O bispo de Barra (BA), d. Luiz Flávio Cappio, apresentou ontem uma “carta aos povos do Nordeste” na qual fala sobre a greve de fome – que chegou ontem ao terceiro dia – e os motivos pelos quais é contrário à transposição do Rio São Francisco, que qualificou como “um problema de ordem ecológica, econômica, social e ética”.
Instalado na Capela de São Francisco, em Sobradinho (BA), a 554 quilômetros a noroeste de Salvador, e acompanhado por parentes que chegaram ontem de São Paulo para dar apoio à manifestação, d. Luiz afirma, na carta, que a questão central é combater o desperdício. “O que precisa é construir uma nova mentalidade a respeito da água (…), valorizando cada gota.”
Ele reconhece que o ato de protesto que realiza, talvez, não seja entendido por boa parte da população. “A maioria acha que a transposição resolve a seca”, escreveu, mas afirma que está disposto a seguir com a greve “até o fim”, caso seja necessário. Do lado de fora da capela, foram instalados painéis fotográficos com imagens do rio e explicações sobre o deslocamento do curso d’água e os supostos efeitos das obras para os moradores das margens do São Francisco. Filas de apoiadores são organizadas também fora da pequena igreja – para não se cansar, ele começou a recebê-los em pequenos grupos, um por vez.
D. Luiz afirma que só interrompe a manifestação se as tropas do Exército saírem dos locais onde são realizadas as obras ou se forem arquivados, definitivamente, os projetos da operação – opções descartadas pelo governo. “Ainda não recebi nenhuma declaração formal do governo sobre o assunto”, alega.
Na tarde de ontem, o bispo de Barra recebeu a visita de um médico, segundo o irmão dele João Franco Cappio. O estado de saúde de d. Luiz foi considerado bom, apesar de ele começar a apresentar sinais de fadiga. “Se algo acontecer com meu irmão, a culpa será do presidente”, dispara Franco Cappio.
Fonte: Agência Estado