Presidente da República Jair Bolsonaro, durante gravação de discurso para a 75ª Assembleia Geral da ONU, em 22 de setembro de 2020. (Foto: Marcos Corrêa/PR)
Presidente da República Jair Bolsonaro, durante gravação de discurso para a 75ª Assembleia Geral da ONU, em 22 de setembro de 2020. (Foto: Marcos Corrêa/PR)

O presidente Jair Bolsonaro fez o tradicional discurso de abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas na manhã desta terça-feira (22).

Em virtude da pandemia do novo coronavírus, a Abertura da 75ª Assembleia-Geral da ONU está sendo realizada online – inovação que acontece por medidas de segurança.

Bolsonaro iniciou seu discurso lamentando as mortes pela Covid-19, e destacou as ações do governo brasileiro para minimizar os efeitos da pandemia.

Em sua fala, o presidente brasileiro destacou que “a liberdade é o bem maior da humanidade”, citando a liberdade religiosa e a perseguição aos cristãos.

“Faço um apelo a toda a comunidade internacional pela liberdade religiosa e pelo combate à cristofobia”, disse.

No final de seu discurso, disse que “o Brasil é um país cristão e conservador e tem na família sua base”.

O presidente se solidarizou com o povo do Líbano pelas recentes adversidades sofridas e disse que “o momento é propício para trabalharmos pela abertura de novos horizontes, muito mais otimistas para o futuro do Oriente Médio”.

Na sequência, Bolsonaro enalteceu os acordos de paz entre Israel e os Emirados Árabes Unidos, e entre Israel e o Bahrein: “[São] três países amigos do Brasil, com os quais ampliamos imensamente nossas relações durante o meu governo”.

O chefe do executivo também destacou o papel dos EUA na promoção da paz no Oriente Médio. “O Brasil saúda também o Plano de Paz e Prosperidade lançado pelo Presidente Donald Trump, com uma visão promissora para, após mais de sete décadas de esforços, retomar o caminho da tão desejada solução do conflito israelense-palestino”, disse. “A nova política do Brasil de aproximação simultânea a Israel e aos países árabes converge com essas iniciativas, que finalmente acendem uma luz de esperança para aquela região”.

Apesar do caráter virtual, a sede da ONU em Nova York recebe um representante de cada país. Cerca de 200 pessoas estão fisicamente presentes, o que equivale a 10% da capacidade de ocupação da estrutura.

Assim como em 2019, quando discursou pela primeira vez na ONU, Bolsonaro falou sobre a Amazônia e as políticas ambientais do seu governo. Cada país-membro tem até 15 minutos para os discursos.

Após a fala do presidente brasileiro, Donald Trump, Tayyip Ergodan e Xi Jinping – líderes dos Estados Unidos, Turquia e China, respectivamente – ocuparão a tribuna virtual.

Dados do Ministério dos Direitos Humanos

Após a fala do presidente, o termo “cristofobia” figurou entre os assuntos mais comentados no Twitter.

A mensagem à comunidade internacional foi entendida por especialistas como caracterizando o Brasil como um país que persegue os cristãos.

Não ficou claro se o presidente se referia ao Brasil, no entanto, dados apresentados pelo ministério comandado por Damares Alves mostram que os adeptos das religiões de matrizes africanas são as maiores vítimas da intolerância religiosa no Brasil.

As informações estão nos dois últimos relatórios de Discriminação Religiosa produzidos pelo MMFDH (Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos).

O Disque 100 (Disque Direitos Humanos) atendeu a 860 denúncias de discriminação religiosa, segundo dados consolidados do ano de 2018 e do 1º semestre de 2019. Em 2018, foram 506 denúncias, enquanto nos seis meses iniciais de 2019 ocorreram 354.

Destas denúncias, 213 casos eram referentes às religiões com matrizes africanas, representando cerca de 24,7%, divididos entre os segmentos da Umbanda; Quimbanda; Candomblé e Matrizes Africanas.

O último Censo, realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2010, apontou que 0,3% da população brasileira era adepta das religiões de matrizes africanas. Dos 190.755.799 entrevistados no recenseamento daquele ano, apenas 588.797 se identificaram como sendo das religiões da Umbanda e Candomblé.

Ou seja, 0,5% da população do país são vítimas de 24,7% das perseguições religiosas de janeiro de 2018 a junho de 2019.

Já os ataques às religiões cristãs – que têm sua origem na história de Jesus Cristo – e seus praticantes representam quase metade dos casos de intolerância às práticas de matrizes africanas. Das 860 denúncias recebidas em 1 ano e 6 meses pelo Disque 100 do ministério de Damares, 110 casos envolviam segmentos cristãos, o equivalente a 12,7% das denúncias atendidas.

Foram contabilizadas ocorrências envolvendo os segmentos Adventista; Assembleia de Deus; Católico; Cristã; Evangélico; Irmandade Celestial; Judaísmo/Cristianismo; Protestante e Testemunha de Jeová.

Em seu discurso na ONU, Bolsonaro também fez questão de destacar o que chamou de caráter cristão do país, atrelando o conservadorismo político à religião. “O Brasil é um país cristão e conservador e tem na família sua base”, disse ele.

De acordo com o Censo de 2010, 86,7% da população brasileira diz se identificar com alguma religião cristã. Dos 190,7 milhões de recenseados, 165,5 milhões indicaram pertencerem ou ao Catoliscismo Apostólico Romano (64,6%) ou às igrejas Evangélicas (22,1%).

Na proporção, 86,7% dos brasileiros foram alvo de 12,7% das denúncias de intolerância no período de 18 meses.

Fonte: Guia-me, UOL, G1, EBC e Yahoo

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