“O islã não pode ser estudado como estudamos gramática”, disse o patriarca Ignacio IV, da Igreja Ortodoxa Grega na Síria, à delegação encabeçada pelo secretário-geral do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), Samuel Kobia.
A delegação visitou a Síria, o Líbano e os Emirados Árabes Unidos, de 19 a 22 de abril, com o propósito de aprender a respeito da longa experiência do país na convivência pacífica entre cristãos e muçulmanos. “Devemos entrar em contato com as pessoas da rua e compartilhar com elas. Os muçulmanos que vivem em seus países compartilham com vocês. Por que os ignoram?”, perguntou o patriarca, em particular aos membros da delegação procedentes da Europa e dos Estados Unidos da América.
A difícil situação dos refugiados iraquianos e a observação de que muitos cristãos abandonam o Oriente Médio para migrar a países ocidentais também foram debatidos durante a visita. Com 1,5 milhão de refugiados do Iraque na Síria, esta nação de 20 milhões de habitantes fez mais do que nenhum outro Estado para abrigar aqueles que fugiram da violência que arrasava o vizinho do Leste. Historicamente, a Síria abriu suas fronteiras aos refugiados: ofereceu refúgio a meio milhão de palestinos e acolheu outros 200 mil libaneses durante a guerra de 2006.
Os refugiados que se encontraram em Damasco com os representantes das igrejas membros do CMI no Oriente Médio, dos Estados Unidos, do Paquistão, da Alemanha, da Austrália e da Suécia agradeceram à Síria e às igrejas do país por sua hospitalidade, embora tenham mencionado que a comunidade internacional lhes voltou às costas. “Claro que quero voltar ao meu país”, disse uma jovem de Basora. “Mas vocês podem garantir que não me matarão? Meus familiares voltaram e foram assassinados na primeira noite”, relatou.
“Não queremos que o Iraque fique sem cristãos, mas se estão em perigo ali, como podemos dizer para que fiquem?”, perguntou o patriarca da Igreja Ortodoxa Síria, Mor Ignatius Zakka I, nascido no Iraque.
O diretor de relações ecumênicas do Patriarcado Ortodoxo Grego, Samer Laham, explicou que os refugiados não podem voltar, porque seriam assassinados, mas também não podem ficar, porque é muito difícil encontrar um trabalho aqui. Eles estão ficando sem dinheiro por causa do aumento do custo de vida.
As instituições muçulmanas e as igrejas da Síria atendem aos refugiados pessoalmente. “Nós dissemos aos cristãos iraquianos (que queriam pedir asilo em países ocidentais): Por favor, não vão! Aqui fazeis parte de nossa família, ali não sereis mais do que números”, disse o Grande Muftí da República da Síria, Ahmad Badr Al-Din Hassoun, à delegação do CMI.
“A paz na Terra Santa é a chave para a maioria dos problemas da região”, afirmou o patriarca melquita católico grego, Gregorio III. “Cada crise provoca uma nova onda de migração, especialmente de cristãos, mas também de muçulmanos. Se querem manter a presença cristã no Oriente Médio, façam todo o possível para atingir a paz na Palestina/Israel”, instou Sua Beatitude Gregorio III, aos visitantes ecumênicos.
Durante a visita à Sheikh Ahmad Kuftaro Foundation, um centro islâmico dedicado à educação e aos estudos inter-religiosos, Kobia apresentou a Síria como “um bom modelo de como os crentes de diferentes religiões podem conviver enquanto povo criado por um único Deus”. As meninas da escola e do orfanato da fundação deram as boas-vindas à delegação ecumênica com canções de louvor ao “profeta Issa” (Jesus), aquele “que chama à paz e ao amor”.
A Síria foi o último dos três países de Oriente Médio visitados pela delegação do CMI. A viagem começou no dia 14 de abril com uma reunião pública de informação e debate sobre a migração em Beirute e incluiu uma curta estadia nos Emirados Árabes Unidos.
Embora a delegação tenha escutado as histórias aterradoras dos refugiados iraquianos, ela voltou para casa com uma mensagem de esperança. “Acredito nos atos de amor”, disse o patriarca Ignacio IV. “Pode ser que acolher as pessoas com amor não solucione todos os problemas imediatamente, mas a próxima geração recolherá os frutos desse amor”, agregou.
Fonte: ALC