Dados do Vaticano apontam que o número de católicos no país cresceu 71% desde 1960 e deve chegar a 132 milhões de fiéis em 2050
Nos Estados Unidos, não é apenas o presidente Barack Obama que conta com os imigrantes latino-americanos para vencer as eleições na semana que vem. Uma avaliação feita pelo Vaticano aponta que foi justamente a chegada de milhões de imigrantes da América Central e dos países sul-americanos que permitiu que a Igreja Católica ainda se mantenha relevante.
Nesta semana, numa reunião na Santa Sé, Carlos Aguiar Retes, arcebispo mexicano de Tlalnepantla e presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), confirmou a avaliação realizada pela Igreja e apontou que esses imigrantes “fortaleceram” o catolicismo numa sociedade originalmente protestante, que estaria se afastando de movimentos religiosos. Para o arcebispo, os imigrantes se transformaram em atores da nova evangelização.
Segundo ele, de cada dois católicos nos Estados Unidos, um é hispânico. Numa mensagem direcionada aos latino-americanos, o Conselho dos Bispos Católicos dos EUA é explícito em apontar que os “hispânicos são um presente e uma bênção para a Igreja e para a sociedade americana”. Para a direção da Igreja, essa população garante hoje a “vitalidade do movimento religioso no país”.
[b]Crescimento[/b]
Os dados oficiais do Vaticano apontam que, desde 1960, o número de católicos nos Estados Unidos aumentou 71%. Essa expansão está diretamente relacionada com a chegada dos imigrantes da América Latina, que hoje representam 16% da população do país. Dois terços dos imigrantes latinos nos EUA são católicos.
A própria Igreja admite que teve de se ajustar. Hoje, dos 40 mil padres que atuam nos EUA, pelo menos 3 mil deles são latino-americanos. Outros 1,8 mil realizam missas em espanhol. Dos 273 bispos, 29 são latinos.
Baseado no Censo americano de 2010, a Igreja aponta que esses números podem aumentar. Até 2050, a população latino-americana nos EUA chegará a 30% do total do país, com 132 milhões de pessoas.
No esforço de ganhar legitimidade, a Igreja ainda lançou campanhas para defender os direitos dos imigrantes. Numa carta assinada por mais de 30 bispos americanos e direcionada aos imigrantes há poucos meses, a Igreja garante que lutará por leis mais justas para a população estrangeira e se diz “entristecida” pelo comportamento de “outros irmãos católicos” que estariam dificultando a vida dos latinos.
Diz a carta: “A crise econômica tem tido um impacto em toda a comunidade dos Estados Unidos. Lamentavelmente, algumas das reações diante desse clima de incerteza mostra desdém pelos imigrantes e até os culpam pela crise. Não encontraremos soluções semeando o ódio”.
O Conselho de Bispos dos Estados Unidos preparou um kit que é enviado a todas as paróquias para ajudar padres a explicar para a população local a importância dos imigrantes.
[b]Política[/b]
Outro estudo ainda de 2007, da Pew Hispanic Center, já identificava essa tendência. Segundo o levantamento, estava claro que a população de imigrantes “redesenharia” a Igreja Católica nos Estados Unidos nos anos seguintes. Naquele momento, o instituto apontava que um terço dos católicos no país era formado por latinos, mas já alertava que o papel que eleitores latinos teriam na cena política americana seria profundamente influenciado pela sua fé.
“A maioria dos latinos vê a religião como um compasso moral para guiar seu pensamento político e espera o mesmo de seus líderes políticos”, aponta o estudo. “Além disso, a maioria dos latinos vê o púlpito como um lugar apropriado para lidar com problemas políticos e sociais.”
Pelo estudo de 2007, latinos que são evangélicos teriam duas vezes mais inclinação a apoiar o Partido Republicano que os católicos. Já os latinos católicos se identificam mais com o Partido Democrata. Entre aqueles que abandonam o catolicismo, a grande maioria opta pelo secularismo e não por outra religião.
[b]Fonte: Estadão[/b]