Ódio em nome de Deus

Diante de todo o barulho que a lei contra a homofobia vêm causando nos últimos meses, qualquer tema ligado à homossexualismo tem que ser tratado com muito cuidado. Mas, após assistir ao documentário “Fall from Grace” (ainda sem título em português), não poderia me furtar a abordar o assunto.

O documentário retrata a vida do pastor norte-americano Fred Phelps, que têm dedicado boa parte de sua vida à uma jornada sem limites contra o homossexualismo. Mais do que um combate ideológico ou doutrinário, o Reverendo Phelps ultrapassa os limites da lógica e culpa os homossexuais por todas as mazelas da humanidade. Ele chega ao ponto extremo de atribuir tragédias como os ataques de 11/9 aos homossexuais e a degradação moral norte-americana.

O pastor e sua Igreja tornaram-se notórios na mídia americana ao iniciar uma campanha de promulgação de suas posições radicais através de piquetes em locais públicos, ostentando placas com frases de efeito com dizeres tipo “Deus odeia os homossexuais”, “vocês vão todos para o inferno” e coisas semelhantes.

Alguns desses piquetes aconteceram em funerais de soldados americanos mortos em ação no Iraque e Afeganistão, baseados no fato de que o exército americano ter admito homossexuais em seus quadros é suficiente para eles considerarem a morte de soldados como um ato de vingança Divina. Imaginem só como seria se no enterro de um de seus entes queridos um grupo de lunáticos estivesse por perto com cartazes dizendo “Graças a Deus pelos soldados mortos”, “tomara que morram muitos mais” e outros absurdos. Mas, por aqui a constituição garante o livre direito de expressão e o pastor e sua Igreja continua sua jornada de manifestações públicas até hoje.

O que mais me impressionou no filme, foi a forma como as crianças são instruídas desde cedo a cultivarem esse ódio desmedido. Foi chocante ver um menininho de no máximo dez anos falar com tanto ódio sobre homossexuais e até mesmo dizer abertamente que se pudesse mataria todos os homossexuais. Nada diferente do que grupos neo-nazistas fazem com suas crianças.

Para mim, a discussão aqui não tem nada a ver com homossexualismo, mas sim com Cristianismo. É inaceitável que pessoas que se dizem cristãs cultivem ódio e intolerância. Temos que ser intolerantes com o pecado, mas nunca com os pecadores. Afinal de contas todos nós, cristãos, budistas, homossexuais, pedófilos, somos pecadores. Não somos melhores do que ninguém. A vitória sobre o pecado se dá pela Graça de Deus e não por nossos méritos. Além disso, quem é que falou que um pecado é pior do que o outro? Por quê esse ataque específico ao homossexualismo e não à mentira, ou ao adultério, ou a ganância, ou qualquer outro pecado?

Como seguidores de Cristo, deveríamos estar nos perguntando sobre qual seria a postura Dele diante dos homossexuais hoje. Na minha opinião, certamente condenaria o pecado, mas demonstraria amor e misericórdia da mesma forma que fez aos criminosos, prostitutas e excluídos, com os quais conviveu quando esteve entre nós.

O filme termina de forma emblemática, exibindo imagens do ódio de Phelps e seus seguidores, tendo ao fundo uma canção que diz “pelo amor conhecido é o cristão”. Portanto, cuidemos para que o mundo nos veja como um povo que tem enorme capacidade de amar e que não cultiva o ódio e a intolerância.

Um abraço,

Leon Neto

Nota da Redação: Por problemas técnicos, excepcionalmente a coluna de Leon Neto, esta semana, está sendo atualizada na quinta-feira

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