Talvez dizer que não gostei seja um exagero; afinal o filme “O Despertar da Força” tem muitas qualidades. A principal talvez seja a de recuperar o clima geral da primeira trilogia, ao contrário dos “prequels” de 1999, 2002 e 2005. De fato, a sensação que tive inicialmente, foi bem parecida com a que tive quando ainda garoto, fui assistir ao primeiro filme da série. Mas, talvez parecido até demais.
“O Despertar da Força” é quase uma cópia do primeiro filme, “Uma Nova Esperança” (1977). Vejam só algumas das “coincidências”: planeta-deserto (Tatooine – Jakku), Robozinho simpático (R2D2-BB8), protagonista adolescente órfão (Luke Skywalker-Rey), morte de personagem importante (Obi-Wan Kenobi-Han Solo), bar cheio de extraterrestres (Mos Eisley-Cantina de Maz), alusão ao Nazismo (Imperio-Primeira Ordem), vilão mascarado (Dath Vader- Kylo Ren), arma que destrói planetas inteiros (Estrela da Morte – Star Killer), isso só pra citar algumas.
A estrela da morte alias, fez sua terceira aparição, já que havia uma em construção em “O Retorno de Jedi”. Um é pouco, dois é bom, mas três já é demais, né? Só quero ver que tipo de arma destruidora eles vão inventar para os próximos filmes. Esse negócio de “Estrela da Morte” já deu o que tinha de dar. Se tiver coisa parecida nos próximos filmes eu saio da sala de cinema na mesma hora!
Fica difícil achar que todas essas coincidências aconteceram por acaso; essa é uma produção multimilionária que corre o risco de se tornar a mais rentável da história do cinema Americano. Claro que tudo isso foi pensado e repensado. Daí vem a minha decepção com o filme. Resolveram jogar “na retranca”, não correr riscos. Decidiram usar os mesmos elementos da trilogia original para trazer de volta os saudosistas e começar a seduzir uma nova geração de fãs.
O primeiro da nova trilogia de filmes, deixou mais perguntas que respostas e preparou a audiência para os que virão depois. Do ponto de vista mercadológico foi uma jogada bem eficiente, mas do ponto de vista artístico, tenho minhas restrições.
De toda forma, não há como dizer que “O Despertar da Força” é um filme ruim. A direção é bem segura e fez algumas boas escolhas como, por exemplo, alternar o uso de CGI com efeitos especiais tradicionais. Isso certamente encareceu a produção mas conferiu bem mais autenticidade e emoção. A fotografia é brilhante, com cenas de tirar o fôlego, sendo a minha favorita a dos X-wing fighters voando sobre a água. Fantástico!
Também foi brilhante a ideia de trazer de volta os atores originais; quando Harrison Ford apareceu como Han Solo pela primeira vez, o cinema quase veio abaixo! Harrison Ford, canastrão como sempre, não comprometeu e fez o de sempre. Mark Hamill apareceu pouco, mas impressionou pelo visual à la Obi-Wan Kenobi.
De todos, quem sentiu mais o peso dos anos foi Carrie Fischer. Com certa dificuldade de falar e visivelmente envelhecida, não conseguiu ser nem sombra da encantadora princesa Leia de 40 anos atrás. Carrie tem lidado com alcoolismo e o vício em cocaína por muitos anos e infelizmente essa batalha fica bem visível em sua atuação.
Kylo Ren, o novo Darth Vader não decepcionou exatamente, mas mostrou que tem muito ainda para crescer na trama; de máscara lembrava o vilão dos primeiros filmes, mas sem ela parecia apenas um adolescente em conflito (pleonasmo, eu sei…). Talvez seja exatamente isso que os diretores quiseram; mostrar certa fragilidade, e conflito interno de um vilão em formação.
Também escalaram um ator bem jovem para fazer o general da Primeira Ordem; talvez a ideia fosse acentuar uma disputa entre ele e Kylo Ren. Até entendo a ideia, mas quando os dois estavam juntos em cena ficava tudo meio que parecendo um capítulo de “Malhação”.
Mesmo tendo muitas qualidades, confesso que saí decepcionado do cinema; esperava um roteiro mais criativo, mais instigante. Entendo todas as implicações comerciais da empreitada, mas precisava copiar tanto assim? Precisava ser tão covarde?
Resta esperar pelos próximos filmes e torcer para que os produtores sejam mais ousados, como foram em “O Império Contra-Ataca”, por exemplo.
Pra terminar, só uma curiosidade; sabe aquele storm trooper que fica vigiando Rey na cena da tortura? Pois é, o ator dentro da armadura é ninguém menos do que Daniel Craig, o James Bond. Inclusive no script, o soldado recebe o sugestivo nome de FN007… Talvez existam muitas outras pérolas à serem descobertas.
Um abraço,
Leon Neto