Estava voltando pra casa depois de um maravilhoso banquete de Valentine’s Day (o dia dos namorados aqui dos EUA), quando ouvi no rádio sobre a morte da cantora Whitney Houston. Ela tinha apenas 48 anos. Apesar do choque inicial, nem sei se posso chamar o fato de surpresa, já que parece que se tornou rotina no meio artístico a morte prematura de grandes astros.
Whitney fez historia no mercado fonográfico mundial, ao ser a primeira cantora a figurar no topo da lista dos mais vendidos por 7 vezes seguidas, fato que nem os Beatles conseguiram nos anos 60. Mais do que isso, Whitney se consolidou em meados dos anos 90 como uma das vozes mais aclamadas de todos os tempos e ganhou status de mito junto a uma multidão de fãs no mundo inteiro.
Assisti a uma entrevista dia desses com Clive Davis, famoso produtor musical que descobriu e gerenciou boa parte da carreira de Whitney, onde ele contava como ficou completamente embasbacado quando viu uma ainda adolescente Whitney cantar pela primeira vez. O produtor logo notou que se tratava de uma artista com potencial acima da média e não demorou a colocá-la debaixo de suas asas e em pouco tempo conduzi-la a uma carreira estratosférica e torná-la em pouco tempo na cantora mais premiada da historia do show business americano.
Mas, como acontece com todos os “ídolos” Whitney não ficou no auge para sempre; ainda no seu apogeu, casou-se com Bobby Brown, cantor com fama de “bad boy”, ex-integrante da banda New Edition e desde então sua vida pessoal entrou em parafuso. A relação com Bobby Brown era prá lá de conturbada, com rumores de infidelidade, violência domestica e uso de drogas. Whitney começou a declinar e a receber cada vez menos convites para gravações e shows.
Na tentativa de recuperar sua imagem, e ganhar alguns trocados, o casal assinou um contrato com uma rede à cabo para um reality show retratando sua vida pessoal em detalhes. O programa foi um completo fiasco e ajudou a comprometer ainda mais a imagem publica dos dois artistas. Whitney ainda tentou articular uma retomada da carreira, com uma turnê Europeia, mas novamente terminou em fracasso com performances muito abaixo do seu normal e momentos constrangedores com Whitney errando a letra de algumas músicas e não conseguindo atingir os mesmos agudos das gravações antigas.
De lá para cá, pessoas mais próximas haviam mencionado sinais de alguma recuperação. Whitney até mesmo havia recebido um convite para um filme em parceria com Jordin Sparks, mas infelizmente não teve tempo nem para começar o projeto.
Nem todos sabem, mas Whitney Houston vem de uma família evangélica e profundamente envolvida com a Igreja Batista. Sua mãe é uma cantora gospel bastante respeitada e canta até hoje. Whitney começou, a exemplo de outros grandes nomes da música popular norte-americana, cantando em côro de igreja. A cantora até mesmo afirmou diversas vezes em entrevistas, que aprendeu quase tudo o que sabe sobre música e canto especificamente, na igreja. Whitney nunca deixou a membresia de sua igreja em Nova Jesey.
Sua trajetória de sucesso, decadência e morte prematura certamente nos faz pensar em como a indústria do show business dá pouca ou nenhuma importância para o interior dos seus ícones, para suas necessidades pessoais e espirituais. Cantores, atores, artistas em geral, não se enganem, vocês são apenas objetos de consumo, meros geradores de dinheiro e poder para produtores e investidores.
Curioso é notar que enquanto mais e mais artistas estão morrendo aos montes, decadentes, viciados e ainda jovens, os produtores continuam “vivinhos da silva”, alguns vendendo saúde beirando os 90 anos, ricos e cheios de poder. E muito certamente alguns já estão arquitetando estratégias para fazer mais dinheiro com a morte de Whitney, sem se preocupar nem por um segundo com a dor de sua família.
Pena que Whitney tenha deixado o côro de sua igreja tão cedo; talvez se tivesse ficado um pouco mais, poderia ter feito escolhas mais sabias em sua vida pessoal e não ter se deixado seduzir pelo glamour viciante do sucesso. Uma pena, mais uma voz que se cala muito cedo, ainda com muito à oferecer. Talvez a maior de todas.
Um abraço,
Leon Neto