Como a maioria dos brasileiros, eu pouco conhecia sobre musica portuguesa; apenas o grupo “MadreDeus”, que é um dos meus favoritos, e um pouquinho, muito pouco sobre Fado.
Como a maioria de nós, acho que tinha até mesmo um certo preconceito sobre Portugal. Nunca planejei uma visita e nunca me interessei por sua musica e cultura. Acho que muito por conta de uma certa mentalidade de colônia, que nos faz inclusive, ter pouco interesse, por nossos vizinhos sul-americanos. Normalmente juntamos nossas economias para ir aos Estados Unidos e Europa e não damos a menor bola para os belíssimos itinerários na Argentina, Chile, Peru e Bolívia, infelizmente. E quando se pensa em Europa, geralmente vem à mente Paris, Londres, Roma, Veneza, nunca Lisboa.
Somente depois que tive a oportunidade de visitar Portugal pessoalmente é que minha visão limitada mudou radicalmente. Em primeiro lugar, fiquei embasbacado com a beleza daquele país; nós brasileiros somos sempre tão orgulhosos das belezas naturais do Brasil, e pensamos que não há país como o nosso, mas fiquei extremamente encantado com as paisagens de Portugal. Por cada esquina respira-se historia a todo o momento, há uma infinidade de Igrejas, museus, prédios antigos, castelos e ruínas medievais. Tudo muito bem cuidado e preservado. É fácil perceber que o Brasil ainda é um apenas um adolescente, historicamente falando. Foi muito interessante ver as similaridades arquitetônicas entre o centro histórico de Lisboa e as ruas antigas de Olinda, entre os casarões e prédios do século XVIII da cidade do porto, e as mansões e museus de Petrópolis. A topografia de Portugal também é belíssima e imponente, com um litoral belíssimo e os rios Tejo e Douro cortando em quatro aquele pequeno país. O rio Tejo por sinal é uma maravilha, com suas águas azuis circulando por Lisboa, uma visão estonteante.
Mas, o que mais me cativou nessa viagem, foi a possibilidade de travar contato direto com a cultura portuguesa e em especial sua musica. Claro que eu precisei de algum tempo para começar a entender o que se falava nas ruas; o sotaque e as expressões idiomáticas fazem do português que se fala em Portugal quase uma língua diferente da nossa. Bem, gramaticalmente, eles falam muito melhor do que nós (afinal de conta são os inventores da língua); mas de toda forma, nossos ouvidos não estão acostumados com aquela inflexão e com as peculiaridades da pronuncia. Até mesmo o senso de humor é um pouco diferente; as piadas são mais diretas, sem rodeios, vão direto ao ponto. Fiquei alguns dias com uma família de amigos muito queridos e degustei cada momento com eles, especialmente com as crianças que me deram uma visão bem autêntica do português que se fala no dia a dia em Portugal.
A musica portuguesa é um capítulo à parte e mereceria muitas colunas. Fiquei particularmente fascinado pela cultura do Fado. Digo “cultura”, porque o Fado é muito mais do que musica, mas todo um universo artístico. Tive a maravilhosa oportunidade de participar de uma noite de Fado na cidade do Porto, onde fui imerso por quase três horas na cultura Fadista. O que chama a atenção logo de cara, é o respeito que se tem pelo Fado; quando alguém começa à cantar, todos param de conversar (estávamos em um restaurante), as luzes são apagadas, e todos participam da apresentação com reverência e entusiasmo ao mesmo tempo. O Fado é uma forma popular extremamente lírica, onde a poesia é preponderante. Há uma interação perfeita entre texto e musica, que exige dos cantores uma grande carga emocional nas interpretações. No encontro que participei, quase nenhum dos cantores era profissional, mas mesmo assim, pude ver um grande envolvimento de todos com as canções e fui brindado com interpretações vibrantes e emocionadas.
Os textos dos fados combinam singeleza com profundidade de uma forma tocante. Fado não é musica para se ouvir enquanto se conversa ou assiste a um jogo de futebol; tem-se que prestar atenção à letra e degustar cada nuance. A instrumentação é constituída basicamente de violão e guitarra Portuguesa, um instrumento belíssimo, que parece um bandolim gigante. As frases e contracantos que a guitarra portuguesa faz ao longo dos fados, deixa esse gênero ainda mais belo e fascinante, acrescentando virtuosismo como contraponto às singelas frases melódicas. De todas as formas musicais populares que conheço, o fado é certamente das mais refinadas.
Só fiquei triste ao saber que as igrejas evangélicas portuguesas não usam essa bela tradição em seus cultos. Aliás, não consegui, no pouco tempo que tive, tomar conhecimento de nenhum grupo ou cantor de musica cristã contemporânea em Portugal. Os que vi, ou eram brasileiros, ou usavam as mesmas musicas que usamos em nosso cultos no Brasil. É uma pena, pois o Fado caberia como uma luva dentro desse contexto, ilustrando com poesia e sensibilidade toda a profundidade do evangelho. Sonho um dia voltar à Portugal e ver grupos evangélicos fazendo uso do Fado e outras tradições Portuguesas para glorificar o nome de Deus.
Para coroar a minha viagem, ganhei de minha sogra uma belíssima guitarra portuguesa!
Agora só falta aprender à tocar…
Um abraço,
Leon Neto