Apóstolo Rina e seu enteado Nathan (Imagem: Reprodução/Instagram)
Apóstolo Rina e seu enteado Nathan (Imagem: Reprodução/Instagram)

Nathan Gouvêa, de 30 anos, enteado de Rinaldo Pereira, conhecido como Apóstolo Rina, líder da Igreja evangélica Bola de Neve, revelou, em entrevista, ser vítima de agressões por parte do líder religioso.

Nathan disse ao portal UOL que via Rinaldo como um pai. Ainda assim, contou ter sido alvo de agressões físicas e abusos psicológicos na infância.

Nathan contou em um episódio em que foi vítima de chutes na cabeça por colocar um CD úmido em seu videogame: “Para cada vez que eu tentava fazer o jogo funcionar e não dava certo, ele me dava um chute na cabeça”. Em outros episódios em que os dois jogavam videogame juntos, o enteado também relatou ameaças sofridas por cometer muitas faltas no jogo.

Nathan tinha 6 anos quando sua mãe, Denise Seixas, casou-se com Rina. Ele passou a ter uma relação de “pai e filho” com o padrasto —a quem hoje Nathan acusa de agredir e abusar psicologicamente tanto dele quanto da mãe, a pastora Denise, que conseguiu na Justiça uma medida protetiva de urgência contra o marido e está afastada dele pela Lei Maria da Penha.

Segundo Nathan, que publicou nas redes sociais um vídeo de sua mãe sendo maltratada pelo marido, o medo permeou toda sua infância e juventude. Ainda assim, ele considerava o religioso seu pai.

“Meu pai era ausente e, quando Rinaldo começou a se relacionar com a minha mãe, passei a chamá-lo de ‘pai 2’. Coisa de criança, não tinha muita consciência. Ele não gostou e disse: ‘Não é pai 2. Você tem que me chamar de pai’. Então, nosso relacionamento passou a ser de pai e filho”, conta.

Além das agressões físicas, a vítima relatou que na infância Rinaldo o fez ficar pelado, junto com um amigo, na sacada da casa onde moravam, após ver as crianças dançando a música “Olha a Onda”.

“Eu não enxergava algumas coisas que ele já fazia comigo como ruins, mas, na verdade, como uma coisa que um pai deve fazer. Tinha 7 anos, estávamos eu e um amigo na casa de praia dançando aquela música ‘Olha a Onda’. Ele viu e ficou extremamente irritado, me bateu e deixou, eu e meu amigo, pelados numa sacada. Dava para todo mundo ver. Ficamos assim por horas.”

O castigo, que Nathan acreditava ser “normal”, voltou a se repetir. “Era bem novinho, coisa de uns 8 anos. Morávamos em um apartamento todo de vidro, no terceiro andar e, mais uma vez, ele me deixou de castigo, pelado.”

Quando não era agredido, era ameaçado, diz. “Estava fazendo muita falta [no game Fifa, um jogo de futebol] e ele se irritou. Disse que eu ia levar um soco por cada falta que fizesse. No final, não me bateu.”

Mãe tratada como “escrava”

De acordo com a entrevista, a mãe, a cantora gospel Denise Seixas, via as agressões, mas era vítima do “mesmo abuso”: “Ele sempre a tratou como escrava e ela não se posicionava”, afirmou ao portal.

Nathan ainda contou que a mãe usava texto bíblicos para se referir ao Apóstolo Rina: “Tem um texto que fala que Deus vai inclinar o coração do rei”, diz, sobre o fato de o líder religioso ser tratado como um rei dentro de casa.

Ao UOL, Nathan revelou que até completar 12 anos não se lembrava das agressões sofridas pela mãe. A partir dessa idade, começou a perceber marcas roxas estranhas no braço da mãe.

Em 2022, a mulher falou pela primeira vez sobre o fato de ser agredida pelo marido. Um ano depois, Denise Seixas disse ao filho que queria pedir separação.

Segundo Nathan, ela também contou sobre os planos para outras pessoas da igreja e a história chegou a Rinaldo. A partir desse momento, o líder religioso começou a espalhar para o seu círculo mais próximo que Denise não estava bem psicologicamente e que pensava em interná-la.

“Pra gente, era muito claro que ele ia interná-la. Foi por isso que publiquei um vídeo de uma discussão entre eles, para provar que a situação estava muito ruim. Lá no vídeo, ele fala que ela está louca, que ele não queria mais ficar com ela”, afirmou Nathan.

O que diz Rina

Em nota, a defesa do apóstolo Rina negou “categoricamente as falsas afirmações”. Além disso, a equipe acredita que todas as denúncias se mostrarão “infundadas” após as investigações do Ministério Público e da Justiça.

Ao UOL, Rinaldo rebateu as falas do enteado sobre seu relacionamento com Denise e afirmou: “Nathan saiu de casa há dez anos. Não tem a mínima ideia do que vivemos. Tudo o que eu sempre quis foi vê-la com saúde física, mental e emocional. Isso incluiu todo o cuidado com acompanhamento profissional, porém, em nenhuma hipótese, uma internação em clínica psiquiátrica. Essa foi só uma difamação para colocá-la contra mim.”

Importunação sexual

Uma ex-funcionária também denunciou Rinaldo Pereira por importunação sexual. O crime teria acontecido em 2017, enquanto a mulher trabalhava na casa do líder religioso.

Segundo boletim de ocorrência, o Apóstolo Rina pedia ajuda para realizar alongamentos e massagens. Em algumas dessas situações, também chegava a massagear a vítima e, segundo testemunho, aproximava as mãos de seus seios.

Ainda de acordo com o depoimento da mulher, Rinaldo Pereira foi se aproximando cada vez mais ao longo dos anos até que, em 2017, a puxou pelos braços de frente. Constrangida, a mulher se desvencilhou do homem e gritou: “Me solta seu animal”. Ela deixou a casa com marcas da agressão nos braços.

O líder religioso tentou se reaproximar da vítima alegando um “mal entendido”. A ex-funcionária revelou ter se isolado e ficou muito confusa e depressiva após o ocorrido. Ela faz acompanhamento psicológico até hoje e até foi orientada pela profissional que a acompanha a fazer a denúncia.

A advogada Jane Louise, que representa a ex-funcionária, defende que sua cliente passou por abuso religioso, moral e sexual. “Os processos correm em segredo de Justiça, mas, no caso dela, além de abuso moral e sexual, tem diversos direitos trabalhista não cumpridos.”

Ao UOL, a assessoria de Rinaldo negou as acusações. “O apóstolo Rinaldo Seixas nega qualquer prática violenta e confia na apuração isenta e técnica de todos os fatos pela Polícia Civil e Ministério Público. O apóstolo se afastou voluntariamente da direção da Igreja Bola de Neve. Com muita serenidade, aguarda que sejam realizadas investigações imparciais e justas e tem convicção de que, ao final, será comprovada sua inocência”.

Acusação de estelionato e exploração de trabalho voluntário

Em uma live no Instagram, os empresários Márcio Bieda e Thiago Santana fizeram graves denúncias contra a Igreja Bola de Neve e seu fundador, o apóstolo Rina. A transmissão ao vivo expôs alegações de estelionato e má gestão de doações feitas por fiéis.

Márcio Bieda iniciou a live revelando que um instituto de Balneário Camboriú, que supostamente deveria ajudar mulheres carentes com empreendedorismo, foi transformado em um salão de beleza de luxo.

As acusações também se estenderam a outras práticas dentro da igreja. Bieda e Santana alegaram que há uma cantina na igreja onde os voluntários trabalham sem remuneração, beneficiando financeiramente os líderes da igreja.

Rodolfo Abrantes denuncia abusos e manipulações

Rodolfo Abrantes e sua esposa, Alexandra Abrantes, denunciaram abusos sofridos enquanto frequentavam a igreja Bola de Neve em Balneário Camboriú, Santa Catarina, há 13 anos. O ex-vocalista dos Raimundos compartilhou seu desabafo no Instagram nesta quarta-feira, 22, afirmando que ainda carrega “traumas que demoram demais para curar e ainda doem”.

“Eu não devia absolutamente nada. Mas o que quero dizer não se refere às acusações que têm vindo à tona sobre fraudes, pois isso não me diz respeito. Não tenho prova, nem base, nem capacidade de acusar ninguém. O que estou aqui para dizer é que estou com minha esposa e vi o quanto de abusos emocionais que ela sofreu naquele ministério e nós sofremos demais como família. Nosso casamento foi abalado naquela época e nós sobrevivemos. Estamos firmes e carregamos cicatrizes de feridas que demoram a curar.”, disse Rodolfo.

Igreja Bola de Neve se pronuncia após denúncias

A Igreja Bola de Neve emitiu uma nota oficial na quinta-feira (23) em resposta aos relatos de ex-membros que alegam terem sido vítimas de abusos religiosos por parte de pastores e líderes da denominação.

Várias pessoas testemunham que sofreram abuso religioso de pastores e líderes da igreja.

No comunicado, a igreja diz que está ciente dos relatos e que nesses 25 anos de atuação “os trabalhos sempre foram feitos em uma conduta transparente e honesta para que o resultado final fosse a transformação da sociedade”

“A Igreja Bola de Neve lamenta profundamente o descontentamento e a repercussão de notícias e materiais nas mídias sociais que expõem o desagrado de pessoas que já frequentaram a instituição. Ao longo dos 25 anos de atuação do ministério e com mais de 500 igrejas espalhadas no Brasil e no mundo, os trabalhos sempre foram feitos em uma conduta transparente e honesta para que o resultado final fosse a transformação da sociedade,” diz um trecho da nota.

Rina se afasta da Bola de Neve

Em um comunicado durante o culto no domingo (02/06), o apóstolo Rina, presidente da Igreja Bola de Neve, anunciou seu afastamento temporariamente de suas funções ministeriais para cuidar de sua esposa, pastora Denise.

“Um comunicado para essa igreja tão querida e tão amada que eu amo de todo o meu coração. Todos vocês acompanharam as lutas que nós estamos vivendo. Eu gostaria de estar em outro cenário, mas o que está acontecendo hoje é que tudo isso abalou muito a pastora Denise. Ela vinha numa crescente, se recuperando quase 100%, e com tudo isso, ela entrou num lugar onde está tendo crises de ansiedade, síndrome do pânico. Por isso ela não está aqui hoje”, explicou Rina.

No final de maio, um novo áudio vazado mostrou uma discussão entre Rina e sua esposa, revelando que o casal está passando por uma crise que só se intensifica desde o ano passado.

Ao anunciar seu afastamento, porém, ele não mencionou que iria cuidar do casamento, mas apontou apenas um problema de saúde da esposa.

Fonte: UOL, Metrópoles, Fuxico Gospel e Pleno News

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