O bispo Robinson Cavalcanti, que foi desvinculado da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB) em 2005 quando pastoreava a Diocese do Recife, reagiu à divulgação, pela igreja, de uma segunda carta pastoral sobre sexualidade humana e contestou, com veemência, referindo-se ao seu caso, de que haja “desertores” no Nordeste, como insinua o texto anglicano.
“Aos defensores da fé histórica e de uma inclusividade limitada acusam de ‘cismáticos’ e ‘desagregadores’”, disse Cavalcanti em nota episcopal referindo-se ao texto da carta pastoral. “No Nordeste há combatentes fiéis e leais ao Senhor dos Exércitos, e não desertores. No Nordeste há mártires, não desertores”, acrescentou, acusando seus ex-colegas bispos da IEAB de trocarem o evangelicalismo pelo liberalismo.
A segunda carta pastoral dos bispos da IEAB sobre sexualidade humana, emitida em dezembro passado, reporta-se aos dez anos da emissão da primeira carta, reafirmando-a. A primeira carta destacou a sexualidade como um dom de Deus e recomendou o diálogo e a preocupação pastoral com as pessoas de orientação homossexual na comunidade, sem se posicionar, contudo, quanto ao casamento de pessoas do mesmo sexo.
Os bispos lembram, na segunda carta, que o tema da sexualidade humana implicou “na deserção de um bispo e de vários clérigos no Nordeste e noutras partes da Comunhão Anglicana no mundo”. Por isso decidiram lançar uma segunda carta, assinalando que faz parte da tradição anglicana “o respeito às diferenças de opinião em relação a questões que não são essenciais ao princípio da Revelação divina”.
Assim, entendem que tudo o que a Bíblia diz e que não se refira à essência da Revelação é secundário – faz parte da cultura e dos costumes que foram instrumentos de Deus para a redação dos textos das Sagradas Escrituras. “Para nós, a Bíblia é a Palavra de Deus no sentido de mensagem de Deus e não ditado de Deus”, assinalam, definindo Tradição como a leitura da Bíblia ao longo dos séculos, na vida do povo de Deus, sob a guia do Espírito Santo.
Por isso, o exame das Escrituras deve ser feito com a ajuda da reflexão teológica e das ciências para discernir, a cada tempo, o que Deus quer dizer, “para que possamos experimentar na vida a obra divina da reconciliação”. Os bispos da IEAB reconhecem que ainda pairam muitas dúvidas sobre a sexualidade humana, daí a recomendação ao clero para que se aprofundem sobre o assunto a fim de que tenham “instrumentos pastorais adequados no atendimento de suas congregações”.
Na avaliação do bispo Cavalcanti, a segunda carta pastoral dos bispos da IEAB sobre sexualidade humana não traz nenhuma diretriz concreta e sequer traduz a diversidade teológica anglicana, “mas é típica de uma só de suas correntes: a liberal, com sua leitura racionalista das Sagradas Escrituras, seu universalismo salvífico e seu relativismo moral”, que leva ao entendimento de que a Comunhão Anglicana é um espaço religioso onde “vale tudo”.
Ao distinguir o que é essencial e secundário no texto bíblico, os bispos da IEAB trazem uma concepção da Igreja como um ente social onde não há lugar para a doutrina, nem para padrões de comportamento, e uma concepção da Bíblia como literatura religiosa, “útil para a devoção pessoal e o uso litúrgico”, argumenta o bispo.
Segundo Cavalcanti, “ancorados no poder político e financeiro de Províncias do mundo desenvolvido, com uma membresia declinante e geriátrica, sem mensagem transformadora, como contracultura de exóticos, rompidos com o passado e sem futuro, nada há de se temer neles no presente, senão a maldade”.
O bispo Cavalcanti, que se entende deposto das funções “em um processo espúrio”, junto com outros 32 clérigos que “foram excomungados” da Diocese do Recife, buscam filiação diocesana regular permanente sob a autoridade primacial da Igreja Anglicana do Cone Sul da América, liderada pelo reverendo Gregory j. Venables. Cavalcanti instalou a secretaria episcopal em Maceió, capital das Alagoas.
Fonte: ALC