O Congresso americano está investigando se deve ou não cortar o financiamento público de programas educativos que promovem a abstinência sexual até o casamento.

O debate é motivado por um relatório da principal agência de saúde americana, o Centro para Prevenção e Controle de Doenças (CDC, na sigla em inglês), que no mês passado revelou que uma em cada quatro adolescentes americanas tem doenças sexualmente transmissíveis (DTS).

Pelo menos 17 Estados americanos já saíram do programa federal que financia programas pró-abstinência, e outros suspenderam o recebimento das verbas enquanto o Congresso analisa se esses programas funcionam.

Críticos da abstinência afirmam que esse tipo de abordagem ignora o fato de que os adolescentes são sexualmente ativos, negligenciando-os informação médica precisa e conselhos em relação a sexo seguro.

Eles alegam que jovens abstinentes têm menos probabilidade de usar preservativos se decidirem quebrar seu voto de castidade.

“Temos educação sexual na escola e esse deveria ser o espaço onde os adolescentes exercem seu direito a se informar – mas isto não está acontecendo”, opina Mildred, uma jovem de 15 anos do Arizona, voluntária da organização Planned Parenthood.

“Eles não tocam em assuntos como sexualidade, DSTs, controle de natalidade. Não é permitido pela educação focada apenas na abstinência. Eles deixam você em uma situação de ansiedade – e muitos adolescentes se tornam sexualmente ativos durante os anos de escola.” A ONG estima que dois terços dos adolescentes americanos tenham relações sexuais até o fim da escola média.

Com mais de 750 mil casos de gravidez indesejada, os Estados Unidos figuram nesta categoria como um dos primeiros no mundo desenvolvido, diz organização.

“O programa nacional que desperdiçou US$ 1,5 bilhão (cerca de R$ 2,5 bilhões) em dinheiro dos contribuintes é um fracasso, e nossos adolescentes estão pagando o preço”, diz a presidente da Planned Parenthood, Cecile Richards.

“Estamos desperdiçando dinheiro em programas que não funcionam, e vendo as conseqüências disto a cada dia.” Controle O debate em relação à educação pró-abstinência é parte de outro, mais amplo, sobre os “valores familiares”, que muitos americanos conservadores vêem estar em erosão.

Já para os liberais, a campanha para reverter o avanço dos programas pró-abstinência faz parte de uma luta mais ampla contra o que percebem ser elementos reacionários do governo americano.

Eles dizem que o conservadorismo tem peso político aberto e exagerado na administração americana, em especial na gestão do presidente George W. Bush.

Entretanto, mesmo que o Congresso decida restringir a verba desses programas, muitos devem continuar, porque contam com apoio público e podem encontrar outras fontes de financiamento.

Roger Norman, um advogado do Texas, se descreve como alinhado à “direita religiosa”. Ele dirige a organização Wonderful Days, que não recebe financiamento do governo e prega a abstinência com parte do currículo de saúde de algumas escolas locais.

“Estou convencido de que a abstinência é a única saída para as crianças. Você começa ensinando as conseqüências de se comportar mal e os benefícios de se comportar de maneira apropriada, e o faz de maneira que a criança entenda”, diz Norman.

“O autocontrole leva a uma vida feliz e cheia de alegrias. Se pudermos aprender a controlar de vez o mais básico de nossos instintos – o sexual -, podemos controlar as drogas, as gangues, o álcool e o ódio.” Suas aulas ensinam que a doença é uma conseqüência do sexo antes do casamento, e que a virgindade para ambos os parceiros é um ideal.

Entretanto, Valerie Huber, executiva-chefe da Associação Nacional de Educação para a Abstinência, diz que apenas uma em cada escola nos Estados Unidos prega esse tipo de comportamento – a grande maioria segue um currículo amplo de educação sexual.

Para ela, esse tipo de abordagem promove as relações sexuais e está por trás do aumento nos casos de DST e gravidez adolescente.

“Para nós, a educação para a abstinência não é uma abordagem ideológica, é a melhor abordagem. Comparemos com a alimentação natural. Sabemos que a obesidade está aumentando nos Estados Unidos. Isto não significa que temos de minimizar a alimentação saudável como a melhor mensagem”, ela argumenta.

“Ainda enfatizamos a importância de se alimentar bem e de fazer exercícios, sabendo, infelizmente, que muitos americanos não vão nos ouvir.”

Fonte: BBC Brasil

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