Entender a importância que o Holocausto tem para os israelenses é a chave para compreender sua mentalidade e estabelecer um diálogo que permita resolver o conflito do Oriente Médio, segundo Khaled Kasab Mahameed, um árabe-israelense que assumiu a missão de ensinar aos árabes sobre o genocídio judeu.
“Se você quer entender seus amigos – prefiro chamar meus vizinhos de ‘amigos’ em vez de ‘inimigos’ -, deve saber como pensam e o que sentem. Só assim se pode mudar a dialética vigente”, disse Mahameed antes do Dia Internacional do Holocausto, que acontece amanhã.
Autor do livro “Os palestinos e o Estado (mental) do Holocausto”, fundador de um museu do Holocausto para árabes e conferencista em numerosos fóruns sobre o assunto, Mahameed vai todas as semanas aos postos de controle na Cisjordânia com um só propósito: ensinar aos palestinos sobre o genocídio judeu.
Mahameed leva consigo fotos do extermínio de milhões de judeus pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. “Com uma foto, tiro qualquer dúvida em menos de um minuto”, assegura.
Mahameed, palestino de confissão muçulmana, acredita que o principal problema enfrentado pela intelectualidade e pelos dirigentes políticos árabes – os palestinos em particular – é que “não estudaram, ignoram ou negam o Holocausto”.
Morador de Nazaré, no norte de Israel, Mahameed fundou, em 2005, o Instituto Árabe para a Educação e a Pesquisa do Holocausto, e criou um pequeno museu que conta em seu acervo com fotografias e documentos adquiridos do Yad Vashem, o Museu do Holocausto de Jerusalém.
Ele também foi convidado a participar da recente Conferência sobre o Holocausto de Teerã, na qual seria um dos únicos oradores a argumentar que o genocídio ocorreu de fato, mas não pôde comparecer porque o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, voltou atrás no convite porque Mahameed tem passaporte israelense.
Mahameed afirma que as conhecidas declarações de Ahmadinejad, que negam ou minimizam o Holocausto, “só dão argumentos de apoio a Israel. No fim, quem paga o preço da negação do Holocausto são as crianças dos campos de refugiados palestinos”.
Ele ressalta que o palestino comum ignora que, quando israelenses morrem em um ataque palestino, “é preciso somar as vítimas aos seis milhões de mortos do Holocausto. Se você compara isso com os 100 mil palestinos mortos, a balança sempre se inclina para o mesmo lado”.
Por isso, Mahameed argumenta que ensinar aos árabes sobre o Holocausto é uma contribuição vital para os esforços pela paz entre palestinos e israelenses.
Mahameed é uma “ave rara” em sua comunidade e chegou a receber ameaças do grupo fundamentalista Hamas, principalmente porque os árabes o acusam de se concentrar na problemática israelense em vez de tratar dos problemas cotidianos com os quais o povo palestino sofre.
Ele também está sob a mira da Liga Anti-Difamação (LAD) judaica, que o acusa de relacionar de maneira equivocada a situação dos palestinos ao Holocausto, dando a impressão de que sofrem devido ao genocídio nazista e pagam pelos pecados dos europeus, posição que tacham de anti-semita.
“Desde minha infância tenho a idéia de que o nazismo foi algo muito ruim; é uma lembrança de quando tinha 6 anos e vi meu pai sair de uma prisão e me dizer: estamos pagando o preço do nazismo”, explica.
“Mais tarde, já universitário, em uma manifestação em Jerusalém, gritei para um policial israelense que ele estava fazendo a mesma coisa que os nazistas, e ele me deixou ir”, acrescenta, ao exemplificar as sensibilidades que o tema desperta no país.
Mahameed afirma que “90% de Israel estão construídos sobre a lembrança do Holocausto”.
Ele cita o exemplo dos políticos ocidentais que alegam que é preciso defender Israel “pelo que aconteceu no Holocausto”. Mas se queixa de que “quando um árabe faz uma afirmação semelhante, por exemplo de que o mundo apóia Israel por causa do Holocausto, é chamado de anti-semita”.
“Eu digo que não se deve ter medo de falar do Holocausto, que não é um assunto exclusivo dos judeus, e responsabilizo Israel e os europeus por não terem nos proporcionado as ferramentas para que nos inteirássemos desta questão”, argumenta.
O advogado afirma que Israel construiu um muro de separação “porque os palestinos não entendem como sua mente funciona”.
Mahameed acrescenta um exemplo: “O juiz do Supremo que autorizou a construção do muro viveu 6 meses em um gueto da Lituânia e, depois, uma família cristã o abrigou em sua casa durante meses… Me informei sobre os graves ‘pogroms’ que ocorreram nesse país báltico, e um muro é uma resposta psicológica que dá segurança”.
Fonte: EFE