Um grupo de pastores angolanos da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) tomou a direção de vários templos nesta segunda-fera, 22, incluindo 30 templos na capital Luanda, rejeitando “qualquer tipo de negociação” com a ala brasileira, disse à Lusa um dos dissidentes.
Segundo o pastor Silva Matias, em novembro de 2018 foi feita a denúncia de vários crimes praticados pelos cerca de 200 bispos e pastores brasileiros em Angola contra os angolanos e o Governo de Angola, o que culminou na decisão de hoje.
Silva Matias sublinhou que, apesar de estar em curso um processo de investigação foi preciso tomar esta decisão porque se verificou que as práticas da gestão brasileira não mudaram e têm piorado.
“E como sabemos que a igreja na gestão dos brasileiros trabalha muito com a corrupção ativa e passiva, temos sentido que há uma morosidade no processo”, frisou Matias.
O pastor realçou que “há um conflito interno muito grande na Universal”, pelo que foi tomada a decisão de “mostrar que a instituição, na gestão dos brasileiros, não tem condições de avançar”.
“Por isso hoje, nós tomamos a decisão de ruptura com a ala brasileira, até porque foram constatados inúmeros crimes cometidos pela gestão brasileira e não podemos mais continuar a conviver com esses crimes”, disse Matias.
Evasão de divisas, branqueamento de capitais e racismo são algumas das práticas de que são acusados os bispos e pastores brasileiros.
De acordo com Silva Matias, hoje foi tomada a direção das igrejas de quase todo o país, sendo que em Luanda, cerca de 30 catedrais passam agora a ser dirigidas por angolanos, com destaque para a localizada no Morro Bento, que se tornará “a sede da reforma dos pastores da IURD em Angola”.
Questionado se houve a tentativa de algum contato com o bispo brasileiro em Angola, Honorilton Gonçalves, o pastor angolano respondeu que este se recusa a dialogar com os pastores angolanos.
“Como é que vamos manter uma negociação com um bispo que é preconceituoso, racista, diz que prefere morrer a ver a igreja sob gestão angolana, sendo que está no nosso país, um bispo que trata os pastores com desrespeito, homem arrogante, homem que trabalha por via da corrupção. Já tentamos, mas ele sempre se negou”, salientou.
Perguntado se houve algum contato com a igreja no Brasil, Silva Matias respondeu que não, porque “o problema começa lá no Brasil”, além de que a IURD é de direito angolano.
“Nós queremos uma Universal reformada, sem distorção, maus tratos, humilhações públicas, castração de pastores. Queremos uma igreja reformada com princípios pautados na palavra de Deus”, salientou.
Províncias de Benguela e Maleje
Na província de Benguela, um grupo de pastores angolanos afastou a liderança brasileira do templo central, numa investida com contornos de violência, para a qual foram chamados vários agentes da Polícia Nacional.
Com o pastor brasileiro fora das instalações, os angolanos davam ordens aos seguranças do templo denominado Cenáculo do Espírito Santo, procurando marcar posição no interior, perante a resistência de obreiros.
Na província de Malanje, sete dos nove pastores da IURD anunciaram também hoje fim de todo o vínculo com a liderança brasileira de Honirilton Gonçalves.
“Viemos denunciar publicamente as arbitrariedades praticadas pela atual direção da IURD em Angola, imposição e coação para a castração ou vasectomia aos pastores, aborto das esposas dos pastores que engravidam dos seus respetivos maridos, apegando-se à heresia, eleição dos membros dos órgãos sociais de forma ilegal, sem observar as normas estatutárias”.
Os pastores e as respetivas esposas são privados do acesso à formação acadêmica, científica e técnico-profissional, diz o documento.
“A vasectomia existe”, disse o pastor Francisco Evaristo. “Fui pastor regional e fui pastor provincial durante 5/6 anos, estou numa igreja aqui na província de Malanje porque recusei fazer a vasectomia”.
Ele diz que cumpre “castigo por não ter aceito fazer a vasectomia”.
Em coletiva de imprensa, os religiosos acusam o representante da congregação no país de orientar a perseguição de alguns obreiros brasileiros e nacionais,o que viola o objetivo de evangelizar as famílias angolanas na pacificação dos espíritos para sã convivência entre os cidadão.
A polêmica remonta a 2019, quando um grupo de cerca de 300 bispos da IURD angolanos anunciaram o seu afastamento da direção brasileira e do bispo Edir Macedo por práticas contrárias à realidade angolana e desvio de divisas.
Num comunicado subscrito por 330 bispos e pastores angolanos foram denunciadas práticas contrárias “à realidade africana e angolana”, como a vasectomia, que tem sido imposta aos pastores por Edir Macedo, evasão de divisas e a venda de mais de metade do patrimônio da IURD Angola “sem consulta prévia”.
Na época, a direção da IURD reagiu através da sua página na rede social Facebook, num comunicado assinado por Antônio Pedro Correia da Silva, repudiando a “rede difamatória e mentirosa” arquitetada por “ex-pastores desvinculados da instituição por desvio moral e até condutas criminosas” cujo objetivo era “terem sua ganância saciada”.
Em dezembro de 2019, a Procuradoria-Geral da República instaurou dois processos-crime contra a IURD, tendo como base as denúncias feitas pelos pastores angolanos.
Fonte: Angola 24 Horas e VOA Portugal