Enquanto um padre liderava as orações para algumas dezenas de fieis dentro da Igreja de São João Caldeu aqui no domingo, policiais iraquianos faziam a guarda do lado de fora. Eles bloquearam o trânsito na rua e revistaram as pessoas em buscas de cintos explosivos.
Nas igrejas de Bagdá esta semana, funcionários das forças de segurança estão pedindo a identidade dos cristãos para verificar se seus nomes são cristãos. Algumas igrejas em volta da cidade de Mosul, no norte, estão cavando em volta de seus edifícios, cercando-os com muros de terra gigantes para evitar que carros bomba cheguem muito perto.
Para os cristãos no Iraque, este sera um ano de celebrações canceladas e missas de Natal sob a proteção da polícia e dos soldados por causa de uma inundação de ameaças de grupos extremistas de bombearem igrejas no dia de Natal.
“Estou muito triste por não podermos fazer nossos rituais de Natal este ano e não termos um sermão, mas não queremos que nenhum cristão seja ferido”, disse Edward Poles, padre cristão na Igreja Sa’a em Mosul, que sofreu um ataque a bomba na semana passada que não deixou nenhum morto.
Em Bagdá, cristãos disseram que estão com tanto medo quanto estavam em 2006, quando um surto de sectarismo obrigou muitos a deixarem seus bairros por vários meses.
“Não haverá celebração nem nada do tipo”, disse Duraid Issam, sacristão de 41 anos. “Não faremos nada porque as coisas estão muito ruins. Não somos alvos somente nas igrejas, mas também em nossas casas porque eles também planejam colocar bombas do lado de fora delas.”
Não há dados confiáveis sobre o número de cristãos no Iraque, mas a comunidade era estimada em cerca de 750 mil antes da invasão liderada pelos EUA em 2003.
Desde então, ela se tornou alvo de assassinatos e sequestros, fazendo com que milhares de pessoas fugissem.
Muitos que continuaram lá têm medo e tomaram precauções para esconder os sinais de sua fé. As celebrações este ano serão ainda mais discretas porque o Natal coincide com a observância muçulmana da Ashura, período de luto pelos muçulmanos xiitas.
“Nossas celebrações não serão abertas e ficarão restritas a ir à igreja pela manhã”, disse Naeil Victor, professor de 58 anos na cidade de Basra, ao sul. “Meus filhos estão tristes porque estão esperando pelo Natal há um ano, mas minha mulher e meu pai compreendem o que está acontecendo ao redor.”
Algumas igrejas estão cercadas por dezenas de soldados e policiais depois que o governo colocou as forças de segurança em alerta porque recebeu os nomes das igrejas que os grupos extremistas disseram que iriam atacar no dia de Natal. Outras igrejas receberam ameaças individuais.
Em Mosul, durante o mês passado, três igrejas foram bombardeadas, matando um bebê e ferindo outras 40 pessoas. Na semana passada, um homem cristão foi assassinado a tiros enquanto andava pelas ruas de Mosul.
Pelo menos uma igreja dediciu transferir a missa de Natal de Mosul para uma pequena cidade a cerca de 48 quilômetros ao norte porque os fieis disseram que se sentiriam mais seguros.
“Transferimos os rituais do Natal para a cidade de Qereqush, temendo que os cristãos pudessem ser feridos nessa cidade insegura”, disse o reverendo Behnam Asaad da Igreja Qahira. “Distribuímos cartões e folhetos para as famílias cristãs da igreja informando-as sobre o local e hora da celebração, mas tememos que aconteçam assassinatos mesmo depois do Natal.”
Asaad sisse que ele recebeu cartas até esta segunda-feira de grupos armadas ameaçando explodir igrejas e mosteiros, incluindo o seu, se eles celebrassem o Natal.
Muitos cristãos, entretanto, disseram que não estavam preocupados com a possibilidade de serem atacados, afirmando que não estavam sofrendo mais do que outros iraquianos.
“Nós não somos os únicos alvos, mas todos os iraquianos”, disse Ann Benjamin, 26, depois de passar por um grupo de seguranças para ir à missa esta semana na Igreja Al Qaleb Al Aqdas (Sagrado Coração) no distrito de Karada em Bagdá. “Não tenho medo de ir à igreja – mesmo que eu morra lá, ficarei feliz por morrer na casa de Deus.”
Os que planejam celebrar o Natal dizem que irão à missa, comprarão presentes e farão doces tradicionais, como klecha, uma massa recheada com tâmara.
“Hoje eu comprei minha árvore de Natal e a decorei e assim como todo ano comprei presentes e roupas novas para as crianças”, disse Sami Jalal, engenheiro de 33 anos de Basra.
Jalal disse que o que ele mais deseja, entretanto, é que o longo período de violência tanto contra cristãos quanto muçulmanos chegue ao fim.
“Espero”, disse ele, “que essa provação logo desapareça do país.”
Fonte: The New York Times