Um país dividido. É isso que o vencedor dessas eleições vai receber de herança. Depois do circo de horrores que foi a extensa e desgastante campanha eleitoral, foi o que sobrou. No momento em que escrevo essa coluna, ainda não se sabe quem venceu as eleições presidenciais de 2014. Mas, a contar pelos insultos, denuncias vazias, mentiras e até mesmo agressões gratuitas de ambos os lados, todos perdemos, de certa forma.
Para quem esperava debates de ideias, discussões abertas, foi uma grande frustração; o que se viu foi um verdadeiro lamaçal de ofensas mútuas. Defender pontos de vista de forma apaixonada e intensa sempre fez parte da vida política; mas essa eleição passou dos limites. As mídias sociais viraram palcos de batalha campal, daquelas bem sangrentas com corpos mutilados e sangue para todos os lados. Soube até mesmo de amizades desfeitas, recusa de convites para almoço, brigas de rua e ofensas pessoais.
O Brasil é uma democracia ainda jovem; estamos vivendo o segundo período democrático de nossa história e assim como o anterior, mal passamos da segunda década. Certamente há muito o que aprender. Para quem como eu, cresceu ainda sob a sombra da restritiva ditadura militar que subjugou nosso país por vinte anos, não deixa de ser positivo ver a consolidação da democracia no Brasil. Mas confesso que esperava mais do nosso povo.
É muito fácil e reducionista sair por aí achincalhando os candidatos disparando criticas por todos os lados. Mas, na verdade, eles são um reflexo do próprio povo; foram nossas escolhas e nosso posicionamento (ou ausência de…) que os levaram a disputar o cargo máximo do país. O combate à corrupção começa no respeito à fila da padaria, na lisura quando for fazer o imposto de renda, no respeito ao sinal vermelho, no compromisso com a verdade. Não dá pra cobrar honestidade de alguém se não somos honestos nas mínimas coisas.
Mesmo estando fora do país, procurei me informar e me envolver diretamente na campanha dessas eleições. Li muitos artigos, de todas as correntes políticas envolvidas, assisti a quase todos os debates e tive muitas discussões acaloradas com amigos que pensam de forma diferente de mim. Aprendi muita coisa que não sabia, fiquei chocado com muitas revelações e também ri com muitas piadas.
Mas, houve um momento em que diante de tanta baixaria resolvi mudar minha atitude. Senti no coração o desejo de inserir mais dos meus valores e princípios Cristãos nas conversas das redes sociais. Assumi o compromisso de começar a orar pelos dois candidatos. Resolvi também ser menos enfático nos meus comentários e a sempre buscar um viés mais positivo, construtivo. Fiquei muito surpreso e feliz por notar que o mesmo mover se iniciou em muitas outras pessoas.
Não sei se por conta dessa minha mudança de atitude, mas posso dizer com certeza que não perdi nenhuma amizade nessa campanha virulenta; muito pelo contrario, algumas saíram ainda mais fortalecidas, mesmo estando em lados opostos. E é disso que o Brasil precisa nesse momento. De união, de coalizão de ações conjuntas.
Se o seu candidato foi o vencedor na eleição, você tem todo o direito de comemorar, sair às ruas, celebrar à vontade. Mas faça isso de forma cordata sem revanchismos ou grosserias; respeite o lado perdedor, seja generoso na vitoria. Lanço um desafio para que você continue engajado no processo político, e seja o primeiro a fiscalizar e a cobrar as promessas de campanha daquele que você ajudou a eleger.
Se você votou no candidato derrotado, seja uma oposição ativa, mas construtiva, positiva, daquelas que apontam as falhas, mas que reconhecem os acertos e as conquistas. Dessa forma suas criticas terão muito mais credibilidade.
E acima de tudo desafio a todos a continuar orando pelo Brasil e por seus governantes. Vamos pedir por uma mobilização nacional, mas que dessa vez traga união, coalizão, pelo menos. Unidade na diversidade é possível; até porque é a essência da Igreja de Cristo na terra.
Um abraço,
Leon Neto