Um dos grupos musicais evangélicos que mais me impressionaram nos últimos anos, o brasiliense “Céu na Boca”, passa por um momento bastante delicado. Zazo, um de seus componentes, enfrenta desde o início da semana passada seriíssimo problema de saúde.
Após uma cirurgia para retirada de três tumores no intestino, Zazo viu seu quadro se agravar bastante devido a uma infecção generalizada e princípio de falência de alguns órgãos. E tudo isso acontecendo, justamente quando Zazo planejava uma viagem missionária para Guiné-Bissau, na África, um dos países mais pobres do mundo.
Ainda não tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente, mas através de Marco, também componente do grupo, e meu amigo-irmão de longas datas, sei que além de músico talentosíssimo, Zazo é das melhores pessoas que se pode conhecer na vida. Vindo de uma infância difícil na periferia do Rio de Janeiro, ele galgou com dificuldade os degraus da vida até conquistar recentemente o sonho da casa própria e a estabilidade econômica para sua familia.
Zazo viveu todas as fases do desenvolvimento da música Cristã contemporânea no Brasil, incluindo a famosa cantata “Boas Novas”, o surgimento de “Vencedores por Cristo”, “Rebanhão”, “Milad” e “Grupo Elo”, entre outros. Mas, além disso, ele também vivenciou e foi bastante influenciado por uma das mais ricas fases da MPB, com o surgimento das canções de protesto de Geraldo Vandré, Chico Buarque e Caetano Veloso, só para citar alguns dos muitos grandes compositores surgidos no período negro da ditadura militar no Brasil. O resultado dessas influências, somadas a sessões de jazz ao radio com seu pai, gerou em Zazo uma combinação primorosa de brasilidade, senso poético e lirismo que infelizmente tem pouquíssimos paralelos na música Cristã da atualidade.
Após passar Por diversos grupos evangélicos em Brasília, cidade que posteriormente adotou, e até mesmo de participar da criação da importante “Mostra de Musica Popular Cristã de Brasília”, Zazo encontrou no “Céu na Boca” a mais pura tradução dos seus impulsos criativos. Com arranjos vocais exuberantes e letras profundas e criativas, o grupo agrega músicos de grande talento de uma forma muito natural e faz uso das mais diversas nuances do que há de melhor na MPB, para expressar mensagens relevantes e cheias de sensibilidade.
Fiquei estupefato ao ouvir o primeiro Cd do “Céu na Boca”; eles fazem parecer fácil fazer música boa, tocando e cantando de forma relaxada (no bom sentido) e autêntica, sem aquelas superproduções ou firulas desses grupelhos atuais, metidos a “R&B”. O “Céu na Boca”, representa tudo o que sempre defendi como importante e necessário na música Crista contemporânea. E Zazo, tudo o que espero de um músico Cristão.
Mesmo sem conhecê-lo pessoalmente, vejo como seu testemunho têm marcado pessoas que tiveram algum tipo de contato com ele. Grandes músicos, como João Alexandre, Carlinhos Veiga e Andre Barcelos (“Raizes”) não lhe poupam elogios e recebo os melhores comentários possíveis de pessoas que estiveram presentes em apresentações do “Céu na Boca”, a respeito de sua simpatia (apesar da timidez), gentileza e compromisso com o evangelho. Aliás, apesar de todas as dificuldades financeiras por que passou em sua vida, Zazo esta levantando o sustento para a sua tão sonhada viagem missionária na África, “vendendo” suas próprias férias. Algo que mostra total descompromisso com conforto material e muito compromisso com o Reino de Deus.
O que mais tem me mostrado, mesmo à distancia, o caráter e testemunho de Zazo, mesmo nessa situação tão difícil, é a quantidade enorme de e-mails que recebo, dando conta da mobilização que esta sendo feita para interceder pela vida dele. É difícil não se emocionar ao ver a forma tocante com que as pessoas se referem a ele e como sem medir esforços, tem organizado vigílias, grupos de oração e jejuns pela recuperação desse querido amigo. Sei de grupos de intercessão em vários lugares do Brasil e até mesmo no exterior, que não param de pedir a Deus que nos conceda mais tempo com esse servo tão talentoso e consagrado. Muita gente nunca orou tanto como nesse momento, por conta da enfermidade de Zazo.
Escrevo essa coluna sem saber das noticias mais recentes sobre estado de saúde dele, que espero sejam boas e animadoras. Mas, independente do que vier a acontecer, continuarei citando-o como exemplo dentro da música evangélica. Porque mesmo sem cantar uma nota sequer, Zazo continua edificando e fazendo muitas e muitas pessoas se aproximarem de Deus.
E essa é a verdadeira tarefa de um músico Cristão.
Fique em paz, querido Zazo,
Leon Neto