Todos nós recebemos diariamente uma grande quantidade daqueles e-mails encaminhados, que ninguém nunca sabe a origem, trazendo mensagens das mais diversas e ocasionalmente, alguns vírus de computador. Não sei se você já recebeu um deles que traz uma curiosa experiência de mais um anônimo, que decidiu passar um dia inteiro no radio, ouvindo apenas emissoras evangélicas.
O tal anônimo, se lança por um dia inteiro a procurar no dial, as diversas rádios evangélicas e reporta sua experiência com uma certa dose de humor e uma overdose de críticas e gozações. Depois de achacalhar as rádios a que teve acesso e as músicas por elas executadas, ele termina a mensagem dizendo que não agüentou nem 6 horas seguidas e logo sintonizou em uma rádio de MPB, para dar uma limpada nos ouvidos.
Começo, dizendo que gosto, e sempre gostei de rádio. Acho um veículo bastante interessante e onde se tem muito mais liberdade de tempo e conteúdo, se comparado com a televisão. Debates esportivos, por exemplo, são muito mais animados e esclarecedores do que os programas televisivos. O mesmo pode ser dito dos debates políticos e programas de opinião. Não troco o noticiário da CBN por nenhum telejornal.
Me lembro claramente da época em que não haviam rádios totalmente evangélicas no Brasil. Ouvir musica evangélica ou programas de conteúdo bíblico, só mesmo ocasionalmente em horários comprados nas rádios AM ou ondas curtas. Também me lembro quando foi lançada em Recife, a primeira radio FM evangélica do Brasil, no início da década de 80, formada por um consórcio de denominações e organizações evangélicas. O pioneirismo iniciou uma onda de surgimento em todo o Brasil de radios FM com programações exclusivamente cristã. Na época todos nos pensávamos estar vivendo um sonho impossível. Ninguém imaginava que em um país de maioria católica tal coisa pudesse acontecer. Mas hoje, diante da profusão de rádios evangélicas em atividade ninguém nem mais lembra como um dia foi difícil veicular música cristã no Brasil.
Na minha opinião, o surgimento das rádios evangélicas, foi o grande responsável pelo crescimento da indústria fonográfica, dita gospel. Na época do surgimento das primeiras rádios, na década de 80, havia pouca variedade nos discos cristãos disponíveis no mercado. Apenas quartetos masculinos, tipo “Arautos do Rei”, cantores como Luis de Carvalho e Feliciano Amaral e grupos como Vencedores por Cristo, e Logos. Hoje rola de tudo nas rádios; até mesmo “funk” evangélico. Nunca foi tão fácil gravar um cd evangélico e nunca foi tão fácil vê-lo tocando em uma das diversas rádios cristãs.
Isso tem um lado bom, mas também um bastante ruim. Se temos mais liberdade e mais alcance, tambem surge mais espaço para os exageros e desvirtualizações. E é aí que mora o perigo.
Seria bom que diretores de programação fossem mais criteriosos na escolha das músicas a serem executadas, mas infelizmente, e esse é o maior problema de todos, a maioria das rádios evangélicas se tornaram em comércio puro. Não há preocupação em ser fiel aos princípios bíblicos e à evangelização; o critério, na maioria das vezes é simplesmente financeiro. Busca-se mais agradar às grandes gravadoras do que honrar nossos valores e crenças.
Também seria bom que os ouvintes buscassem mais edificação do que entretenimento e que fosse mais pró-ativos em relação às suas escolhas musicais. Mas, infelizmente a maioria não consegue discernir entre uma boa mensagem e uma heresia, e acaba alimentando o quadro de teologia rasa e baixa qualidade musical que reina em nossas rádios.
Mas, existem ainda alguns bons programas que merecem ser ouvidos. Me lembro com muita saudade dos tempos em que fiz a direção artística do programa “Milênio”, junto com meu grande amigo Angelo Manassés. Havia, na uma preocupação genuína por parte dele em buscar sempre a edificação do povo de Deus. Sei que ainda existe muita gente assim nas rádios evangélicas. Cabe a vocês fazerem o uso criterioso do seu dial e separar o joio do trigo e identificar os “lobos em pele de cordeiro”, ao invés de ficar apenas se lamentando e encaminhando e-mails anônimos mundo à fora .
Um abraço,
Leon Neto