Hoje, 1 em cada 6 padres diocesanos pregando no Estados Unidos veio do exterior, segundo estudo publicado em 2006. A cada ano, em torno de 30 padres chegam para trabalhar no país. Nos seminários americanos, a cada 3 seminaristas, 1 é de nacionalidade estrangeira.

Dezesseis dos padres que trabalham com o reverendo Darrel Venter andam com muito trabalho, cada um deles atendendo três paróquias simultaneamente. Um deles admitiu que, às vezes, no altar, esquece completamente qual igreja ele visitou antes. Por isso, Venters passa a maior parte dos dias recrutando padres do exterior.

Nos últimos seis anos, ele trouxe 12 padres da África, Ásia e América Latina que vêm atendendo a dioceses que abrangem um terço da área oeste de Kentucky. Eles refletem bem a tentativa da Igreja de importar padres do exterior para compensar a falta de clérigos americanos – e de que maneira essa tendência está reformulando a experiência católica nos Estados Unidos.

“A partir de uma perspectiva estritamente pessoal”, diz Venters, “é mais fácil trabalhar com padres estrangeiros do que com os locais. Se eles armam alguma confusão, você simplesmente retira a permissão de permanência deles”.

Mas esse não é o único benefício. Os católicos do Kentucky, que não sabiam distinguir Nigéria de Uganda, abriram os olhos para as condições de vida nos países de onde veem os padres que os atendem – chegaram até a arrecadar US$ 6 mil para a instalação de poços no povoado natal de um padre nigeriano.

“É um tiro no escuro quando você recebe essas pessoas”, avalia Venters. “Mas honestamente, salvo alguns poucos casos, estamos obtendo realmente bons resultados.”

Sermões resumidos

Em Oak Grove, também em Kentucky, o reverendo Chrispin Oneko, tirando suas vestimentas depois de rezar uma das suas primeiras missas dominicais na nova paróquia, estava muito satisfeito até encontrar alguns bilhetes deixados por seus paroquianos.

Todas anônimas, as mensagens traziam o mesmo recado: “Padre, por favor, faça sermões mais curtos.” Uma delas dizia que mesmo cinco minutos eram muito tempo para uma mãe com filhos.

Em sua terra natal no Quênia, Oneko pregava para os fiéis da zona rural que andavam horas para chegar à igreja e se desapontavam quando o sermão era muito curto. “Aqui a missa inteira dura uma hora”, diz ele, com um largo sorriso no rosto. “Foi uma lição para mim aprender a resumir tudo e fazer um sermão de 10 minutos, talvez 15. Aqui as pessoas estão sempre se movimentando muito rápido.”

O padre Oneko é um exemplo perfeito desse grupo de clérigos católicos importados. Eles chegam ao país sabendo como celebrar a missa, ungir os doentes e batizar as crianças. Mas poucos estão preparados para os desafios de ser um pastor de almas nos Estados Unidos.

O padre Oneko, de 46 anos, não tinha a menor idéia, por exemplo, de como conduzir uma campanha multimilionária de arrecadação de fundos iniciada pelos paroquianos para a construção de uma igreja octogonal com um campanário que vai substituir a velha paróquia de tijolos.

Fonte: Estadão

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