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Antonio Cañizares, cardeal e arcebispo de Valência, na Espanha, provocou nesta semana uma grande polêmica com duas perguntas: “Esta invasão de imigrantes e refugiados é tudo trigo limpo? Onde ficará a Europa dentro de alguns anos?”
Cañizares, que participava de um desjejum informativo da Fórum Europa, afirmou que o acolhimento dos imigrantes “hoje pode ser algo que cai muito bem, mas realmente é o cavalo de Troia dentro das sociedades europeias e concretamente da espanhola”. Suas palavras contradizem a linha mantida pelo papa e a Conferência Episcopal.
O arcebispo questionou que a maior parte dos refugiados que estão chegando à Europa, entre outras causas devido à guerra na Síria, sejam na realidade “perseguidos”. “Muito poucos o são.” “Como ficará a Europa dentro de alguns anos com o que vem agora? Não se pode brincar com a história nem com a identidade dos povos”, acrescentou.
Cañizares pediu “lucidez” para não deixar que a chegada de refugiados continue no ritmo da atual crise imigratória no continente. Nos primeiros nove meses do ano, 710 mil pessoas entraram irregularmente na UE, segundo a agência oficial europeia Frontex, mais que o dobro de 2014.
Com suas declarações, realizadas durante o turno de perguntas após sua intervenção no Fórum Europa-Tribuna Mediterrâneo de Valência, Cañizares se afastou da posição que o papa Francisco manteve diante da crise dos refugiados. O pontífice pediu em setembro que cada paróquia, comunidade religiosa, mosteiro e santuário da Europa acolhesse uma família. “Dirijo-me a meus irmãos bispos da Europa, verdadeiros pastores, para que em suas dioceses atendam ao meu apelo, lembrando que Misericórdia é o segundo nome do Amor”, pediu o papa durante a oração do Ângelus em Roma.
Cañizares também se distanciou com sua colocação do trabalho que desenvolve a Cáritas. A entidade da igreja na Espanha lidera uma comissão que canaliza o voluntariado católico em favor dos refugiados e reclama “direitos para todos os migrantes” sob o lema “Mais hospitalidade, mais dignidade”.
A Conferência Episcopal Espanhola não avaliza as opiniões manifestadas por seus bispos. Mas hoje marcou diferenças com o que Cañizares expressou devido a uma mensagem no Twitter da eurodeputada socialista Elena Sevillano. “A hierarquia católica espanhola, sempre tão compassiva e cristã”, escreveu a dirigente do PSOE junto a uma citação do arcebispo de Valença. “Obras são amores”, respondeu-lhe na rede social a Conferência Episcopal junto a dois links da internet com as iniciativas que desenvolvem as dioceses. “A Igreja Católica espanhola, diante da crise humanitária provocada pela chegada maciça de migrantes e refugiados, põe à disposição desta emergência todos os recursos disponíveis humanos e materiais”, resume-se em um deles.
A vice-presidente valenciana, Mònica Oltra, o prefeito de Valência, Joan Ribó, e a de Barcelona, Ada Colau, assim como a Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados), criticaram também as declarações de Cañizares.
Conhecido por suas posições conservadoras no seio da igreja, o cardeal chamou a atenção da mídia ao convocar uma vigília pela “unidade da Espanha” às vésperas das eleições ao Parlamento da Catalunha.
Cañizares se encarregou da arquidiocese de Valência há um ano, em substituição a Carlos Osoro, que foi nomeado pelo papa arcebispo de Madri.
Durante o desjejum informativo, o cardeal relativizou os efeitos da crise econômica na Espanha, ao afirmar que não vê “mais gente pedindo na rua ou vivendo sob uma ponte que antes”. Ele descartou que nas próximas décadas possam ser ordenadas sacerdotisas na Igreja Católica. “Não, não as haverá”, concluiu, “o sacerdócio representa a presença de Cristo, e este é homem.”
[b]Fonte: El País[/b]