A primeira grande exposição feita na China sobre a vida do jesuíta italiano Matteo Ricci (1552-1610) abre sábado em Pequim, assinalando uma atitude mais “positiva” das autoridades comunistas acerca da religião e dos antigos missionários europeus.
A exposição, com 200 peças de instituições chinesas e italianas, entre as quais algumas “obras-primas” do Renascimento, estará patente no novo Museu da Capital, em Pequim, até 20 de março, seguindo depois para Xangai e Nanjing.
Matteo Ricci (“Li Madou”, em chinês) foi o primeiro missionário católico europeu autorizado a viver em Pequim, em 1601.
A exposição, intitulada “Um Encontro de Civilizações na China (da dinastia) Ming”, apresenta-o como “um herói da história cultural do mundo” e “a primeira pessoa que estabeleceu uma sólida ponte cultural entre o Ocidente e a China”.
“É um acontecimento cultural extremamente importante e fortalecerá também os laços com a China”, disse um responsável italiano acerca da exposição.
O responsável, que falava em Itália, na terra natal de Ricci, referia-se aparentemente às relações China-Vaticano, cortadas desde a tomada do poder pelo Partido Comunista Chinês (PCC), há 60 anos.
Na Europa, a Santa Sé é mesmo o único Estado que mantém relações diplomáticas com Taiwan, a ilha onde se refugiou o antigo governo chinês depois de 1949 e que Pequim considera uma província da China.
Outro tema de divergência diz respeito aos bispos da Igreja Católica Patriótica Chinesa, que são nomeados localmente e não pelo Vaticano.
Ricci viveu quase metade da sua vida na China, cuja cultura e língua acabou por conhecer profundamente, e foi sepultado num cemitério de Pequim com as honras devidas a um mandarim.
Aquele jesuíta italiano, que chegou a Macau em 1582, vindo de Portugal, é visto hoje na China como “um ocidental confuciano”, mas até há poucos anos, os missionários europeus que acorreram ao pais nos séculos XVII e XVIII eram considerados “agentes do colonialismo”.
“Tirando partido dos seus contactos com funcionários chineses e os cidadãos em geral, os missionários conseguiram obter informações acerca da China e ajudar os colonialistas na sua agressão contra a China”, afirma o “Panorama da História da China”, publicado em 1982 e reeditado em 2008.
No início deste ano, o novo diretor da Administração Estatal para os Assuntos Religiosos, Wang Zuoan, indicou que a China continua fiel ao ateísmo, mas ao contrário da antiga União Soviética, deixou de encarar a religião como “o ópio do povo”.
“O Partido Comunista Chinês começou a encarar a religião numa perspectiva mais positiva (…) A antiga União Soviética e as nações do (extinto) Pacto de Varsóvia não conseguiram lidar bem com as questões religiosas. Isso foi uma profunda lição para a China”, disse Wang Zuoan.
Fonte: Lusa