O apoio de cristãos evangélicos a Israel é uma realidade, no entanto, devido à guerra contra o Hamas, centenas deles estão chegando ao país para servir como voluntários.
Shawn Landis, evangélico da Pensilvânia, nos EUA, é um desses exemplos. Quando ouviu sobre o ataque do Hamas em solo israelense, em 7 de outubro, ele sabia que assim que fosse possível iria a Israel como voluntário.
Passados, cinco meses, Landis estava cortando legumes numa cozinha de Tel Aviv, preparando refeições para os soldados israelenses.
Por anos, os evangélicos têm sido os mais dedicados apoiadores de Israel, especialmente nos EUA. Sua importante influência política tem contribuído para moldar a política israelense durante as recentes administrações republicanas, diz a AFP.
Chave de profecias
Para os cristãos, Israel é a chave para uma profecia do fim dos tempos que trará o retorno de Jesus, como Messias. Uma grande parte desse apoio é fundamentada em textos do Antigo Testamento, nos quais os judeus são considerados o povo escolhido por Deus e Israel é reconhecido como sua pátria legítima.
“Nas Escrituras, somos instruídos a apoiar Israel, e às vezes o melhor momento para apoiar alguém é quando estão passando por luto”, disse Landis, que já participou de quatro viagens religiosas anteriores a Israel. “Amizade não se limita apenas aos momentos bons, também é sobre os momentos difíceis.”
Landis está envolvido em um movimento de “voluntariado” religioso em Israel, onde viagens organizadas incluem algum tipo de atividade voluntária ligada à guerra em Gaza.
Serviço voluntário
O Ministério do Turismo de Israel estima que entre um terço e metade dos cerca de 3.000 visitantes diários que são esperados para março estão participando de viagens religiosas para serviço voluntário.
Antes dos conflitos, aproximadamente 15 mil visitantes chegavam diariamente a Israel, sendo metade deles cristãos, de acordo com estatísticas do Ministério do Turismo.
Em 2019, cerca de 25% dos visitantes chegaram por meio de viagens organizadas, segundo estatísticas mais recentes disponíveis que não foram afetadas pela COVID-19, de acordo com divulgação do Ministério do Turismo.
Um estudo conduzido pela Universidade Hebraica de Jerusalém revelou que quase metade dos israelenses se voluntariaram de alguma forma durante as primeiras semanas da guerra. No entanto, muitos voluntários israelenses retornaram ao trabalho e à escola, e agora os visitantes internacionais estão preenchendo essas lacunas.
Prioridade máxima
Nos EUA, o apoio a Israel passou a ser uma prioridade máxima para os cristãos evangélicos em ano de eleições presidenciais. Eles estão entre os defensores mais declarados da decisão de Israel à guerra contra os terroristas do Hamas.
Segundo a AP, os republicanos têm enfrentado pressão para não apenas manter o apoio tradicional a Israel, mas também sustentar as crenças fundamentadas na Bíblia.
A guerra é uma resposta de Israel após invasão de terroristas do Hamas no sul do país, que resultou no assassinato de cerca de 1.200 pessoas, além de 250 como reféns levados para a Faixa de Gaza; há informações de que até o momento cerca de 30 mil palestinos morreram em razão dos combates.
Em 11 de outubro, dezenas de líderes evangélicos assinaram uma declaração de apoio a Israel, organizada pela ala de políticas públicas da Convenção Batista do Sul, o maior grupo evangélico nos EUA.
Apoio financeiro
Um dos principais grupos pró-Israel nos EUA é o “Christians United for Israel” (Cristãos Unidos por Israel, em tradução livre), fundado e liderado pelo pastor John Hagee. A CUFI afirma ter arrecadado e distribuído mais de US$ 3 milhões para apoiar os socorristas israelenses, profissionais de saúde e sobreviventes do ataque ocorrido em 7 de outubro.
Landis participou de uma viagem voluntária de duas semanas organizada pela Embaixada Cristã Internacional em Jerusalém (ICEJ). O grupo evangélico já organizou cinco viagens voluntárias desde janeiro e planeja realizar mais meia dúzia no próximo mês. Geralmente, o ICEJ traz cerca de 6.000 visitantes cristãos a Israel anualmente.
O colombiano Claudio Pichardo, de 37 anos, estudante de administração na Holanda, foi inspirado pelas Escrituras a participar da viagem do ICEJ. “Esta é a melhor maneira que posso ajudar, porque postar no Facebook não ajuda”, declarou.
Quando a guerra começou, muitas companhias aéreas internacionais suspenderam os voos e o turismo parou, exceto por algumas missões de solidariedade judaica e cristã. Nas últimas semanas, algumas grandes companhias aéreas retomaram os voos para Israel, e outras planejam fazê-lo em breve.
Missões de solidariedade
Peleg Lewi, conselheiro de relações exteriores do Ministério do Turismo, afirmou que as missões de solidariedade com base na fé elevam o moral e têm o potencial de impulsionar o turismo em Israel após períodos de guerra ou violência.
Com a guerra entrando em seu sexto mês, Israel enfrenta crescente pressão internacional para intensificar seus esforços para mitigar o sofrimento dos civis em Gaza, incluindo a facilitação de mais ajuda humanitária.
Muitos israelenses temem que o mundo esteja se esquecendo do dia 7 de outubro.
Elizabeth Ødegaard, participante da viagem da Noruega, expressou surpresa com a emoção dos israelenses ao encontrar visitantes internacionais que vieram para apoiá-los.
“Muitas pessoas nos dizem: ‘O mundo inteiro nos odeia. Todos estão contra nós’, então quero dizer a eles: ‘Vocês não estão sozinhos’”, disse ela. “Sei que o povo de Israel é importante para Deus. Estes são meus irmãos e irmãs, e quando atacam Israel, atacam a mim também.”
Os participantes da viagem do ICEJ visitaram comunidades fortemente afetadas no sul de Israel, incluindo o local onde estão sendo armazenadas as carcaças de centenas de carros incendiados, muitos deles do festival de música Tribe of Nova, onde 364 pessoas foram mortas.
“Foi humilhante e preocupante estar lá, saber o que aconteceu há alguns meses e ver a resiliência israelense”, disse Landis.
Durante essas viagens, os visitantes participam de iniciativas voluntárias que surgiram em Israel nos últimos cinco meses, oferecendo mão de obra adicional para agricultores que enfrentam dificuldades na colheita, preparando refeições para famílias cujos membros trabalham nas reservas ou organizando doações para pessoas evacuadas que ainda residem em hotéis.
Uma das iniciativas é a Citrus & Salt, que anteriormente organizava aulas de culinária e passeios pelos mercados de Tel Aviv. Com o início da guerra, o foco mudou para a produção de mais de 35 mil refeições doadas.
“Realmente ajuda a elevar o moral das pessoas quando vêm do exterior para Israel em tempos de conflito, para dizer fisicamente: ‘Estou aqui para ajudar. Do que você precisa?'”, disse Aliya Fastman, natural de Berkeley, Califórnia, que mora em Israel há mais de uma década e administra a Citrus & Salt com sua irmã. “Picar cebolas não é algo pequeno quando você atravessa o mundo para fazer isso.”
Fonte: Guia-me com informações de AP