmou que “está claro que esta é uma campanha planejada pelo oficialismo”, em referência aos setores que sustentam o Governo do Partido Colorado, no poder há 60 anos.

O ex-bispo anunciou que não apresentará nenhuma denúncia contra Duarte, porque, segundo disse, “com esta justiça não vale a pena”.

Mas ele pedirá ao Ministério Público que tramite as denúncias apresentadas.

Lugo exigiu que Duarte “demonstre as provas” contra ele e assegurou aos paraguaios que vai a responder “todos os requerimentos” e a dar “a cara” neste caso.

“Desejaria que (Duarte) tivesse coerência, serenidade em suas apreciações, que tivesse objetividade para responder e ter um diálogo sério e sereno, com conteúdo”, disse Lugo.

Em uma primeira reação do Governo, o ministro do Interior, Delmás Frescura, que se reuniu hoje com Duarte, se perguntou como um sacerdote pode “ter ligação com este tipo de gente”, em referência aos seqüestradores de Cecilia.

Além disso, Frescura assegurou que não é sua função apresentar a denúncia judicial contra Lugo e chamou de “covardes” os promotores que deveriam investigar as supostas ligações do ex-bispo com criminosos.

Na declaração “Respondendo a uma infâmia”, Lugo destaca sua trajetória de várias décadas “a serviço do povo paraguaio, primeiro como padre da Igreja Católica” e ressalta com “orgulho” que nunca foi “condenado nem acusado por crime nenhum”.

“Estou firmemente comprometido com a democracia, com os meios pacíficos para obter a mudança e as transformações com as quais o povo paraguaio sonha, e com a construção de uma sociedade plural, na qual o direito de todos e todas sejam respeitados”, ressalta.

Lugo quer ser candidato à Presidência pela Concertação Nacional, que reúne partidos de oposição e organizações civis para tentar terminar com 60 anos de poder do Partido Colorado.

Duarte, que não conseguiu modificar a Constituição para tentar a reeleição, faz permanente campanha a favor de sua ex-ministra da Educação Blanca Ovelar, que terá que disputar a candidatura presidencial colorada com o vice-presidente do país, Luis Castiglioni, e com o líder do partido, José Alderete.

Fonte: Último Segundo

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