António Guterres na mesquita de al-Azhar, no Cairo, capital do Egito. Foto: ONU/Mahmoud Abd ELLatiff
António Guterres na mesquita de al-Azhar, no Cairo, capital do Egito. Foto: ONU/Mahmoud Abd ELLatiff

Em passagem pelo Egito, o chefe da ONU, António Guterres, pediu na terça-feira (2) que os cidadãos do mundo rejeitem líderes políticos e religiosos que fomentam a intolerância.

Durante visita à histórica mesquita de al-Azhar, na capital Cairo, o secretário-geral alertou para o avanço do discurso de ódio e da polarização nas democracias, onde mulheres, minorias, refugiados e migrantes têm sido cada vez mais estigmatizados.

“Em todo o mundo, estamos vendo um ódio antimuçulmano, um antissemitismo, um racismo e xenofobia sempre crescentes. O discurso de ódio está ganhando predominância, espalhando-se como fogo pelas redes sociais e pelo rádio. Nós o vemos se espalhar nas democracias liberais, assim como em Estados autoritários”, disse Guterres em discurso no templo islâmico, construído há mais de mil anos.

“Essas forças obscuras ameaçam valores democráticos, a estabilidade social e a paz. Elas estigmatizam mulheres, minorias, migrantes e refugiados. Quando as pessoas são atacadas, fisicamente, verbalmente ou nas redes sociais, por causa da sua raça, religião ou etnia, toda a sociedade é diminuída.”

O dirigente máximo das Nações Unidas ressaltou ainda que “todos nós temos um papel a desempenhar na reparação dessas fissuras e no fim da polarização que estão tão prevalentes em muitas de nossas sociedades hoje”. “Nossos líderes de fé, em particular, têm um papel muito importante”, acrescentou o secretário-geral.

Lembrando o atentado recente contra duas mesquitas na Nova Zelândia, orquestrado por um autodeclarado supremacista branco, Guterres expressou solidariedade para com os fiéis islâmicos.

O chefe da ONU observou que um ataque similar, realizado por um atirador solitário, aconteceu em outubro passado, na cidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, dessa vez contra judeus. Na sequência do episódio de violência, frequentadores de outras igrejas, incluindo muçulmanas, se uniram para proteger e apoiar sobreviventes.

“Esse é o espírito que eu sei que está profundamente ancorado no Islã, uma fé de amor, compaixão, perdão, misericórdia e graça”, afirmou o chefe da ONU.

Ainda sobre a cooperação entre integrantes de diferentes religiões, Guterres recordou o encontro do papa Francisco com o imã de al-Azhar, o sheik Ahmed al-Tayeb, em fevereiro, em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos. O secretário-geral descreveu o texto comum aprovado pelos dois líderes religiosos como “um testemunho fantástico do respeito mútuo, da tolerância, da compaixão e da paz”.

Em seu discurso, o secretário-geral disse que “os muçulmanos pagaram um preço alto por conta das ações de ‘um punhado de criminosos’”.

“Nada justifica o terrorismo e (isso) torna-se particularmente horrendo quando a religião é invocada”, afirmou Guterres, enfatizando que “todas as religiões concordam que Deus proíbe o assassinato”.

O chefe da ONU lembrou que o imã al-Tayeb já pediu aos muçulmanos do Oriente Médio que protejam comunidades cristãs, sujeitas ao terror de grupos fundamentalistas como o ISIL.

“Também elogio as iniciativas tomadas por al-Azhar para promover a verdadeira face do Islã e combater filosofias extremistas violentas e a propaganda terrorista”, acrescentou o dirigente.

“Temos de combater e rejeitar figuras religiosas e políticas que exploram as diferenças. E temos de nos perguntar por que tantas pessoas se sentem excluídas e por que elas são tentadas pelas mensagens extremas de intolerância contra o outro”, completou Guterres.

Mais tarde, na terça-feira, Guterres usou a sua conta no Twitter para comentar sua visita ao Grande Museu Egípcio, que descreveu como “um lembrete impressionante de como o mundo árabe abriu as portas para descobertas e possibilidades épicas”.

Fonte: ONU

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