D. Cláudio Hummes criticou ontem em Roma tanto a Igreja Católica, pela dificuldade em manter fiéis, quanto o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, por seu suposto populismo. As informações são da Ansa, agência de notícias da Itália.
O ex-arcebispo de São Paulo e atual “ministro” de Bento 16 na Congregação para o Clero disse durante palestra em uma universidade que “não se trata de lutar contra as seitas”, mas de entender por que os católicos não foram capazes de “conduzir até Jesus Cristo” aqueles que batizaram.
“É como se nossa evangelização tivesse sido feita pela metade”, afirmou ele.
Ainda em tom de autocrítica, d. Cláudio explicou por que a igreja tem de ser mais próximas de seus fiéis. “Já não será possível concluir com uma bela festa o período do anúncio do Evangelho e dizer àquelas pessoas que voltaremos a nos ver em cinco anos. Sabemos que essas mesmas famílias serão visitadas pelas seitas com um estilo próprio, feito também de ajuda material, a cada 15 dias.”
Chávez
O cardeal brasileiro disse que Chávez é “portador de proposta fortemente populista e ainda não está claro aonde vai parar” e que “chegou até a “ressuscitar” Fidel Castro que, de fato, se tornou uma espécie de guru em eleições na América Latina”.
No ano passado, quando recebeu Chávez no Vaticano, Bento 16 disse estar preocupado com a relação entre igreja e Estado no país. Pediu, em especial, que o venezuelano assegurasse que não haveria interferência nos meios de comunicação católicos do país. Chavéz acatou o pedido do papa.
Contudo, a relação do presidente com a igreja venezuelana não é boa: a igreja criticou o “socialismo do século 21” e Chávez retrucou, no dia da posse, dizendo que o bispo Roberto Lücker, um de seus maiores críticos, “vai para o inferno”.
Ainda segundo a agência Ansa, D. Cláudio destacou a diferença entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Chávez. O cardeal afirmou que o brasileiro é “mais pragmático do que ideológico e é preciso não esquecer que no Brasil o capitalismo é muito ativo”.
Fonte: Folha de São Paulo