O pulso
Titãs
O pulso ainda pulsa
O pulso ainda pulsa
Peste bubônica, câncer, pneumonia
Raiva, rubéola, tuberculose, anemia
Rancor, cisticercose, caxumba, difteria
Encefalite, faringite, gripe, leucemia
O pulso ainda pulsa
O pulso ainda pulsa
Hepatite, escarlatina, estupidez, paralisia
Toxoplasmose, sarampo, esquizofrenia
Úlcera, trombose, coqueluche, hipocondria
Sífilis, ciúmes, asma, cleptomania
O corpo ainda é pouco
O corpo ainda é pouco
Assim
Reumatismo, raquitismo,…
A música gravada pelos Titãs traz de forma cansativa uma sequência de doenças. Na letra temos patologias causadas por bactérias, protozoários, vírus; também pode sugerir uma estrutura clínica neurótica diante do sintoma convertido no corpo, evidenciando um quadro psicossomático.
“O termo psico-somático (tal como está grafado, com um nitidamente separador entre psique e soma) apareceu pela primeira vez na literatura médica há aproximadamente 200 anos, em um texto de Heinroth, clínico e psiquiatra alemão, no qual o autor buscava adjetivar uma forma particular de insônia. Essa concepção pioneira foi fortemente atacada por grande parte do conservadorismo científico da época, enquanto algumas outras vozes tímidas apontavam para aquela concepção integradora. Um dos seguidores dessa linha de pensamento médico foi William Motsloy, que há mais de 100 anos, em Fisiologia da mente, demonstrando que um alto grau de intuição não pode expressar-se pelo pranto, ele faz chorar os outros órgãos. A partir do final da década de 40, o termo “psicossomático” passou a ser empregado como substantivo, para designar, no campo da medicina, a decisiva influência dos fatores psicológicos na determinação das doenças orgânicas, já admitindo uma inseparabilidade entre elas.”
Toda pessoa angustiada, nervosa, preocupada, triste, irada, enfim, com emoções negativas, terá seus sistemas imunológicos abalados.
Com o sofrimento emocional e psicológico, seu corpo produz cortizol, o hormônio do stress, e com a repetição desta descarga hormonal, seu organismo vai ficando cada vez mais debilitado, a ponto de adoecer.
Mas o inverso também é verdadeiro, ou seja, toda vez que sua saúde física estiver abalada, você sofrerá consequências emocionais e psicológicas.
Quando alguém diz que a pessoa está somatizando, na verdade está dizendo que esta pessoa apresenta sintomas físicos, mesmo não havendo uma doença física – a causa destes sintomas é emocional.
Os exames não acusam nada porque a pessoa não tem nada fisicamente, o sofrimento físico é um reflexo do sofrimento emocional, que está escondido.
É necessário tratar e amenizar esse sofrimento que, apesar de estar se manifestando no corpo, é essencialmente mental, é psicológico. A ajuda deve ser feita no âmbito emocional.
Somatização é quando a pessoa apresenta sintomas cuja avaliação, feita pelo médico, não identifica nenhum problema orgânico, mas uma causa psicológica.
Quando usamos o termo “doença psicossomática”, dizemos que a causa é psicológica, mas a pessoa apresenta alterações clínicas detectáveis por exames de laboratório, ou seja, o corpo da pessoa está tendo danos físicos – a isso chamamos de doença psicossomática.
É uma doença física, verdadeira mas com causa psicológica, ou seja, a doença apareceu no corpo, como, por exemplo, fortes dores na coluna, nas articulações, formigamento no corpo, insônia, falta de ar, taquicardia, dentre tantas outras. Neste caso, a pessoa deve tratar-se tanto com o psicólogo como com o médico.
Inabilidade social, dificuldade em expressar seus sentimentos e necessidades, angústia, medos, raiva, depressão, ansiedade, fobias, enfim, todo sofrimento emocional debilita a pessoa como um todo.
Para a análise das experiências emocionais que ainda não foram representadas com palavras, é fundamental estabelecer um trânsito de comunicação entre o consciente e o inconsciente do paciente somatizador, além de fazê-lo comprometer-se afetivamente com aquilo que diz intelectualmente.
É importante mencionar que tanto o atendimento psicológico quanto o acolhimento são fundamentais para minimizar o conflito psíquico evidenciado no corpo.
O sintoma é uma solução encontrada para mediar o conflito psíquico, é um ajeitadinho entre o desejo inconsciente e as normas e as permissões sociais. Quando as possibilidades reais de satisfação do desejo são censuradas, o sintoma é a solução; o sintoma fala para comunicar o desejo a que fomos obrigados a renunciar. O sintoma é uma defesa psíquica para manter a integridade do indivíduo diante do perigo de realização de um desejo proibido.
Sintoma também é a realização de um desejo, que é sempre sexual.
Quando o sofrimento não pode expressar-se pelo pranto, ele faz chorar os outros órgãos.
Motsloy (médico)
Referência bibliográfica
[1] ZIMERMAN, David E. Manual de técnica psicanalítica: uma re-visão. Porto Alegre: Artmed, 2004.