As mulheres já bebem cerveja na mesma freqüência que os homens e se tornaram o novo alvo da indústria de bebidas, inclusive, com comerciais de TV exclusivamente para elas.

Pesquisa da Senad (Secretaria Nacional Antidrogas) e da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), divulgada semana passada, mostra que não há diferença estatística na taxa de consumo de cerveja entre os gêneros (62% entre homens e 58% entre as mulheres). O estudo ouviu 3.007 pessoas em 143 cidades brasileiras.

Entre os adolescentes, acontece a mesma tendência de consumo: 53% dos garotos declaram tomar cerveja, contra 50% das meninas.

A diferença entre os gêneros (adultos e adolescentes) ainda está na quantidade ingerida: 38% dos homens consomem cinco doses de bebida alcoólica (fermentadas ou destiladas) contra 17% das mulheres.

Mas, a depender da indústria da cerveja, esse padrão de consumo também poderá ser mudado. Uma cerveja voltada para mulheres, a Porto (Ambev), acaba de ser lançada.

No comercial de TV sobre a cerveja, a velha fórmula sexista, agora ao inverso: em um bar lotado de belas garotas bebendo cerveja, ao som de música latina, um garçom mais velho é trocado por um jovem bonitão.

Para a psicóloga Ilana Pinsky, do departamento de psiquiatria da Unifesp, o foco de propagandas de bebidas nas minorias é uma tendência nos EUA e pode se tornar uma estratégia no Brasil, um mercado com potencial de crescimento.

“No Brasil, a mulher ainda bebe muito menos do que potencialmente poderia beber. É esperto da parte das indústrias focarem nas mulheres jovens e em jovens em geral porque é esse público que pode mudar o padrão de consumo, não vai ser o cara de 40 anos.”

Sérgio Ramos, da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas, tem a mesma preocupação: “Estão querendo agora ampliar o mercado em direção às mulheres jovens. E fazem propaganda enganosa. Mulher que bebe freqüentemente engorda, tem barriga, não tem a exuberância da TV”.

Para Marcos Mesquita Coelho, presidente do Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja, é natural ocorrer uma mudança no direcionamento da propaganda devido ao aumento do consumo da bebida e à participação cada vez maior das mulheres no mercado de trabalho e na renda nacional.

Segundo ele, não tem sentido uma propaganda focada apenas na motivação do homem se a mulher consome a bebida quase na mesma proporção.

“O problema dessa propaganda [da cerveja Porto] é que ela está voltada para a mulher, mas ainda usando o mesmo padrão de publicidade usado para o público masculino. Trocar esse [garçom] por outro mais bonito não me parece um padrão esperado das mulheres.”

Segundo ele, as pesquisas de mercado demonstram que as mulheres cada vez mais consomem cerveja e decidem pela marca de preferência. “Nada mais adequado do que trabalhar conceitos mais presentes na decisão da mulher.”

Presença das mulheres é similar à dos homens

A presença de mulheres nos bares é cenário comum e não fica muito atrás da dos homens em estabelecimentos visitados pela Folha. A estudante Cristiane Paludetto, 30, afirma que começou a consumir bebidas alcóolicas aos 14 anos. “Achava que tinha graça. Tive amigas que tomaram glicose na veia”. Hoje, ela diz beber menos.

Outra estudante, Paula Rodrigues, 21, diz que bebe mais que alguns amigos homens e que costuma misturar bebidas na “balada”, como vodca e energético, mas que não chega a passar mal.

A relação entre álcool e mulheres pode ser vista no site de relacionamentos Orkut, em grupos como “Sou Mulher e Bebo Mesmo” e “Mulheres Total Flex”.

Fonte: Folha de São Paulo

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