Achar iguarias de Páscoa em Riad é como brincar de uma enorme caça ao tesouro – mas sem a certeza de que horas de procura irão render em algum achado.

A Páscoa, como outras festas cristãs, é ilegal na Arábia Saudita, um país onde o islamismo é a única religião reconhecida e horas de busca são necessárias para se encontrar alguns poucos ovos de chocolate.

O reino adere à estrita interpretação wahhabi da mais conservativa escola sunita, que considera qualquer forma de celebração – aniversário, Dia dos Namorados, Natal, Dia de Ações de Graças e até a maior parte das festividades muçulmanas – como “inovações religiosas” que o islamismo não permite. Só são permitidas as festas muçulmanas do al-Fitr, que marca o fim do mês sagrado do Ramadã, e o al-Adha, que concluiu a peregrinação anual a Meca.

A Arábia Saudita afirmou publicamente que sua política protege o direito de culto privado de não-muçulmanos. Entretanto, o herdeiro do trono disse que o reino jamais permitirá que igrejas sejam construídas.

Mas, apesar das restrições, é possível que os estrangeiros – que totalizam a população cristã saudita – realizem em suas casas algo que se pareça com a Páscoa durante essa época de grandes festas.

Nas comemorações de Ações de Graças, as comidas típicas da festa aparecem milagrosamente nas prateleiras dos supermercados. Durante o Natal, podem ser encontrados bolos de Natal, pinheiros de plástico e velas vermelhas, verdes, prateadas e douradas.

Mas, até os menores enfeites são difíceis de se achar durante a Páscoa. Nas quatro lojas da cidade que geralmente têm artigos cristãos, apenas uma tinha os ovos de chocolate. Uma placa abaixo dos doces, ao fim da gôndola dos chocolates, dizia: “coleção sazonal”.

O clima era mais festivo em outros lugares do Oriente Médio, onde cristãos celebravam abertamente o feriado no domingo, lotando igrejas e comprando coelhinhos e ovos de chocolate.

Nos Emirados Árabes Unidos, vizinho da Arábia Saudita, muitos funcionários das embaixadas tiveram o dia livre e alguns hotéis realizaram refeições de Páscoa. Um cruzeiro fez uma viagem especial em torno do canal de Dubai, durante a qual os passageiros degustaram um jantar de Páscoa.

Filipinos, indianos e cingaleses são a maioria dos cristãos dos Emirados, ao lado dos trabalhadores europeus e norte-americanos. Muitos deles encheram a Igreja de Santa Maria, uma das maiores igrejas católicas romanas nos Emirados. A igreja, que esperava mais visitantes que sua capacidade de 1.700 lugares, colocou telões do lado de fora de seu templo para aqueles que não encontraram um assento acompanharem o culto.

Na igreja ortodoxa grega no Kuweit, os cristãos colocaram suas melhores roupas e receberam ovos coloridos ao fim do culto. A celebração foi pequena, uma vez que o Kuweit é a casa de apenas algumas centenas de cristãos.

Na Jordânia, centenas de cristãos ortodoxos e católicos começaram a observar a Páscoa na noite de sábado, indo às igrejas para vigílias noturnas que se estendiam até às primeiras horas da manhã, em meio a uma segurança reforçada.

Cerca de 250 cristãos, carregando velas e celebrando a ressurreição de Cristo com alegria, cantaram até o romper da manhã na minúscula igreja do século 6 no topo do Monte Nebo, onde acredita-se que Moisés tenha visto a “terra prometida”.

“Conseguir a paz em Jerusalém faria uma enorme diferença ali, e melhoraria outras áreas atribuladas” o bispo anglicano aposentado Riah Abu al-Assal, de Jerusalém, disse aos cristãos no Monte Nebo.

A segurança também foi a maior preocupação na Jordânia de muçulmanos sunitas, onde os cristãos são apenas 3% da população de 5,5 milhões. Patrulhas da polícia foram colocadas do lado de fora das igrejas por precaução, depois que três atentados em hotéis de Amã, em 2005, mataram 62 pessoas.

A segurança também foi reforçada do lado de fora da igreja caldéia São José, no centro de Bagdá. Lá, todo homem que entrava era revistado, e carros de polícia bloqueavam os dois lados da rua para evitar algum carro-bomba.

Nos últimos anos, depois de ataques contra dezenas de igrejas, a assiduidade da minoria cristã iraquiana aos cultos de Páscoa tem diminuído dramaticamente. Mas, neste ano, a igreja São José estava cheia de uma maneira incomum, com mais de mil pessoas espremidas dentro do templo.

A política figurou em sermões de Páscoa no Líbano, onde clérigos pediam unidade para esse país fracionado, cuja população é 35% cristã.

Mas a tensão latente não impediu os cristãos libaneses – católicos e gregos ortodoxos – de aproveitarem o dia, durante o qual foram servidos biscoitos de Páscoa recheados com nozes e concursos animavam famílias e amigos.

Em seus sermões, clérigos cristãos pediam por diálogo no Líbano, que testemunha uma luta pelo poder entre a oposição liderada pelo Hezbollah e o governo do premiê Fuad Saniora, apoiado pelo Ocidente.

O patriarca cardeal Nasrallah Sfeir, chefe da mais influente igreja maronita do Líbano, lamentou as divisões entre os líderes libaneses.

Os libaneses já tiveram “crises e desastres” suficientes nos últimos 30 anos, que levaram milhares deles a emigrar, disse Nasrallah em Bkirki, patriarcado ao nordeste de Beirute.

“Imploramos a Deus para curar as feridas do corpo desse país e colocar na cabeça dos cidadãos que eles são irmãos, apesar de terem diferenças religiosas, políticas e sociais”, disse Nasrallah, líder da igreja maronita de 900 mil membros.

Fonte: Portas Abertas

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