Um crescente número de religiosos americanos está abandonando o rótulo de “evangélico” para se distanciar de setores de extrema-direita da sociedade cristã, mas mantendo os seus princípios.
Um nome conhecido que decidiu não mais se referir como sendo evangélico é Boz Tchividjian, neto do conhecido reverendo Billy Graham — conselheiro espiritual de vários presidentes americanos e um dos principais responsáveis pela popularização do movimento evangélicos nos EUA.
“Eu não me identifico mais com esse termo”, disse Tchividjian ao jornal Guardian. “As palavras importam. E ‘evangélico’ não é como ‘batista’ ou ‘episcopal’, que podem ser claramente definidos. Quando você usa esse termo para uma pessoa, é definido pela forma que ela interpreta.”
Esse foi o mesmo motivo para a Sociedade Evangélica da Universidade de Princeton remover o “evangélica” do nome. Fundada há oito décadas, a associação foi rebatizada como Sociedade Cristã de Princeton. Segundo atual secretário-executivo do grupo, William Boyce, a mudança foi necessária porque “nos últimos anos estamos vendo mais estudantes que não se reconhecem ou não compreendem corretamente o termo ‘evangélico’”.
Pastor e fundador do movimento “Red Letter Christians”, Tony Campolo também tomou a mesma decisão. Em entrevista recente ao site Premier Christianity, o conselheiro espiritual do expresidente Bill Clinton afirmou que muitas conotações negativas foram atribuídas ao termo, principalmente entre não cristãos.
“Nos sentimos desconfortáveis em nos chamarmos como evangélicos, porque o público em geral supõe coisas sobre nós que não são verdadeiras”, afirmou Campolo. “Não somos favoráveis à pena de morte, não somos a favor da guerra, não odiamos gays e não somos antifeministas.”
Originalmente, o termo “evangélico” se refere a indivíduos ou grupos que seguem os Evangelhos da tradição cristã, e isso inclui não apenas novas denominações, mas religiões centenárias, como os metodistas e protestantes. Porém, nos EUA, o termo é normalmente atribuído apenas a grupos conservadores de extrema-direita.
“Como temos uma definição tão ampla e vaga do evangélico, uma pessoa pode assumir automaticamente que todo evangélico é defensor do Trump. Estamos olhando a fé através de uma lente política, e isso é perigoso.”, comentou Tchividjian.
Para Christopher Stroop, um ex-evangélico que agora critica o movimento religioso, a eleição de Donald Trump e as políticas implementadas após sua posse estão contribuindo para as pessoas abandonarem o rótulo “evangélico”. Existe até mesmo o grupo “Exvangelical” no Facebook. Contudo, critica os líderes que estão abandonando o termo, mas mantêm a defesa do que ele chama de “posições controversas associadas”.
Fonte: O Globo