O pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, disse que o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB), errou ao reunir pastores na sede do governo para discutir prestação de serviços públicos, mas que, apesar do erro do prefeito, o encontro não é um motivo suficiente para o impeachment.
“Para que chamar exclusivamente um grupo de pastores evangélicos? Faltou um pouquinho de inteligência. Faltou fazer política”, disse Malafaia, para quem deveriam ter sido convidados líderes de outras religiões.
“Mas ele roubou? Comprou com corrupção? Não é um erro dessa magnitude”, disse Malafaia.
Crivella, bispo licenciado da Igreja Universal, é acusado de prometer privilégios a evangélicos em reunião realizada na última quarta (4) no Palácio da Cidade, uma das sedes da prefeitura. No encontro, ele ofereceu ajuda para encaminhar fiéis a cirurgias e para agilizar processos de isenção da cobrança de IPTU das igrejas.
Na reunião, ele ainda apresentou aos presentes o pastor Rubens Teixeira, que vai disputar vaga de deputado federal no Rio pelo seu partido e defendeu o voto em evangélicos para “dar jeito nessa pátria”.
Improbidade administrativa
O Ministério Público entrou na Justiça, na noite desta quarta-feira (12), com uma ação civil pública por improbidade administrativa contra o prefeito do Rio, Marcelo Crivella.
Segundo o MP, o prefeito usou o espaço público e “extrapolou os limites do razoável” ao promover o encontro secreto com pastores e líderes religiosos. A promotoria quer evitar que Marcelo Crivella conceda privilégios a um grupo religioso.
A ação foi ajuizada no fim da noite. No documento de quarenta e cinco páginas, o Ministério Público relembra, além da reunião secreta, outros casos de possível improbidade na gestão de Marcelo Crivella.
Entre eles, o inquérito civil instaurado em agosto do ano passado que apurava uma possível violação à liberdade religiosa na Guarda Municipal do Rio.
Ação cita ainda eventos da igreja universal do reino de deus dentro de escolas públicas, como mostra esta foto em que se oferece atendimento espiritual.
Os promotores apontam que “ao agir assim, além de escolher o seu seguimento religioso para beneficiar o prefeito se utilizou de espaço e cargos públicos para a prática de atos, fazendo crer estar na construção de um projeto de poder político que merece toda a atenção das instituições”.
Em outro trecho, o MP disse ainda que Crivella “extrapolou os limites do razoável, usando sua estrutura para propagar seu credo, e com isso, aumentar seu capital eleitoral como ficou evidente na presença de pré-candidatos na reunião realizada no dia quatro de julho, no palácio da cidade”.
Na ação, o Ministério Público pede que Crivella cumpra 12 determinações, entre elas: Deixar de usar a máquina pública do município para a defesa de interesses pessoais ou de seu grupo religioso e não pedir que servidores concedam privilégios à determinada categoria para acesso ao serviço público de qualquer natureza.
O MP também determina que o prefeito pare de atuar em favor de determinada entidade religiosa, notadamente da Igreja Universal do Reino de Deus e que não mantenha qualquer relação de aliança ou dependência com entidade religiosa que vise à concessão de privilégios, captação do estado, dominação de estruturas administrativas e de poder político e imposição de uma religião específica como oficial e ainda que não use espaços públicos para realizar atividades religiosas.
A promotoria encaminhou a ação para a Vara da Fazenda Pública do Rio. No fim do documento, o MP alerta que caso Crivella deixe de cumprir qualquer um dos itens, os promotores vão entrar na Justiça para pedir que ele seja afastado do cargo.
Universal compra a briga
Em reunião na noite de anteontem, a cúpula da Igreja Universal do Reino de Deus decidiu comprar a briga da crise envolvendo Marcelo Crivella (PRB), de acordo com o jornal O Dia.
A ordem é a seguinte: reagir. Significa partir para cima dos vereadores que apoiarem o impeachment do prefeito.
Serão dois os caminhos. Primeiro: produzir dossiês contra os parlamentares e, caso seja preciso, divulgá-los nos meios de comunicação pertencentes ao grupo dos evangélicos.
Segundo: pastores de templos da cidade atacarão tais vereadores nos cultos e na presença dos fiéis, principalmente em seus redutos eleitorais.
Entenda o caso
O prefeito do Rio, Marcelo Crivella (PRB) recebeu, na sede da prefeitura, 250 pastores e líderes evangélicos e prometeu várias facilidades para os fiéis.
O encontro foi a portas fechadas, e os convidados não podiam pegar no celular. Crivella marcou a reunião por mensagem. Segundo o jornal O Globo, os pastores podiam levar qualquer reivindicação e, em troca, a prefeitura falaria sobre o que teria a oferecer para os convidados.
Em áudios da reunião, Crivella promete solução para os problemas com IPTU. O encontro aconteceu na tarde de quarta-feira (4).
“Tem pastores que estão com problemas de IPTU. Igreja não pode pagar IPTU, nem em caso de salão alugado. Mas se você não falar com o doutor Milton, esse processo pode demorar e demorar”.
Crivella ofereceu ainda sinal de trânsito, quebra-molas e ponto de ônibus perto das igrejas.
“Às vezes, o pastor está na porta da igreja e diz assim: ‘Quando o povo atravessa, pode ser atropelado’. Vamos botar um sinal de trânsito. Vamos botar um quebra-molas. Ou então o pastor diz assim: ‘O ponto de ônibus é lá longe, o povo desce e vem tomando chuva até a porta da igreja’. Então vamos trazer o ponto para cá”.
Fonte: Folha de São Paulo, O Dia, G1