Sabe aqueles filmes que geram polêmica mais por fatores externos do que pelo conteúdo em si? Pois esse é exatamente o caso de “A Entrevista” (“The Interview”). Não tenho dúvida de que só lembraremos desse filme no futuro por conta da reação do líder Norte-Coreano Kim Jung-un e a subsequente invasão de hackers aos computadores da Sony.
A Coreia do Norte chegou mesmo a dizer que se os EUA permitissem a exibição do filme, isso seria considerado um “ato de Guerra”! O doidivanas do Kim Jung-un deve estar tão acostumado a mandar e desmandar no sofrido povo Norte-Coreano e a escolher arbitrariamente o que eles podem ver e ouvir, que não se ligou ao fato de que o presidente dos EUA não tem poderes para impedir a exibição de qualquer filme, peça de teatro, ou show musical. Jung-un está tão acostumado a ditar as regras que pensa que Obama pode fazer o mesmo com o povo Americano.
Se já não bastasse a reação desmedida do líder Norte-Coreano, até mesmo o presidente dos EUA Barack Obama, entrou no imbróglio, chegando mesmo a dar um puxão de orelhas na Sony por ter cancelado o lançamento do filme no final do ano passado. O cancelamento por sinal, foi o que gerou maior repercussão no mundo todo. Muitas teorias da conspiração surgiram e teve quem afirmasse que tudo não passava de uma estratégia de publicidade. Verdade ou não, a situação toda acabou por divulgar o filme ainda mais. Muitos, como eu, por exemplo, ficaram curiosos para saber se toda a reação causada pelo filme tinha algum sentido. Outros viram o ataque cibernético e as ameaças do ditador Norte-Coreano como uma motivação a mais para assistir ao filme.
Só mesmo essa situação toda para justificar uma tentativa de assistir “A Entrevista”. O filme é ruim demais. Eu já não gostava do ator James Franco, mas aqui ele está absolutamente insuportável. Nem o simpático Seth Rogen se salva. O filme é um conjunto de piadas grosseiras e sem graça, com palavrões e situações chulas espalhadas por suas quase duas horas. Não há defesa para o mau gosto de “A Entrevista”. Mas, isso nem vem ao caso.
O atentado terrorista ocorrido na França contra o jornal Charlie Hebdo pouco tempo depois terminou sendo mais um componente mórbido e surreal a essa situação toda, trazendo à tona a velha discussão sobre os limites do humor. As charges do Charlie Hebdo são também grosseiras e desrespeitosas. Não me sinto na menor obrigação de defender nem o jornal nem o filme. O que defendo é o direito das pessoas de expressarem suas ideias sem correrem o risco de serem assassinadas com tiros de fuzil automático ou terem sua privacidade invadida por hackers profissionais. Isso afeta a todos nós de uma forma ou de outra.
O conceito de Liberdade abrange também o mau gosto, a grosseria e até mesmo a ofensa. Se houver abuso, que venham processos e multas, mas calar a voz de quem quer que seja é sempre algo preocupante e uma ameaça à democracia.
E no final das contas, Kim Jung-un mostrou certa burrice ao dar importância a um filme tão besta e sem valor. Se tivesse levado na esportiva, certamente teria lucrado mais e conquistado alguma simpatia mundo à fora.
Um abraço,
Leon Neto