Defender e promover a exuberância da vida na Amazônia. É com esse intuito que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) escolheu a Amazônia como tema da Campanha da Fraternidade 2007.
O texto-base da campanha, cujo lançamento será dia 1º de abril, considera a Amazônia com “berço generoso da vida” e propõe uma discussão ampla sobre sua realidade humana, sociopolítica, econômica e ambiental por parte da Igreja e da sociedade como um todo.
Com essa campanha, a CNBB pretende suscitar um debate sobre a questão da Amazônia na sociedade brasileira no horizonte das exigências éticas da justiça, do respeito à vida, da solidariedade e da fraternidade. “A idéia é trazer a Amazônia mais parte dentro dos corações de todos os brasileiros e desperte iniciativas e ações eficazes de valorização e defesa daquela vasta e ameaçada região, antes que seja tarde demais”, afirma o secretário-geral da CNBB, dom Odilo Pedro Scherer, no texto-base da campanha.
Dom Scherer diz ainda que o egoísmo e a ganância na exploração das riquezas, assim como o descuido e a imprudência, ameaçam seriamente patrimônio natural da Amazônia. “A devastação da Amazônia representa uma ameaça e uma perda para toda a humanidade”. Segundo o bispo, a campanha foi idealizada com base no clamor dos povos da região e da necessidade de uma grande ação solidária de toda a Igreja para a evangelização das Amazônia.
A CNBB quer, com essa campanha, despertar as pessoas para que elas conheçam, apreciem e respeitem a vida que a Amazônia guarda: seus povos, sua biodiversidade, sua beleza. Também quer que a sociedade brasileira repense, a partir da realidade amazônica, o modelo de desenvolvimento para o País e busque construir uma sempre renovada relação de acolhimento, respeito e cuidado com todas as pessoas e com a natureza, “lutando, com firmeza, contra todas as formas de morte, em defesa da vida, sobre tudo a dos mais fracos”.
Amazônia está em jogo
O texto-base faz uma defesa intransigente da soberania da Amazônia. E conclama os brasileiros a defenderem a riqueza da biodiversidade, a abundância das águas, a grande quantidade de terras, a fartura de madeira e os minérios estratégicos no subsolo da região, causas do interesse e da cobiça internacional.
A CNBB defende, no texto, a necessidade de criação de uma frente pan-amazônica para promover e globalizar a defesa dos povos e do patrimônio natural e cultural da Amazônia. A entidade diz que somente com essa união será possível contrapor-se à cobiça destruidora do mercado presente em empresas e grupos nacionais e transnacionais que pretendem intervir na Amazônia.
A devastação da Amazônia é outro destaque no documento da Campanha da Fraternidade 2007. Ele lembra, por exemplo, que a Amazônia é um fator de equilíbrio essencial para todo o planeta e que a vida da região tem a ver com a qualidade de vida global da Terra. “Por isso, é necessário, por um lado, resistir ao processo de devastação. E, por outro, denunciar o discurso conservacionistas dos que, ao querer salvaguardar a Amazônia, só desejam garantir seus interesses e sua qualidade de vida”.
E nesse aspecto, a CNBB propõe que as políticas ambientais, econômicas e sociais tenham, como primeiro e mais importante objetivo, a vida com qualidade das populações tradicionais e as demais categorias exploradas que vivem na Amazônia. A campanha ainda defende um estudo aprofundado dos conhecimentos e dos saberes dos povos tradicionais, imprescindíveis para forjar uma consciência crítica da Amazônia. “Esse conhecimento, porém, não pode tomar a forma de monopólio do saber, de patentes surrupiadas, manipulação folclórica e violência cultural”.
Desinformação e preconceito
Em seu texto-base, a Campanha da Fraternidade condena a desinformação e o preconceito da sociedade em relação aos povos e ao mundo da Amazônia. “Os povos da Amazônia não são que vivem no atraso e na ignorância”, destaca. Para Dom Odilo Scherer, a percepção do significado histórico be simbólico da Amazônia pode levar-nos a descobrir, junto com seus povos, uma visão mais humana e generosa da vida. “O modo de vida dos povos da Amazônia pode ser um parâmetro para o mundo todo”, afirma.
Ainda de acordo com o documento, o exemplo de vida dos povos das Amazônia é um convite para que as pessoas mudem seus estilos de vida. “Cada uma e todas as pessoas, dentro das condições e no bioma (comunidade biológica) em que vivem, precisam converter-se a um estilo de vida baseado na simplicidade e na sobriedade, no respeito e no cuidado para com a natureza, na valorização do outro com parte imperativa de sua existência no presente e no futuro das gerações”. O texto ainda ressalta que o modo de vida dos povos da Amazônia oferece um contraponto para uma reflexão sobre um novo caminho para o Brasil e para a humanidade.
Fonte: Agencia Amazônia de Noticias