O ex-interno da Febem Anderson Batista, 26 anos, e Conceição Eletério, 45 anos, deixaram a prisão nesta terça-feira após serem absolvidos do crime de extorsão contra o padre Júlio Lancellotti. A decisão foi tomada nesta segunda-feira pelo juiz Caio Farto Sales, da 31ª Vara Criminal, cuja sentença não foi divulgada, pois o caso corre em segredo de Justiça.
Em 2007, o padre Lancellotti procurou à polícia e afirmou estar sendo chantageado pela quadrilha desde 2004. Segundo ele, o bando o extorquia com ameças de denúncias de pedofilia. Anderson Batista é suspeito de comandar o tráfico na região do Belém, onde o padre atua na paróquia de São Miguel Arcanjo, e de ligações com o crime organizado que em 2006 promoveu atentados terroristas em todo o estado.
Batista, que ficou preso por sete meses, responde a um processo por homicídio, mas não havia mandado de prisão contra ele por este crime. Por isso, foi libertado. Ao deixar a cadeia, Batista voltou a afirmou que recebeu cerca de R$ 600 mil do padre durante sete anos em que os dois tiveram um relacionamento homossexual. Disse que Lancellotti o denunciou “por ciúme”, depois que ele se casou com Conceição.
Lancellotti afirma que foi extorquido pelo ex-interno da Febem, que no início era ajudado pela Igreja mas que depois passou a exigir quantias cada vez maiores em função da chantagem. O padre teria procurado a polícia paulista em 2004 para falar sobre o problema, mas não quis abrir processo formal, o que só foi feito em 2007.
Batista não fez ameaças contra o padre. Disse que foi feita Justiça e que “cada um vai cuidar da sua vida” a partir de agora.
Conceição Eletério, que deixou a Penitenciária Feminina de Santana, disse estar feliz, mas “revoltada” por ter passado sete meses na cadeia sendo inocente. Quem a esperou na saída foi uma amiga, que não quis dar nome porque também já foi presa.
Conceição contou que ficou o tempo todo sem receber visitas, porque não tem família, e disse que tudo o que queria naquele momento era rever o marido, Anderson.
Os outros dois acusados pelo crime, os irmãos Evandro e Everson Guimarães, foram soltos no início da noite de ontem. Os dois eram acusados de receber R$ 20 para entregar ao padre bilhetes com ameaças feitas pelo casal.
Em nota, o advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, que representa o padre como assistente do Ministério Pùblico na acusação, disse que teme pela segurança do religioso , que foi ameaçado por três anos. O advogado recebeu a decisão com surpresa. Cabe ao Ministério Público recorrer da decisão.
No apartamento onde Batista foi preso, no centro, havia vários aparelhos eletrônicos, como TV de plasma e aparelho de som, avaliados em R$ 30 mil. A moradia era paga pelo advogado Nelson Bernardo Costa, que assumiu a defesa de Bastista após a denúncia.
Greenhalg afirmou que o religioso procurou a polícia em 2004 para falar sobre as ameaças. Ele teria sido atendido pelo secretário adjunto de Segurança Pública, na época, Marcelo Martins, e encaminhado para o delegado geral adjunto, Luiz Carlos dos Santos. A polícia diz que nada fez de concreto porque Júlio Lancelotti não quis formalizar a queixa contra Anderson.
Só no ano passado Lancelotti foi orientado a gravar as conversas com Anderson Batista e acumular provas contra a quadrilha. Segundo Greenhalg, o então governador Geraldo Alckmin chegou a colocar um segurança para acompanhar o padre e foi feita uma investigação sem abertura de inquérito. Neste período, o padre teria sido vítima de dois assaltos à sua residência e, num deles, o bandido deixou lá um celular, que teria sido entregue à polícia para investigação. O celular, no entanto, desapareceu na delegacia.
Fonte: O Globo