Sua mulher morreu pouco antes dele ser acusado falsamente de profanar o Alcorão, e durando o tempo em que ficou preso no sul da Etiópia, seus dois filhos, com idades entre 6 e 15 anos, ficaram desaparecidos
Tamirat Woldegorgis saiu da prisão em Jijiga no dia 25 de abril, depois de passar quase dois anos sob custódia, em uma pequena cela, com 50 outros presos. Tamirat ficou com uma perna paralisada.
“Eu tentei localizar meus filhos, mas meu esforço foi em vão”, disse Tamirat ao Compass. “Minha vida está arruinada – Perdi minha casa, meus filhos, minha saúde. Agora estou sem casa, e eu estou coxo”.
Os muçulmanos de sua aldeia, Hagarmariam, podem ter levado seus filhos para desencorajá-lo a retornar à região, disse Tamirat, atualmente morando com um amigo em uma cidade não revelada. Membro da Igreja do Evangelho Pleno, Tamirat foi preso em agosto de 2010, depois que seu colega de trabalho e sócio muçulmano descobriu a inscrição “Jesus é o Senhor” em um pedaço de pano que pertencia a Tamirat, disseram os cristãos da região.
Depois seu sócio o acusou de escrever “Jesus é o Senhor” em uma cópia do Alcorão, embora nenhuma evidência disso tenha sido encontrada. Irritados os xeiques das mesquitas da região prenderam Tamirat por profanar o Alcorão. Segundo as fontes, os muçulmanos também o acusaram de escrever “Jesus é o Senhor” em um pedaço de madeira, em um microônibus e, em seguida, na parede de uma casa.
Tamirat foi condenado a três anos de prisão em 18 de novembro de 2010, e, eventualmente, ele foi transferido para uma prisão em Jijiga, capital da Zona Cinco Somáli, que é dirigida segundo os princípios islâmicos. O sistema das administrações estaduais da Etiópia é em grande parte autônomo, a maioria dos cargos no governo da Zona Cinco Somali é ocupada por muçulmanos.
A população da Etiópia é composta de muçulmanos 34,1% e cristãos 60,7%, de acordo com a organização Operação Mundo. Não é permitido pregar outras religiões na Zona Cinco, apesar da constitução da Etiópia “defender” a liberdade religiosa. A hostilidade contra outras religiões tem se espalhado e se tornado, cada vez mais, comum nas áreas predominantemente muçulmanas da Etiópia e de países vizinhos. Os cristãos, muitas vezes estão sujeitos a assédio e intimidação.
Enquanto Tamirat estava na prisão, as autoridades tentaram convencê-lo a negar sua fé e tornar-se muçulmano, mas em todas as tentativas ele se recusou, disse ele.
“A vida na prisão Jijiga foi muito dura”, disse Tamirat. “Cerca de 50 prisioneiros ficavam trancados em uma pequena cela. Foi realmente muito difícil. Sobreviver a uma prisão dura como esta só é possivel pela graça de Deus. Enquanto estive lá, alguns dos detentos morreram”.
Somente por duas ocasiões me autorizaram receber visitas na prisão, disse ele. Um advogado o visitou alguns meses antes de sua libertação, mas isso depois de cumprir pouco menos de dois anos da sentença. Ao ser liberado da prisão, Tamirat não recebeu seus documentos oficiais – o cartão de identificação nacional e a carta de liberação – fato que indica a falta de evidências que justifiquem sua prisão.
Quando ele chegou em casa, descobriu que os muçulmanos haviam invadido suas terras e parcialmente demolido sua casa. Não havia nenhum sinal do paradeiro de seus filhos.
Ele escreveu uma carta para a polícia de Moyale reclamando da ocupação de sua casa, mas até o momento não recebeu nenhuma resposta.
Tamirat começou a receber mensagens ameaçadoras logo após seu retorno. “Nós não queremos te ver por aqui”, dizia uma das frazes. “Você corre risco de perder a vida”. Então ele fugiu para a casa de um amigo cristão.
Zamatar Abdi, um oficial de Moyale, disse ter comprado o terreno onde está localizada sua casa, disse Tamirat. Uma máquina de costura de 225 dólares americanos e todos os utensílios domésticos desapareceram. A casa está parcialmente demolida e, inabitável, disse ele.
Tamirat espera reencontrar seus filhos, e que suas queixas e ações judicais, para recuperar seus bens, sejam levadas em consideração.
[b]Fonte: Missão Portas Abertas[/b]