Tributo a Jerry Falwell

O mundo evangélico, essa semana perdeu um gigante; apesar de pouco divulgado no Brasil, o falecimento do Rev. Jerry Falwell causou muita comoção e foi noticiado em todos os veículos de comunicação americanos por vários dias. Várias emissoras, entre elas a famosa CNN, dedicaram programas inteiros em sua homenagem e personalidades de todos os meios publicaram declarações de pêsames e condolências.

Figura extremamente polêmica, Jerry Falwell começou seu ministério à 50 anos atrás em uma minúscula congregação de 35 pessoas, surgida a partir da divisão de uma Igreja Batista em Lynchburg, no estado da Virginia. Em pouco tempo a congregação se transformou em um Igreja com milhares de membros. Falwell foi um dos primeiros pastores norte-americanos a fazer uso do radio e da televisão. Seu programa semanal “The Old Time Gospel Hour” fez historia no meio evangélico e ajudou a catapultar a igreja fundada por Jerry a um mega-ministério.

Mas, o que fez com que o Reverendo Falwell se tornasse conhecido no país inteiro, foi o seu envolvimento, no final dos anos 70, com a política. Falwell jamais se candidatou a nada, mas ajudou a eleger vários políticos a cargos relevantes e até mesmo dois presidentes. O “Moral Majority”, grupo que fundou, era formado por líderes evangélicos conservadores que procuravam mobilizar suas congregações para dar suporte a candidatura de políticos cristãos, ou que pelo menos defendessem os mesmos princípios. O grupo teve participação decisiva nas eleições de Ronald Reagan e George Bush (pai do atual presidente). Isso fez com que Jerry tivesse livre acesso à Casa Branca e que se tornasse um rosto sempre associado ao conservadorismo cristão na América do norte.

O “Moral majority” criou espaço para que Jerry se envolvesse publicamente em campanhas contra o aborto e o casamento homossexual, o que causou extrema reação dos grupos de esquerda que passaram a atacá-lo de todas as formas possíveis. Jerry, um homem de coragem e posições firmes, jamais se negou a participar de debates e de dar entrevistas e ganhou notoriedade por diversas declarações polêmicas que fez ao longo de mais de 30 anos de exposição pública.

No Brasil, o ministério de Jerry Falwell nunca foi muito divulgado. A primeira vez que ouvi falar em seu nome, dai minha decisão em usar a coluna para abordar o assunto, foi através de um filme que assisti nos anos 90. ” O Povo contra Larry Flint” baseado em fatos reais, conta a vida do criador da revista pornográfica “Hustler”, Larry Flint, e dá especial destaque para um episódio que envolveu diretamente Jerry Falwell, quando este processou a revista por conta de uma caricatura de mau gosto de Jerry e sua mãe. O processo durou vários anos e chegou a ir para a suprema corte em última instância, quando Flint terminou vencendo e criando um precedente histórico na justiça americana. O filme é tecnicamente excelente e conta com atuações inspiradas de Woody Harrelson e Courtney Love, e um trabalho de direção impecável de Milos Forman. Jerry Falwell é retratado de forma um pouco caricata mas nada que chegue a ser desrespeitoso.

Porém, o filme, como a mídia em geral, jamais conseguiu fazer justiça à pessoa de Jerry Falwell; só mesmo quem conviveu com ele mais de perto, ou que participou de sua congregação pode ter uma imagem mais clara e precisa do homem extraordinário que ele foi. Dono de uma força de vontade e coragem imensas, Jerry tinha uma capacidade incrível para agregar e motivar seus congregados. Possuidor de uma energia admirável, participou ativamente de todos os segmentos de seu ministério até o dia de sua morte, quando foi encontrado desacordado em seu escritório.

Apesar de suas declarações fortes e polêmicas, Jerry era um homem extremamente afável e humano, sempre com um sorriso nos lábios e profundamente amado pelos seus amigos, sua igreja e pela universidade que fundou, e que hoje conta com cerca de 27 mil alunos.

Pouca gente sabe desse fato, mas após o final do processo contra Larry Flint, os dois se tornaram amigos; depois de um debate entre os dois no programa de Larry King na CNN, surgiu uma amizade que durou até o fim da vida de Jerry, que iniciou a aproximação convidando Larry Flint para uma visita ao campus de Liberty University onde foi recebido pelos alunos com muito respeito e carinho. Isso só pra mostrar a grandeza de Jerry que também soube admitir seus erros e exageros se desculpando publicamente por algumas de suas declarações. Mesmo seus opositores reconhecem que Jerry era alguém difícil de não se gostar e que autenticamente era fiel a seus princípios e crenças. Tive o privilégio de ter alguns poucos e breves contatos pessoais com Jerry onde ele sempre foi extremamente gentil e generoso.

Acima de tudo, Jerry Falwell era um cristão apaixonado pelo evangelho e pelas almas perdidas. Não deixava de pregar o evangelho em nenhuma oportunidade que tivesse e ajudou a financiar inúmeras viagens missionárias pelo mundo todo, que ainda acontecem todos os anos envolvendo alunos e professores da Liberty University. Jerry sempre teve a coragem de lutar pelo que achava correto e em sintonia com os princípios bíblicos, mesmo que isso gerasse criticas e ridicularizações. Jerry lutou o “bom combate” e certamente merece ser recebido nos céus como “servo bom e fiel” que jamais se envergonhou do evangelho de Cristo.

Jerry Falwell deixou um ministério impressionante que engloba uma Igreja de quase 25 mil membros, canal de tv a cabo, programas veiculados em diversos países do mundo, uma escola cristã com ensino de alta qualidade e uma universidade que hoje já é considerada a maior do mundo em seu gênero. Mas o seu grande legado na verdade, são as pessoas que ele inspirou e influenciou, o exemplo que deixou como um gigante da fé que jamais se curvou ou desanimou diante das dificuldades da vida, o exemplo de alguém que viveu tudo o que pregou e que empenhou toda a sua energia para o engrandecimento do reino de Deus.

O culto desse domingo que foi não um culto fúnebre, mas sim uma celebração pela vida de Jerry Falwell, não poderia ter terminado de forma melhor; toda a Igreja de joelhos orando. Porquê afinal de contas, foi isso que ele procurou fazer durante toda a sua vida: levar as pessoas aos pés do altar de Deus.

Um abraço,

Leon Neto

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