Se contra o aborto praticamente há uma unanimidade entre os religiosos de esquerda, as temáticas sobre os homossexuais dividem essa bancada. Há os que defendem todos os pleitos de gays, lésbicas e travestis e há os que têm restrições em diversos pontos.

Favorável à união civil dos homossexuais e até à adoção de crianças por eles, caso isso seja comprovado por psicólogos, o senador paranaense Flávio Arns é contra o projeto de lei com o objetivo de criminalizar a homofobia. Ele diz que, na verdade, a proposta acaba com o direito à crítica e considera discriminação qualquer restrição a atos amorosos em público.

O senador católico acredita que os parceiros gays e lésbicas devem ter todos os direitos fundamentais, como pensão e herança. Concordam com ele o senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) e o deputado Mauro Nazif (PSB-RO), filho de palestino, mas também católico.

Porém, Mauro Nazif discorda do chamado “casamento gay”, matrimônio celebrado entre duas pessoas do mesmo sexo. O evangélico Gilmar Machado (PT-MG) também. “A Bíblia diz que o casamento foi feito para macho e fêmea.”

Machado se posiciona pessoalmente contra a adoção de crianças por pessoas do mesmo sexo, mas destaca que a lei não proíbe a atitude. “Não existe para mim casal homossexual”, explica.

Sem discussão por lei

Inácio Arruda diz que aborto e temáticas homossexuais não são fundamentais para o país, como saúde e educação. “Com isso nunca me preocupei. Será que esse é o problema central nosso? E emprego, educação e saúde?”, questiona o senador do PCdoB.

Outro a defender que não devem ser feitas leis sobre esses assuntos é o evangélico Walter Pinheiro (PT-BA). “As pessoas estão querendo transformar coisas de foro íntimo em amarras, em legislação”, diz ele, atualmente licenciado por ser o secretário de Planejamento da Bahia.

Pinheiro tem o seguinte raciocínio: o Estado deve usar o princípio Constitucional de defender a vida. Assim, não pode, por exemplo, ser negado tratamento médico a uma mulher que esteja sofrendo em decorrência de aborto. “Não dá para perguntar se o aborto foi provocado na casa dela ou se era espontâneo. Tem que ser atendida”, diz. O deputado licenciado acredita que as clínicas de aborto clandestino devem ser combatidas pelo Ministério da Saúde.

E reforça que não é necessária nenhuma lei a mais sobre a união civil e a adoção por homossexuais. Pinheiro diz que os problemas de herança, pensão e patrimônio são resolvidos com a legislação atual e com as decisões da Justiça. E que a adoção das crianças por gays e lésbicas já é permitida, apesar de ele ser pessoalmente contra.

“Sou contra porque a criança tem um curso natural interrompido”, diz Pinheiro. Bassuma vai além: “Acho que é, para a criança, um processo psicológico muito sério. As crianças têm um modelo de pai e mãe. Elas vão ter um prejuízo em sua formação psicológica. A sociedade é uma coisa e o lar delas será outra”, diz o deputado.

O que dizem os religiosos de esquerda sobre temas espinhosos

Conheça a opinião de seis parlamentares, praticantes de diferentes credos, sobre aborto, união civil homossexual e adoção de crianças por pessoas do mesmo sexo



Parlamentar


É a
favor do aborto, em qualquer circunstância?


E da
união civil de homossexuais, para fins de pensão e herança?

 


E da
adoção de crianças por pessoas do mesmo sexo?

Inácio
Arruda (PCdoB-CE), senador, católico


SIM
.
“Não devemos colocar a questão como a favor e contra. O Estado tem que dar a
proteção máxima para as mulheres decidirem.”


SEM
OPINIÃO
.
“Essa é uma questão das pessoas. Não podemos estabelecer uma regra
proibitiva.” Diz que vai esperar um projeto da Câmara sobre o tema para se
posicionar.


SEM
OPINIÃO
.
“Essa é uma questão das pessoas. Não podemos estabelecer uma regra
proibitiva.” Diz que vai esperar um projeto da Câmara sobre o tema para se
posicionar.

Flávio
Arns (sem partido-PR), senador, católico


NÃO
.
“Não é uma questão religiosa, mas de direito à vida, ao direitos humanos,
solidariedade e amor ao próximo.”


SIM
.
“Sou a favor da realização de todos os direitos fundamentais.”


SIM
.
“Para a adoção, vai ter que fazer o estudo com as pessoas, como acontece com
os heterossexuais.”

Gilmar
Machado (PT-MG), deputado, evangélico


NÃO.

“Eu
defendo que só em casos previstos em lei, risco para a mãe e estupro. Para
os outros casos, a Constituinte fez um debate com a sociedade e a sociedade
se mostrou contra.”


SIM.

“Todo
mundo tem que ter direito ao que a Constituição diz.”


NÃO
.
“Não existe para mim casal homossexual, mas a lei já permite a adoção por
pessoas do mesmo sexo.”

Luiz
Bassuma (PT-BA), deputado, espírita


NÃO.

“Não é só um assassinato de uma pessoa, tem aspectos espirituais.”


SIM. “
Ao
reconhecimento civil, eu não tenho restrições.”


NÃO.

“As
crianças vão ter um prejuízo em sua formação psicológica. A sociedade é uma
coisa e o lar delas será outra.”

Mauro
Nazif (PSB-RO), deputado, católico e filho de palestino


NÃO
.
“Eu defendo só em caso de risco de vida para mãe e estupro. O direito à vida
tem sempre que ser resguardado.”


SIM.

“Ter direito a pensão, sim, desde que seja comprovado o estabelecimento da
relação.”


SIM. “
Qualquer
pessoa pode adotar um filho, seja ela quem for, desde que estejam aptas.

Walter
Pinheiro (PT-BA), deputado, evangélico


EM TERMOS
. Diz
que esse tema não deve ser colocado em lei, mas resolvido por políticas
públicas. “Eu defendo a vida. Mas o princípio da vida me diz que eu tenho
que atender todo mundo nos hospitais.”


SIM.

Diz que
a lei atual e as decisões judiciais já garantem os direitos patrimoniais de
heterossexuais e homossexuais.


NÃO.

“A criança tem um curso natural interrompido”. Porém, destaca que a lei já
permite isso.

Fonte: Congresso em Foco

Comentários