O clamor de Rodolfo Abrantes

“Eu tomo pinga com a Dominga dançando curtindo Wando
E não consigo nem levantar pra mudar o disco
Um bicho velho cheio de risco mau serve pra abanar
Eu tô comendo bem no restaurante Morte Lenta
A cozinheira é uma nojenta
que vive limpando a venta no avental
Eu tô passando mal tô com saudade mainha”

Assim diz a canção “Reggae do Maneiro”, um dos sucesso da banda Raimundos que se tornou um dos grupos mais conhecidos dos anos 90. Fazia parte da banda e foi um dos compositores da “obra-prima” acima, Rodolfo Abrantes que hoje é cantor evangélico e ministro de louvor.

Os Raimundos, com seu estilo despojado, básico e com toques de humor, conquistou seu público com uma mistura de punk rock, pop e até mesmo forró. Como podemos ter uma amostra grátis com a letra acima, não era nada muito elaborado, mas os garotos esbanjavam simpatia e carisma e conseguiram falar a linguagem de uma geração que ainda não sabia bem a quem seguir, após a New Wave e os rocks românticos do Bon Jovi e Guns ‘n Roses.

Rodolfo se converteu em 2001, quando a banda Raimundos ainda fazia bastante sucesso, embora já não estivesse mais no auge que alcançou, por conta da MTV que tocava seus clips incessantemente. A conversão de Rodolfo pegou a todos de surpresa; imprensa, fãs e até mesmo os outros integrantes, que chegaram à encerrar as atividades da banda, muito embora após alguns meses três dos antigos componentes tenham voltado a tocar juntos.

O que mais me impressionou na conversão de Rodolfo, foi a forma discreta e sem alardes com que ele tratou todo o processo. Ao contrário de outras celebridades que logo em seguida passaram a frequentar programas de auditório e a lançar trabalhos evangélicos, Rodolfo ficou meio que fora dos holofotes, e não fez grandes estardalhaços sobre sua conversão. Tanto que quando voltou à cena musical, foi com um trabalho secular à frente da banda Rodox. O seu primeiro disco evangélico só veio mesmo em 2006, com “Santidade ao Senhor”, 5 anos após sua conversão.

De lá para cá, já são 4 discos cristãos e um DVD com seu testemunho. Fico feliz em perceber que sua conversão foi genuína, autêntica e de ver Rodolfo sempre sóbrio em suas entrevistas e ministrações, falando com propriedade e demonstrando bom conhecimento bíblico.

Recentemente um vídeo de Rodolfo se tornou um dos arquivos mais assistidos no Youtube. No clipe, gravado na Igreja Batista da Lagoinha em Belo Horizonte, ele conclama todo o povo evangélico a “levantar um clamor pelo fim da cultura gospel, pelo fim dos artistas gospel, pelo fim do mercado gospel, pelo fim dos fãs gospel”. O cantor vai mais longe ao afirmar que “altares de adoração” têm sido erguidos pelo país e que os fãs têm dedicado verdadeira idolatria por seus cantores e bandas preferidas. Aproveitando a passagem do Papa Francisco pelo Brasil, Rodolfo chegou mesmo a fazer uma analogia da idolatria dos artistas “gospel” com a idolatria do povo católico pelo papa.

Palavras fortes, sem dúvida. E acho que Rodolfo não está longe da verdade. Não sei se simpatizo necessariamente com esse “clamor pelo fim do mercado gospel”, já que o problema, na minha opinião, não é o mercado, mas sim os consumidores, mas concordo com ele quando diz que a idolatria que alguns fazem com seus artistas não é nada diferente da igreja católica, que tanto criticamos. E não só cantores necessariamente, mas pastores também. Alguns desses, que também chegaram à categoria de “popstars” geram idolatria semelhante, e seus seguidores às vezes esquecem que os “ungidões” são falhos e pecadores como todos nós.

O mercado gospel não vai acabar. Acho muito difícil e nem acho necessário. Mas, o desafio de Rodolfo Abrantes fica aí para nós todos. Nossa adoração deve ser dirigida para o Único que a merece de fato e para nenhum outro. Fica o desafio de rejeitar a iconização de quem quer que seja. Devemos sim, fazer o que o próprio Rodolfo fez desde sua conversão: Viver uma vida de simplicidade e coerente com os princípios Cristãos e se afastar do mercantilismo selvagem que tem tragado a muitos, nos últimos anos.

“Ligado em ti
Teus olhos nos meus
Eu volto a respirar
Me entrego mais
Pois só o Teu espírito faz

Meu dia melhor
Tu és o motivo
De eu me sentir
Cada vez mais vivo

Te chamo de Pai
Tu és tudo o que eu preciso
Rei eterno e meu Deus vivo”

(Rodolfo Abrantes)

Um abraço,

Leon Neto

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