Em 2007, vimos como os cristãos foram perseguidos, assassinados e massacrados em Dura, sul de Bagdá. Muitos fugiram de Bagdá e foram para a zona de segurança de Nínive, no coração de Mosul. O local para onde fugiram é o coração da comunidade cristã.

Nos últimos dias, os cristãos foram uma vez mais oprimidos, assassinados e massacrados. Dessa vez, não em Bagdá, mas no centro cristão de Nínive.

Quando estive na região, recentemente, perguntei aos cristãos quantos deles eram de Nínive: cerca de 80%, responderam.

O sobrinho do guarda dessa igreja e seu pai foram mortos havia pouco tempo, em frente à sua casa, em Nínive. Alhassan, o sobrinho, ficaria noivo naquela semana.

Assim que saí da igreja, recebi um telefonema de membros da igreja que ouviram dizer que a casa de parentes em Nínive havia sido destruída. Sete estavam pessoas sem casa e precisando de ajuda.

É muito significativo o fato de que os cristãos são atacados no centro do cristianismo.

O cristianismo mais antigo do mundo

Aqui, o povo crê no Deus de Abraão, Isaque e Jacó por 2.700 anos, desde que Jonas, o miserável evangelista, apareceu, vindo de transporte submarino.

Setecentos anos mais tarde, outro miserável, o cético Tomé, passou por aqui em seu caminho para a Índia. Ele disse aos ninivitas que o Messias havia chegado em Israel. O povo creu.

Como resultado, Nínive é o mais antigo centro cristão do mundo. Hoje, os cristãos no Iraque veneram Jonas e Mar Thoma (Tomé). A Igreja Anglicana São Jorge, em Bagdá, é a maior do Iraque, com quase 2 mil membros.

Ninguém do meu povo é de origem anglicana; no entanto, agora, em meio ao trauma, denominações não importam. O que interessa é que todos cremos em Jesus.

Durante um culto, disse-lhes o que eu geralmente falo: “Não há garantias de que não vamos ser mortos esta semana, mas há uma garantia: quando nós Jesus, vamos ser como ele”. As pessoas sempre se alegram com isso.

Violência e fuga

Não se pode negar o sucesso da invasão dos Estados Unidos; a violência ainda existe em Bagdá. No entanto, a triste realidade é que muitos grupos terroristas como a al-Qaeda já se mudaram para o norte, para lugares como Mosul.

Ainda não está claro quem é responsável pela violência. Alguns dizem que são os muçulmanos sunitas, outros dizem que é a al-Qaeda, outros ainda dizem que são os curdos. Isso parece bastante improvável, já que muitos cristãos fugiram de Nínive/Mosul e buscam refúgio no Curdistão.

Além de todos esses múltiplos problemas e perigos que os cristãos enfrentam, acrescenta-se a recente recusa do Parlamento de permitir às minorias uma cadeira fixa nos governos regionais.

A vida é muito difícil para os cristãos que ficaram no Iraque, a maior parte deles já fugiu. Os que ficaram não têm dinheiro para sair ou se recusam a deixar a terra natal.

Em meio a essa crise, as forças multinacionais no Iraque consideram o que podem fazer. O governo iraquiano já enviou mil policiais e militares para a área.

A resposta do amor

Mais uma vez, a única solução parece ser superar a violência pela força. Como pessoas de paz, essa não é a solução que nos agrada, entretanto, parece não haver outra.

Os que cometem violência não falam com outras pessoas, nem se empenham em procurar outras soluções. Sua preocupação é matar infiéis que acreditam estar aliados ao ocidente e à Coligação.

Entretanto, na igreja, simplesmente amamos e servimos. Temos uma clínica na igreja com três médicos, três dentistas e uma farmácia. Tudo o que fazemos é de graça, e a maioria dos nossos pacientes não é cristã, mas muçulmana. Não planejamos parar de servir as pessoas, independentemente da religião.

Nunca vamos deixar de amar. A ameaça sempre volta, a violência é real, mas pela graça de Deus, vamos continuar.

Sobre o autor

O reverendo Canon Andrew White é presidente e diretor executivo da Fundação para Assistência e Reconciliação no Oriente Médio, capelão da Igreja São Jorge, em Bagdá, capelão anglicano/episcopal da Zona Internacional em Bagdá e conselheiro sênior em assuntos inter-religiosos do primeiro-ministro do Iraque.

Ao longo dos últimos anos, tem atuado como mediador em situações de conflito, incluindo o cerco da Igreja da Natividade em Belém e os conflitos entre muçulmanos e cristãos no norte da Nigéria.

Nos últimos anos, ganhou muitos prêmios significativos para o seu trabalho como pacificador.

Fonte:Portas Abertas

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