No momento em que escrevo esta coluna, Tiririca, o eterno interprete de “Florentina”, é o candidato à deputado federal mais votado do Brasil, com 84% das urnas apuradas em São Paulo. Ou seja, dificilmente ele vai deixar de ser eleito.
Mesmo diante de antecedentes do nível de Clodovil, Netinho e Eurico Miranda, pensei que dessa vez o povo brasileiro fosse ter vergonha na cara e rejeitar nas urnas mais uma dessas palhaçadas eleitorais. Pois é, eu estava redondamente enganado.
Não estou aqui cerceando a liberdade política de ninguém e nem afirmando que um humorista, comediante, ou cantor (bem… o que é mesmo o Tiririca?) não pode se transformar em um candidato decente. De qualquer forma, não é a candidatura em si que me revoltou, mas sim a forma explicita e debochada com a qual ele deixou bem claro que nada sabe sobre política; tudo não passou de puro oportunismo. Claro que a eleição de Tiririca pode ter sido um ato de revolta, de gozação ou mesmo de brincadeira, mas isso torna as coisas ainda piores. Mostra que em temos de consciência política e cidadania, nosso povo ainda está muito, muito longe da maturidade.
Talvez o infame voto obrigatório tenha algo à ver com absurdos como essa eleição de Tiririca, já que muita gente vota porquê é obrigado e de fato não está nem aí para os destinos da nação. Sem o voto obrigatório, teoricamente diminuiriam as chances de votações estapafúrdias como a de Tiririca, já que somente quem quisesse se envolver no processo político estaria votando. Voto obrigatório, como já disse antes aqui na coluna, é uma triste herança da ditadura e não faz sentido nenhum em uma democracia. Alem disso, se os partidos políticos e os candidatos além de divulgar suas idéias, tivessem que convencer os eleitores à votar, talvez as campanhas políticas fossem menos ridículas do que as atuais.
Tiririca não é o único candidato esdrúxulo a se eleger; Romário está tendo uma boa votação e a despreparada esposa de Joaquim Roriz, Weslian Roriz, que descaradamente só entrou na disputa depois que seu marido foi impugnado pela lei da ficha limpa, conseguiu a façanha de ir para o segundo turno no Distrito Federal mesmo depois do folclórico debate em que destilou todo o seu despreparo.
Pois é, as palavras que Pelé proferiu na década de 70 ainda fazem sentido hoje; “Brasileiro não sabe votar”. A maioria não sabe mesmo; isso porque nosso sistema de educação publica está falido, os meios de comunicação não contribuem em nada para informar a população de forma isenta e até mesmo nossas igrejas e líderes religiosos fazem uma trapalhada atrás da outra ou se ausentando ou se envolvendo demais nas campanhas políticas.
Essas coisas não são novidade para ninguém e entra ano sai ano, poucos avanços são vistos. Mas hoje, com e eleição do palhaço Tiririca, é um dia triste para o Brasil, um dia no qual desmoralizamos ainda mais uma de nossas importantes instituições e assumimos que continuamos a ser um povo “abestado”, como diria do alto de sua sabedoria e elegância, sua excelência o deputado federal Francisco Everardo Oliveira Filho.
Um abraço,
Leon Neto