Mais de 40 famílias brasileiras que foram tentar a vida no estado americano da Califórnia acusam compatriotas, membros da igreja evangélica “Mensagem da Paz” (foto), de os terem enganado em um esquema de empréstimo.
Para o motorista Samir Abdelnur e sua esposa, a faxineira Naira Costa, o sonho americano tornou-se pesadelo. Depois de 12 anos nos Estados Unidos, eles resolveram comprar uma casa de três quartos avaliada em R$ 1 milhão. No entanto, a surpresa começou com a primeira parcela, um mês depois da mudança. O valor da prestação, de US$ 5 mil, era bem superior àquele combinado com o corretor Soário Santos, de US$ 3.500.
Segundo Abdelnur, Santos e outros funcionários da igreja – que ganhavam comissão cada vez que vendiam uma casa a brasileiros na região da Califórnia – ofereciam empréstimos fáceis durante o culto. “Venda suas coisas no Brasil; você tem que vender e investir. Aqui, você compra uma casa agora e, daqui um ano, pode refinanciá-la por US$ 100 mil”, conta Abdelnur ao relatar os argumentos usados.
Até agora, sete famílias entraram na Justiça contra o corretor outros catorze envolvidos – muitos deles ligados à igreja. Eles estão sendo acusados por formação de quadrilha, fraude e falsidade ideológica.
Enquanto isso, hoje o casal Samir e Naira mora em um pequeno apartamento, sem crédito. Eles também acusam funcionários da igreja e agentes da imobiliária de terem falsificado assinaturas e documentos para obter empréstimos que jamais seriam aprovados pelo banco.
Os correspondentes Sérgio Telles e Rodrigo Alvarez tentaram falar por diversas vezes com a dona da imobiliária, mas ela não estava. Eles foram recebidos por um representante da “Mensagem de Paz”. “A gente sempre fala para as pessoas da igreja não fazerem negócio nenhum sem ler a documentação. Se alguém disser que qualquer líder da igreja fez qualquer coisa errada, a gente está de portas abertas. Nós não temos interesse nenhum de ter uma pessoa em liderança que esteja fazendo coisa errada”, explica o pastor Adalberto Carvalho.
Por ordem da igreja, desde que o caso chegou à Justiça, Soário Santos não tem sido visto oferecendo casas aos fiéis. Ele foi promovido a pastor e, agora ministra os cultos numa cidade a quase 100 quilômetros da igreja que usava para vender o sonho americano.
“A gente confiou numa pessoa da igreja e fomos lesados dessa forma”, lamenta Naira. “Era muito dinheiro, eles estavam ganhando muito dinheiro, não perdoaram ninguém”, diz Abdelnur.
Fonte: G1 e Jornal Nacional