Ex-seminarista, Chalita espera apoio de cabos eleitorais da ala carismática. Haddad já se reuniu com setores da igreja; ‘não sou cristão só nos momentos em que avião balança’, diz Serra.

A campanha pela Prefeitura de São Paulo testará o poder de mobilização suprapartidária da Igreja Católica, em uma eleição que colocará à prova sua identificação histórica com a esquerda, evidenciada nas alas progressistas e pastorais sociais.

Petistas e tucanos, que tradicionalmente duelaram pelo apoio da metade do eleitorado paulistano que declara professar a fé católica, tentam agora impedir alinhamento automático de padres e bispos à candidatura de Gabriel Chalita (PMDB) -expoente da Renovação Carismática, corrente conservadora que avança entre os jovens.

Mesmo com as restrições impostas pela arquidiocese quanto ao engajamento direto de clérigos, Chalita, ex-coroinha, ex-seminarista e um dos difusores da comunidade Canção Nova, espera contar com fervoroso exército de cabos eleitorais carismáticos.

São 33 mil militantes ativos distribuídos em 412 grupos de oração na capital.

“Embora não exista ainda deliberação formal, a maioria dos carismáticos tem forte identificação com o Chalita. Neste aspecto, creio que terá esse apoio, sim. As pessoas pedirão voto para ele”, afirma Gilberto Lopes, presidente do conselho arquidiocesano da Renovação Carismática em São Paulo.

Chalita cultiva laços estreitos com dois dos padres mais populares do país, de quem espera obter respaldo, ainda que informal: Marcelo Rossi e Fábio de Melo, ambos campeões de audiência.

“É natural que exista uma associação, não só pela minha trajetória na Canção Nova, mas pelos valores em comum”, diz o pré-candidato, que usa prédios cedidos por paróquias para reuniões com eleitores na periferia.

[b]SOCIAL[/b]

É nos extremos da cidade e nas pastorais de rua, de moradia popular e de saúde que PT e PSDB buscam equilibrar o embate pelo voto católico.

O petista Fernando Haddad, cristão ortodoxo, admite ter procurado padres para “garantir um debate dos problemas da cidade”.

“Não considero adequado solicitar apoio para líderes religiosos, mas pretendo manter interlocução permanente com setores engajados na luta por justiça social”, afirma o ex-ministro da Educação, neto de padre ortodoxo.

Líder nas pesquisas, o católico José Serra (PSDB) é amigo de d. Cláudio Hummes e de d. Paulo Evaristo Arns, cardeais que passaram pela arquidiocese de São Paulo.

O tucano afirma não ter procurado líderes religiosos desde que ingressou na disputa pela prefeitura. Sustenta, contudo, ter adotado medidas à frente de cargos públicos que atestam zelo às causas da igreja.

“Espero que votem em mim. Mas nunca expressaria uma convicção que não tenho ou mentiria sobre questões de fé a fim de obter votos. Não sou cristão só nos momentos em que o avião balança”, diz.

Dos sete postulantes à sucessão de Gilberto Kassab (PSD) com melhor desempenho nas pesquisas, quatro se declaram católicos -além de Chalita e Serra, Paulinho da Força (PDT) e Celso Russomanno (PRB).

[b]’EFEITO CHALITA’
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Apesar de reconhecer o potencial mobilizador dos carismáticos, o sociólogo Flávio Pierucci, professor da USP, relativiza o “efeito Chalita”.

“O católico é, em regra, muito acomodado ao tomar posição política. Pesa muito a tradição familiar. Não é um eleitorado que se expressa de maneira uniforme em favor de candidaturas”, afirma.

Para o padre Júlio Lancelotti, vigário episcopal do Povo de Rua, “a igreja não fará explicitamente nenhum gesto de apoio a candidato”.

“Os leigos é que serão estimulados a participar. É até desejável, pois precisamos discutir outro modelo para São Paulo”, diz o padre, que participou de evento com Chalita na Sexta da Paixão.

[b]Fonte: Folha de São Paulo[/b]

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