A revista da Arquidiocese de Havana, Palabra Nueva, publicou nesta segunda-feira um editorial em que ressalta a importância da retomada das relações entre Cuba e Estados Unidos e enfatiza também a necessidade de um estabelecer um “diálogo nacional” entre os próprios habitantes da ilha.

No texto, que é assinado por seu diretor, Orlando Márquez, a revista propõe a superação do que define como uma “guerra fria” entre Havana e Washington, com o objetivo de promover relações em um contexto de “mudanças”. O artigo pede também que o diálogo bilateral seja desprovido de “preconceitos históricos”.

Para a publicação, o atual momento, com a chegada de Barack Obama à Casa Branca, oferece a possibilidade de impulsionar um possível “reencontro entre duas nações”. Márquez escreve ainda que “do lado de cá [de Cuba], a vontade para o diálogo não pode ser mais evidente, anunciada mais de uma vez pelo presidente Raúl Castro”.

O diretor da Palabra Nueva lembra os anúncios do presidente norte-americano sobre a possível eliminação de sanções contra Cuba, mas admite que, se nos Estados Unidos “Obama é ainda uma incógnita”, em seu país as dúvidas e expectativas que cercam seu governo “se amplificam”.

“Boa parte dos cubanos tem a expectativa de que a suposta mudança no modo de fazer política dentro dos Estados Unidos e, portanto, sua projeção no exterior, implique também uma mudança nas relações com Cuba”, enfatiza Márquez.

Ele chama a atenção, por outro lado, para o risco de que os dois governos insistam em posições baseadas em acontecimentos históricos antagônicos. “A história se faz a cada dia, e é preciso estar disposto a assumir a sua própria [história], e saber compreendê-la e enriquecê-la com a história de outros”, argumentou.

Nesta linha, o editorial alerta para “os obstáculos fantasmagóricos da Guerra Fria que se levantam outra vez”. O texto afirma também que os problemas de Cuba devem ser resolvidos “entre os cubanos”, mas admite que, “em algum momento”, o diálogo para solucioná-los “passaria também pela Casa Branca”.

Além de defender a reaproximação com Washington, Márquez reforça também em seu artigo a importância de um “diálogo nacional” entre os próprios cubanos. “O diálogo nacional sempre será mais importante. Se Obama não for a mudança para Cuba, não mudaremos Cuba para os cubanos?”, questiona ele.

Desde o início do governo de Obama, o presidente de Cuba, Raúl Castro, tem emitido sinais de que estaria disposto a retomar o diálogo com os Estados Unidos. Em algumas ocasiões, ele afirmou que poderia se reunir com o mandatário norte-americano, desde que as conversas ocorressem em “igualdade de condições”.

O irmão mais velho de Raúl e líder histórico da ilha, Fidel Castro, que se afastou do poder em 2006 devido a problemas de saúde, já elogiou Obama em alguns dos artigos que publica na imprensa oficial do país, mas recentemente passou a criticar sua política externa e chegou a pedir a devolução da base norte-americana de Guantánamo, onde funciona um centro de detenção que deverá ser desativado dentro de um ano por ordem da Casa Branca.

Nos Estados Unidos, o Congresso vota atualmente um projeto de lei que amplia os direitos dos norte-americanos de origem cubana que queiram viajar à ilha para visitar parentes. Por outro lado, a comunidade internacional tem reforçado o pedido para que Washington retire o embargo que impõe à ilha desde a década de 1960.

Fonte: Ansa

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